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Juliano Cazarré: Cena de sexo em "Boi Neon" é de empoderamento da mulher

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

13/01/2016 15h29

Atualmente na pele de Merlô na novela "A Regra do Jogo", da Globo, Juliano Cazarré poderá ser visto a partir desta quinta-feira (14), no cinema, no papel de um vaqueiro que sonha em ser estilista. "Boi Neon", filme de Gabriel Mascaro, já passou por mais de 30 festivais e vem sendo elogiado por trazer esse e outros personagens com uma certa dilatação de gênero, além de abordar a nudez masculina e o desejo da mulher grávida.

"Eu me apaixonei pelo roteiro e pelo personagem. Iremar é um cara complexo, misterioso. Tem sonho de ser costureiro e trabalha na vaquejada. Só isso já me deixou entusiasmado. Eu gosto muito de trabalhar opostos nos personagens. Ele ganha em mistério e interesse quando você bate o olho e não saca quem é logo de cara", diz Cazarré, ao UOL, durante um respiro entre as gravações da novela.

O ator diz que sempre escolhe personagens com essa dualidade, como Adauto, de "Avenida Brasil", o "gostosão burro", segundo ele, mas também muito amoroso e ingênuo. Com conflitos diferentes, MC Merlô também tem essa ambiguidade. Sempre protegido pela mãe e cercado de mulheres, o funkeiro passa por um momento de crise existencial e decide abandonar carreira e as namoradas. "Gosto de trabalhar com os opostos que aparentemente não combinariam".

Identidade de gênero

O filme também traz outra atriz de "A Regra do Jogo", Maeve Jinkings, que no filme faz o papel de Galega, uma mulher forte e apaixonada por caminhões. Também está no elenco Vinicius Oliveira, conhecido pela atuação em "Central do Brasil" e que aqui faz o papel de um vaqueiro vaidoso. 

Cazarré diz que teve um envolvimento maior com questões de gênero de um ano para cá. Em outubro de 2015, sua mulher, Letícia Cazarré, lançou uma revista de moda e convidou o marido para escrever um artigo sobre o assunto. "Foi uma questão que acompanhei de perto. A geração dos anos 2000 já está bem mais à frente nessas discussões de gênero. É um grupo que questiona a necessidade de se definir como homem ou mulher ou com quem vai se relacionar. É um assunto que está na ordem do dia e que precisa ser mais discutido".

Cena de sexo

No filme, há uma cena de sexo protagonizada por Cazarré e Samia de Lavor, que estava grávida de verdade durante as filmagens, um plano sequência de aproximadamente dez minutos. A dúvida sobre a veracidade da cena foi inevitável. "Não, não foi real, mas a ideia era parecer real. Foi uma cena que causou muita preocupação, conversamos bastante sobre ela e ficou delicado, mas o que eu acho mais legal é que é uma cena de empoderamento feminino. Ela escolhe o cara, vai atrás dele, dá um presente, o convida até seu trabalho, leva ele para um canto e 'come' ele. Pouquíssimos filmes exploram isso, ainda mais quando o cara não é o pai da criança".

Por se aproximar mais das questões de gênero, o ator fala da importância de uma cena como essa. "Acho que a gente tem que dar mais espaço para as mulheres, ouvir mais a opinião delas. A gente tem que tirar nosso cavalinho da chuva e dar mais atenção a elas". Cazarré defende a nudez de seu personagem. "O cinema brasileiro ainda é muito machista. Acho que o cinema mundial ainda é. A atriz é bonita, aí já aparece com pouca roupa, de lingerie. Com o homem isso é mais difícil, é uma camisa aberta, uma barriga de fora e só".

Apesar de a discussão de gênero vir forte em "Boi Neon", Cazarré diz que a TV também acompanha esse movimento e acredita que a Globo encontrou o bom jeito de tratar assuntos mais polêmicos, ao firmar na grade a novela nas 23h. "Há espaço para a discussão, a discussão está aberta. O que não pode ter é covardia por parte dos produtores, achar que estão sendo julgados. Acho que a gente tem que continuar fazendo o que a gente quer".