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"007 contra Spectre" retoma elementos clássicos da série para modernizá-la

Roberto Sadovski

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/10/2015 13h21

Modernizar o passado é a estratégia de “007 contra Spectre” para evoluir a série James Bond. Com cinco décadas de história nas costas, o novo filme fecha um ciclo, amarrando o reboot que marcou a entrada de Daniel Craig como o novo Bond, ao fazer as pazes com os aspectos mais tradicionais das aventuras do espião no cinema.

Sob o comando de Sam Mendes, a mistura flui com agilidade, ainda reserva algumas surpresas e entrega um filme sólido e elegante, tudo que se espera da assinatura 007.

O único problema, claro, é que “Spectre”, que estreia na próxima quinta (5) no Brasil, chega sob a sombra, artística e financeira, de “Operação Skyfall”, que em 2012 alcançou a qualidade dos maiores clássicos de Bond, como “Goldfinger”, e faturou impressionantes US$ 1,1 bilhão em todo o mundo. A pressão é evidente, e cada fotograma, decisão de elenco, sequência de ação e multiplicidade de locações da nova aventura são calculados para superar seu antecessor. Quase consegue. Quase.

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Falta em “Spectre” o impacto emocional de “Skyfall”, que foi buscar combustível para esta volta ao passado de 007 no cinema nas origens secretas de seu protagonista. O risco era pessoal, e a humanização de Bond criou um laço mais sólido com a plateia.

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Em compensação, Mendes e sua equipe extremamente azeitada entregam um produto visualmente espetacular (saem os tons quentes do fotógrafo Roger Deakins, entra o clima mais frio e mais nervoso registrado pela lente de Hoyte Van Hoytema, de “Interestelar”), de início bombástico e conclusão explosiva, recheado por um roteiro que equilibra a jornada do espião pelo passado com uma ameaça ao mundo que retoma os esquemas mirabolantes dos vilões exagerados do passado.

Não é à toa que o maior trunfo de “Spectre” é justamente seu vilão, a organização criminosa que batiza o filme, ausente da filmografia de James Bond (por motivos de disputas de direitos autorais, resolvidas pouco antes do início da produção) desde “Os Diamantes São Eternos”, de 1971.

No roteiro, assinado a oito mãos, a Spectre surge como grande algoz de Bond, agindo nos bastidores de cada filme protagonizado por Craig, perdendo um membro cada vez que 007 elimina um novo vilão, de Le Chifre em “Cassino Royale” a Silva em “Skyfall”. “007 Contra Spectre” pretende, assim, amarrar absolutamente todas as arestas da carreira do astro como o espião. O que inclui o misterioso Mr. White (Jesper Chistensen), da organização criminosa Quantum, igualmente apresentado na estreia de Craig como 007.

Isso não acontece, claro, sem alguns percalços. Mesmo conferindo elegância à sua “Bond lady”, Monica Bellucci mal aparece em cena antes de ser ejetada por completo. Dave Bautista, impressionante como Drax em “Guardiões da Galáxia”, surge como um assassino grandalhão e silencioso, aos moldes do imortal Jaws (Richard Kiel em “O Espião Que Me Amava” e “O Foguete da Morte”), mas sua presença é mal aproveitada.

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Por outro lado, os novos jogadores introduzidos em “Skyfall” (Ralph Fiennes, Ben Whishaw e Naomi Harris) crescem no novo filme, sendo fundamentais na trama que vê o governo britânico, reduzido a um almofadinha burocrata (Andrew Scott), determinado a adentrar a modernidade, apostando em uma rede de informações mundial e aposentando de vez o programa de agentes com licença para matar.

Tudo existe, claro, para Christoph Waltz devorar o cenário como o cabeça da Spectre, que os fãs do Bond clássico não terão dificuldade em desvendar (dica, ele tem um gato peludo). Sua narrativa confunde-se com a de Bond, fazendo com que o novo filme seja uma trama de vingança embalada no conceito de que o passado, muitas vezes, recusa-se a permanecer enterrado.

Esta prerrogativa é apresentada de forma nada sutil na arrebatadora sequência pré-créditos, rodada na Cidade do México –o filme abre em um plano-sequência brilhante, que emenda uma sequência aérea tecnicamente perfeita e mostra, de cara, Bond como o “dinossauro misógino” apontado por M (Judi Dench) lá atrás, em “007 contra Goldeneye”, e também como o sujeito que não perde a classe em situações extremas. 

Toda a trama acaba se tornando secundária quando Waltz finalmente entra em cena, jogando por terra toda a sensação de controle que Craig exala como Bond. Com este “novo” vilão, o filme abraça, ainda que com tintas modernas, todo o exagero que a série celebrou desde sua concepção. A base secreta da Spectre (não é num vulcão, mas numa cratera criada por um meteorito); capangas que não servem para nada além de alvo das balas de Bond; o plano grandioso revelado ao herói por seu nêmesis arrogante –nêmesis esta que, em vez de rechear a empada de Bond com uma azeitona, opta por uma morte-sob-tortura eficiente como tubarões que disparam laser.

“007 contra Spectre” é uma assinatura da trajetória de Daniel Craig como o herói, reintroduzindo cada um de seus elementos clássicos com sabor de novidade. Ah, James, a gente não sabia o quanto sentia sua falta...

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