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4 motivos para "O Filho de Saul" ser favorito ao Oscar de filme estrangeiro

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

04/02/2016 14h02

"A Lista de Schindler", "O Pianista", "A Vida é Bela", "O Diário de Anne Frank". Os horrores da Segunda Guerra já foram contados sob diversos ângulos, com diversas cores desde os anos 50. Então, o que explica um diretor estreante, László Nemes, de 38 anos, húngaro, se debruçar sobre o tema mais uma vez e se tornar o favorito a levar a estatueta de melhor filme estrangeiro em 2016? Há pelo menos quatro bons motivos para isso, mas você pode encontrar outros ou discordar da teoria já que o longa "O Filho de Saul" chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (4).

É uma história universal
O longa percorre um dia e meio da vida de Saul Ausländer (Géza Röhrig), um membro do Sonderkommando, como eram chamados os judeus obrigados a encaminhar outros judeus para a câmara de gás, recolher todos seus pertences valiosos e, depois da morte deles, limpar o local.

Em mais um dia do trabalho atroz, feito pelos jovens e saudáveis, Saul se depara com um jovem que acredita ser seu filho. O novo prisioneiro sobrevive após a câmara de gás, mas é executado em seguida. A partir disso, Saul cria um objetivo de vida ao ter que resgatar o corpo, encontrar um rabino e enterrar o jovem com decência. A questão em jogo é reencontrar nem que seja um fio de dignidade quando todo o resto, até sua vida, já lhe foi tirado. Por isso, não importa nacionalidade, idade, etnia, o filme encontra e fisga seu espectador. 

Espectador dentro da cena
Apesar do tema antigo, o filme ganha frescor pela maneira como o diretor decidiu captura-lo. Ele optou por um formato de tela reduzido, o que de cara já causa claustrofobia no espectador. A câmera na mão fica o tempo todo grudada no rosto ou nas costas do protagonista. É como participar de um videogame macabro em que o espectador não tem alternativa a não ser ver tudo pelos olhos daquele homem de rosto pálido e praticamente sem sentimentos.

Ao limitar o enquadramento, o horror que se passa naquele local de trabalho, em que pessoas são desnudas e seus corpos arrastados de um lado para o outro, não é escancarado. Ele está sempre na borda da imagem, fora de foco e na imaginação de quem vê, o que pode fazer com que o horror seja ainda maior.

É sobre o Holocausto
O perfil da esmagadora maioria dos votantes da Academia é homem, branco e com mais de 60 anos. Uma história de Segunda Guerra sempre pega bem por ali. "A Lista de Schindler", por exemplo, saiu do Oscar com nada menos que sete estatuetas, das 12 indicações que levou. O italiano "A Vida é Bela" levou três: estrangeiro, melhor música e ator para Roberto Benigni, que protagonizou, escreveu e dirigiu o longa.

Premiado em Cannes e Globo de Ouro
Não que a Academia costume seguir tendências porque há sempre uma surpresa pelo caminho, mas "O Filho de Saul" vem papando muitos prêmios por onde passa, principalmente os da crítica, como em Cannes, Estados Unidos, além do Globo de Ouro.

Na Mostra de SP, em outubro de 2015, o filme também foi sensação entre o público, com sessões esgotadas dias antes da exibição. A crítica, no entanto, não é unânime. A tradicional Cahiers du Cinéma deu uma de quatro estrelas para o longa, também reprovado pelo crítico Sergio Alprendre, da "Folha de S.Paulo".

"O Filho de Saul" concorre com o colombiano "O Abraço da Serpente", sobre a visão indígena da Floresta Amazônica, o franco-turco "Cinco Graças", sobre adolescentes vivendo as dificuldades da religião muçulmana e ainda o dinamarquês "A War" e o jornaniano "Theeb".