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HQs, Charlie Kaufman e sexo lésbico: conheça universo do brasileiro "Zoom"

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Jason Priestley (Dale) e Mariana Ximenes (Michelle), em cena de "Zoom"
Imagem: Divulgação/Paris Filmes

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

18/09/2015 12h29

Imagine um filme que misture “Trainspotting”, “Waking Life” e o videoclipe de “Take on Me”, do A-ha. O elenco, dividido em três narrativas que ao mesmo tempo se complementam e se afastam, é internacional, incluindo os atores Gael García Bernal e Alison Pill.

Essa história não só existe como é dirigida por um brasileiro, Pedro Morelli, de apenas 29 anos (veja acima trecho divulgado em primeira mão pelo UOL).

Aplaudido nesta terça (15) no Festival Internacional de Toronto, “Zoom” nasceu há cinco anos e meio, numa parceria entre o produtor canadense Niv Fichman e a produtora O2 dobradinha que gerou “Ensaio Sobre a Cegueira” (2008), de Fernando Meireles.

No novo filme, são mostradas três histórias paralelas de artistas, com forte viés metalinguístico, que servem como crítica aos padrões de beleza contemporâneos.

Emma (Alison Pill) é uma insegura quadrinista que ama o cineasta Edward (Bernal), um sujeito vaidoso à frente de um filme sobre uma modelo brasileira (Mariana Ximenes), que queria mesmo era escrever um livro sobre uma... quadrinista.

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O diretor brasileiro Pedro Morelli apresentou seu filme "Zoom" no Festival de Toronto 2015, na última terça (15)
Imagem: Divulgação

Parece confuso, mas nem tanto. Filmados cada um à sua maneira estética, os personagens acabam contando ao espectador a trama vivida pelo outro. Como se todos estivessem em um grande gibi.

Chamam a atenção os 30 minutos do segmento de Bernal, criados inteiramente em animação, na clássica técnica da rotoscopia. O ator filmou todas as suas cenas separadamente, que foram redesenhadas quadro a quadro por uma equipe de 25 animadores.

Segundo Morelli, que estreou como diretor ao lado do pai, Paulo Morelli, no drama “Entre Nós”, o emaranhado multidimensional vem de suas influências do roteirista Charlie Kaufman, de “Quero ser John Malkovich” e “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”. E de uma bem-vinda carta branca oferecida por Niv Fichman.

“O ‘briefing’ dele foi muito, muito livre. Ele falou simplesmente para eu criar o que queria, sem fazer concessões nem tentar encaixar o filme num modelo, apenas para agradar. Pediu para eu ir na minha e 'pirar'. Criei a ideia, que foi roteirizada por um canadense”, conta Pedro ao UOL. “A brincadeira do filme é, na verdade, não ter uma unidade estética. A gente tem uma estética diferente para cada história. Cada uma com um look diferente.”

Apesar da complexidade da produção, o orçamento do filme é relativamente pequeno: R$ 5 milhões. Com participações de Claudia Ohana, Jason Priestley, Don McKellar, Tyler Labine, e Jennifer Irwin, foi rodado em Toronto, Trindade (RJ) e em São Paulo, com 90% das falas em inglês.

A ideia é projetar o filme internacionalmente. “A sessão no Festival de Toronto foi ótima. Passamos numa sala iMax, com uma tela gigantesca e o som, incrível. O público canadense pareceu gostar bastante. Houve muitas risadas na plateia. Muito boa a sensação de terminar um projeto e vê-lo ser bem acolhido pelo público”, conta o diretor.

Tal qual o polêmico “Love”, do argentino Gaspar Noé, também exibido na sessão Vanguard de Toronto, “Zoom” conta com cenas de sexo, protagonizadas por Mariana Ximenes e Claudia Ohana, que prometem dar o que falar.

Em entrevista recente à revista “Época”, Claudia afirmou que nunca havia sentido tanta vergonha na vida, com pedidos insistentes do diretor para que “tivesse pegada”.

“Essa cena a gente acabou filmando meio numa correria. Mas ficou bacana. Era mais uma coisa dela, de estar com um friozinho na barriga. À princípio não era o que eu queria, mas acabou ficando muito legal. O nervosismo jogou a nosso favor", revela Morelli, que, com o filme, espera "jogar" pelo cinema nacional.

"Já chegou a um padrão alto de qualidade nos nossos filmes. Já começamos a virar uma indústria, com público consolidado em comédias e em alguns filmes de ação. Acho que agora estamos perto de criar maturidade para começarmos a quebrar esse padrão."