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"Estou feliz que a loucura esteja na tela", diz Glória Pires sobre "Nise"

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

12/04/2016 16h09

A linha tênue entre a loucura e a genialidade invade a tela em "Nise - O Coração da Loucura", filme que estreia na próxima semana no Brasil. Não se trata de uma cinebiografia da renomada psiquiatra brasileira Nise da Silveira (1905-1999), interpretada por Glória Pires. O foco do filme de Roberto Berliner é o florescimento da sua abordagem revolucionária. Aluna de Carl Jung, Nise usou a arte para tratar pacientes considerados incompreensíveis em um hospital psiquiátrico no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.

Dadas as devidas ressalvas, a função do ator passa próximo das famosas imagens do inconsciente que Nise defendia. "Em alguns trabalhos você vai em um túnel sem fim", contou Glória, em encontro com jornalistas nesta terça-feira (12) em São Paulo. "Estou feliz que essa loucura esteja na tela", disse ela sobre o filme, que já passou por festivais internacionais e arrecadou prêmios, inclusive no 28º Festival de Tóquio, em 2015.

A imersão no trabalho da psiquiatra e na reconstrução do hospital, onde se passa quase a totalidade da história, fez Glória chegar a um certo limite. "Teve momentos em que eu também achava que ia a alguns lugares e que eu não ia voltar. Era exaustivo. Sou sistemática, então antes de dormir precisava dar uma olhada no que eu ia fazer no dia seguinte. Surgia dúvidas, eu pegava o livro "Imagens do Inconsciente", da doutora Nise, e falava para mim: 'Calma, que eu quero descer'", explicou a atriz.

Um grupo de teatro formado por esquizofrênicos da instituição participa do filme, enquanto outros são vividos por Fabrício Boliveira, Cláudio Jaborandy, Flávio Bauraqui, Bernardo Marinho e Simone Mazzer. "Todo mundo tem algo que quer sair fora do padrão. Qual o limite disso e das pessoas que estão ali?", questionou Boliveira.

O ator decidiu experimentar um processo para viver o paciente Fernando. Deixava o sono chegar e, quando estava prestes a dormir, levantava para ir gravar. O resultado, além de dar ao personagem um estado de entorpecimento, levou o ator a experimentar sensações novas. "Em algum momento, eu percebi que estava com um pensamento, que não conseguia colocar aquilo para fora. Peguei minhas coisas e deixei a gravação. Porque eu não sabia se alguém estaria lá comigo, para desenvolver aquele pensamento".

Segundo o diretor, é provável que hoje em dia Nise estivesse assustada com a face violenta da polarização política nas ruas. "Ainda hoje, no Brasil de hoje de contrainformação, a Nise estaria bastante assustada com isso, principalmente com a falta de afeto", observou Berliner.