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Para equipe de "Spectre", não há espaço para criatividade em filmes de 007

James Cimino

Colaboração para o UOL, na Cidade do México

04/11/2015 15h48

"007 contra Spectre", novo filme do agente James Bond, que estreia no Brasil nesta quinta (5) tem sido saudado (ou criticado) por ser um retorno aos elementos clássicos do personagem, depois de três filmes que tratavam 007 com mais crueza e realismo.

Mas, se Pierce Brosnan e Roger Moore riam das peripécias absurda do agente, Daniel Craig, o mais conflituoso dos 007, não parece se encaixar na história que, segundo o diretor Sam Mendes disse à reportagem do UOL, pretendia ser mais “romântica e extravagante”.

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E o problema não está no ator, mas em quem produz o filme e dita o que deve e o que não deve ser a história. Já é o quarto filme em que Craig o interpreta assim e o resultado de pelo menos dois deles, “Cassino Royale” e “Skyfall”, foi sucesso de crítica e público. “Skyfall” --um filme de roteiro denso, dramático e extremamente pessoal--, é, inclusive, considerado por muitos o melhor da saga.

“Gosto do fato de que ele é uma pessoa cheia de falhas. Moralmente ele é bom, mas suas ações nem sempre são. Ele mata pessoas, afinal. Mas eu sempre tento fazê-lo um cara mais ou menos equilibrado”, disse Craig.

E enquanto a geopolítica planetária enfrenta um Estado Islâmico que toca literalmente o terror no mundo, os produtores resolveram ignorar os conflitos políticos e preferiram colocar James Bond às turras com o vingativo mentor de uma organização criminosa que tem ligações com o passado do agente.

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Sem processo criativo

Ainda que já esteja consolidado um cânone de elementos e referências que fazem de um filme de 007 um filme de 007, tanto o elenco quanto o diretor Sam Mendes são evasivos ao serem questionados sobre os clichês que não podem faltar em James Bond. Monica Belucci, por exemplo, quando questionada sobre o que uma Bond girl deveria ter, afirmou ter aceitado participar do filme “pela oportunidade de trabalhar com o diretor Sam Mendes e com Daniel Craig”.

Mas pelo menos dois dos integrantes do elenco jogaram a real da coisa: não existe modelo e não há muito espaço para criatividade, já que quem decide absolutamente tudo são os produtores —a saber Michael G. Wells e a todo-poderosa Barbara Broccoli, herdeira da franquia, que no fundo é a verdadeira M, embora nunca seja desobedecida pelo agente.

O primeiro a (não) falar disso foi o diretor. Questionado sobre o que o próximo James Bond deveria ter, caso Daniel Craig seja substituído no próximo capítulo da série, disse: “Não estou dirigindo a franquia. Estou dirigindo apenas esse filme. Então cabe as vocês da mídia especularem.”

Christoph Waltz, que entregou um vilão que, segundo as palavras de uma jornalista americana, mais parecia um “dentista maluco” que um terrorista, foi mais enfático quando questionado sobre o que fazia de seu personagem único e, ao mesmo tempo, característico do universo de 007.

“Não existe isso de criar um personagem único [nesta franquia]. Não tem como, inclusive, porque está tudo definido pelo que os roteiristas escreveram. E eles escrevem aquilo que o diretor e os produtores querem. Não há processo criativo. Eu apenas trabalho neste filme. E também não existe algo que caracteriza um vilão de 007, porque depende de cada personagem e de como ele serve à história.”

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Daniel Craig também relativizou a questão, dizendo que o que há de fascinante na série é o fato de que cada ator imprimiu um estilo ao personagem e que, caso seja substituído, espera que o próximo ator interprete Bond “totalmente diferente de mim”.

E mesmo quando o personagem é reinventado, como é o caso da Moneypenny de Naomi Harris, o pedido também vem de cima. “Quando fui chamada para esse papel, eles me pediram para reinventá-la totalmente. Fazê-la mais forte, mais capaz, inteligente, esperta, tanto quanto o Bond”, disse.

No entanto, Harris foi a única que definiu as características principais que o próximo intérprete, homem ou mulher, deve imprimir ao personagem. “Eu não acho que o que faz um James Bond incrível é seu gênero. O que faz um James Bond incrível é seu magnetismo sexual, sua agilidade em campo, esperteza, carisma, todas essas qualidades estão no pacote do 007. E se uma mulher for capaz de interpretar isso, por que não?”

Depois de tanta evasivas, a reportagem foi então direto à dona da bola para saber o que podemos esperar do 007 de número 25. Barbara Broccoli disse que, se depender dos produtores, Craig fica. Ela também descartou a ideia de trocar o gênero do personagem: “Daniel Craig é James Bond e não acho que ele vá querer interpretar esse personagem usando um vestido."

Até Craig, quando indagado se a cena do final do filme era uma despedida, disse: “Ele, como todo mundo, está procurando o amor. E acha que encontrou. Não acho que seja uma despedida.”

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