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"Não vai ter presidente Trump", diz George Clooney em Cannes

Thiago Stivaletti

Colaboração para o UOL, de Cannes

12/05/2016 09h46

Hollywood dominou o dia em Cannes. Não é todo dia que Julia Roberts, George Clooney e Jodie Foster aparecem juntos para apresentar um só filme, “Jogo do Dinheiro”, quarto longa de Jodie como diretora, que estreia daqui a duas semanas no Brasil, no próximo dia 26.

Ela é uma queridinha do festival desde que apareceu como a jovem prostituta de “Taxi Driver”, vencedor da Palma de Ouro há exatos 40 anos. O novo filme foi bastante aplaudido na sessão de imprensa.

Clooney tomou a frente na coletiva para atacar o candidato mais odiado do momento, ao menos nos Estados Unidos. “Vamos começar pelo mais simples: Não vai ter um presidente Trump. O medo não é o sentimento que vai governar o nosso país. Nem o medo por muçulmanos, ou imigrantes, ou mulheres”, declarou.

“Trump é o resultado do fato de que a mídia não achou respostas para muitas perguntas. Seria diferente se a gente se informasse um pouco melhor. Mas perdemos a habilidade de contar os fatos”, afirmou. “Este filme mostra a evolução de um certo cruzamento perigoso entre notícias e entretenimento na nossa sociedade”.

Jodie fez um thriller quase de ação em cima do mundo meio real meio fantasioso do mercado de ações. Clooney vive Lee Gates, apresentador de um tipo de programa popular na TV americana, o tal “Money Monster” do título em inglês, que dá dicas de ações baratas com promessa de alta para o telespectador. Julia Roberts é Patty, a diretora do programa.

Um dia, um zé-ninguém invade o estúdio e faz Gates de refém com uma arma e um detonador. Está enfurecido porque apostou todas as suas economias, US$ 60 mil, numa dica do programa e perdeu tudo. Uma mistura de “Um Dia de Cão” com Al Pacino e “Rede de Intrigas”, com Faye Dunaway.

É daquelas histórias cheias de pequenos buracos no roteiro, e o espectador precisa ter muita fé para acreditar em certos absurdos: o sequestrador consegue levar Gates para as ruas de Nova York na ponta da arma e não ser rendido nunca pela polícia; em outra cena, um produtor consegue, no meio da confusão na rua, jogar de volta a Gates o ponto eletrônico que o permite falar com Patty.

E o filme realiza o sonho do cidadão de esquerda, com o empresário tubarão admitindo em cadeia nacional que fraudou e lesou milhares de pobres acionistas. Mas é preciso dar o braço a torcer: Foster segura bem a ação e a tensão do começo ao fim, sem deixar a bola cair, o que não é pouco. É cem vezes melhor do que seu último filme na direção, também exibido em Cannes, “Um Novo Despertar”, em que Mel Gibson conversava com um fantoche de castor em sua mão (???).

Julia Roberts estreia em Cannes

Descontraída e sempre fazendo jus a “Uma Linda Mulher”, Julia Roberts curte a sua primeira vinda ao festival. “Isso aqui é muito louco, mas maravilhoso também. Confesso que estou um pouco assustada com tudo isso.”

Ela diz que, ao contrário dos colegas atores-diretores, não tem vontade de dirigir um filme. “Conheço as minhas limitações intelectuais, e também os limites da minha paciência. Não consigo ter mais de quatro pessoas por hora me fazendo perguntas”, brincou. “É como tocar violoncelo ou pintar: coisas que eu invejo, mas não vou fazer nesta vida”.

Jodie Foster relembrou sua passagem por Cannes há 40 anos, com “Taxi Driver”. “Era tudo muito mais caótico, não havia bloqueios para os fotógrafos nem nada. O tapete vermelho não ficava no Palais, mas lá no Hotel Carlton. Eu nunca tinha feito filmes sérios, então foi o começo da minha vida de atriz. Mas voltar como diretora é muito melhor. Este é o lugar do cinema de autor.”

Para ela, “Jogo do Dinheiro” se filia ao cinema mais político e social que Hollywood fazia nos anos 1970. “Esses filmes não são mais feitos. As pessoas ainda querem filmes que as façam pensar, refletir, e não manipulá-las. Não é preciso escolher entre filme comercial e filme inteligente. Dá para ser os dois ao mesmo tempo”, defendeu.

Para Clooney, seu apresentador de TV arrogante lembra os personagens que faz em filmes dos irmãos Coen, como “Ave, César!” ou “E aí, Meu Irmão, Cadê Você?”. “Gates se acha o cara mais esperto da sala, até que descobre que é o mais burro”, definiu.