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Conheço bem histórias sobre fim do mundo, diz vilão de "X-Men: Apocalipse"

Isaac - Divulgação/Vanity Fair - Divulgação/Vanity Fair
Oscar Isaac como o piloto rebelde Poe Dameron de "Star Wars: O Despertar da Força"
Imagem: Divulgação/Vanity Fair

Eduardo Graça

Colaboração para o UOL, em Austin (EUA)

20/05/2016 06h00

Intervalo das filmagens do novo “Star Wars” em Londres. Oscar Isaac corre para o telefone e avisa que tem pouco de mais dez minutos para conversar com o UOL sobre “X-Men: Apocalipse”, o sexto filme da franquia (se não contados os três spin-offs, de “Wolverine” e “Deadpool”), cujo personagem-título é vivido pelo ator americano de origem guatemalteca e chega nesta quinta-feira (19) aos cinemas brasileiros.

Aos 37 anos, Oscar Isaac Hernández vive na franquia dos mutantes mais poderosos do mundo um de seus super-vilões mais emblemáticos, que volta à vida no fim dos anos 1980 depois de passar milênios desacordado, mais precisamente desde o Egito dos faraós. No filme, dirigido por Bryan Singer, Apocalipse recruta seus quatro cavaleiros –em imagem semelhante à da Bíblia– entre os mutantes contemporâneos: Magneto (Michael Fassbender), Anjo (Ben Hardy), Psylocke (Olivia Munn) e uma jovem mas já poderosa Tempestade (Alexandra Shipp). O resultado é uma batalha épica com os novos recrutas de Charlie Xavier (James McAvoy), que terminará dando resultado a uma nova formação dos X-Men.

Na conversa com o UOL, Isaac conta como sua formação cristã o fez se interessar pelo vilão Apocalipse e revela também novidades sobre o oitavo tomo de “Star Wars”, que, segundo ele, será "mais frio, mais soturno", e colocará os personagens à prova.

Eu conheço bem histórias sobre o fim do mundo, minha família é cristã evangélica. O “Apocalipse” de São João, na Bíblia, sempre me aterrorizou, as imagens são insanas, são alucinógenas.
Oscar Isaac, sobre seu vilão em "X-Men: Apocalipse"

UOL - Qual foi sua reação ao saber que o diretor Bryan Singer o queria para viver o Apocalipse?
Oscar Isaac - Eu conheço bem histórias sobre o fim do mundo, minha família é cristã evangélica. A ideia do julgamento final é muito clara para mim, algumas almas serão salvas, outras não. O “Apocalipse” de São João, na Bíblia, sempre me aterrorizou, as imagens são insanas, são alucinógenas. Ou seja, adorei a ideia (risos).

Só então você leu o roteiro...
Na verdade, li primeiro os gibis, quis ir atrás do vilão mesmo das HQs. E vi que ele era, de certa forma, a personificação do apocalipse bíblico, com os quatro cavaleiros (Magneto, Anjo, uma jovem Tempestade e Psylocke) e tudo o mais. Achei assustador e super legal. Meu foco foi na origem dele, na ideia por detrás do personagem, lá no fim dos anos 1980. Aí fui para os desenhos animados e o roteiro, onde me reencontrei com o aspecto bíblico dele. Gosto da ideia de que Deus um dia possa acordar de um sono profundo e retornar para julgar o mundo, é uma imagem poderosa para se representar.

Ele é, também, muito provavelmente, o primeiro mutante...
Sim, porque, claro, quem se apresenta como Deus é ele mesmo, daí a ser aceito e a de fato pensarmos nele como um ser superior são outros quinhentos. Ele é um mutante, é uma explicação das religiões via ficção científica. Imagine que esta criatura, quem sabe um dos últimos homens de Neandertal, tenha o poder de separar sua mente de seu corpo. É seu poder mutante. É, também, a ideia da separação alma-corpo --presente no budismo, cristianismo, islamismo--, personificada, de uma forma mais alegórica, nele. Ele pode mudar de corpos, é uma espécie de protetor das almas no Egito Antigo. Mas quando as coisas complicam para ele, a saída é uma só: simplesmente destruir civilizações inteiras.

Você gostou do visual dele?
Ah, é uma coisa, né? Ele parece meio alienígena. Há um traje que ele usa e o protege. E a pele dele vai mudando, azul, cinza, depende do momento dele e das transferências de um corpo para o outro. Antes de ele acordar nos anos 1980, a última vez que ele teve algum poder foi no Antigo Egito, então você vê as características da indumentária daquela época nele também.

O visual agora vai ser diferente. Talvez mais frio, mais soturno, mas igualmente interessante. As coisas, para todos nós, não apenas para o Poe (Dameron, o piloto interpretado por Isaac), começam a dar errado, a dar muito errado. Todos os 'heróis' do filme serão testados neste episódio. Testes de sobrevivência mesmo, que gerarão muitos conflitos.
Oscar Isaac, sobre "Star Wars: Episódio VIII"

Você está neste momento filmando o novo “Star Wars” aí em Londres. Como é Rian Johnson (de “Looper”), o novo diretor, e o que você pode contar sobre o filme?
Rian é interessantíssimo. Ele trabalha como se fosse um músico de jazz da era de ouro da Costa Oeste dos EUA. É de uma precisão impressionante, mas com uma mente imaginativa ao máximo. Visualmente... huuum... J.J. Abrams colocou os parâmetros lá em cima, né? Pois o visual agora vai ser diferente e é tudo o que eu posso dizer. Diferente, talvez mais frio, mais soturno, mas igualmente interessante. As coisas, para todos nós, não apenas para o Poe (Dameron, o piloto interpretado por Isaac), começam a dar errado, a dar muito errado. Mas Rian é uma espécie de engenheiro-diretor, ele consegue pegar todas as peças do quebra-cabeças e fazer o edifício dele. Já estou falando demais, mas também posso dizer que todos os ‘heróis’ do filme serão testados neste episódio. Testes de sobrevivência mesmo, que gerarão muitos conflitos. Ele é ótimo.

São prazeres muito diferentes encarnar personagens de fantasia, como em “X-Men” e “Star Wars”, e mais realistas, como o Llewyn Davis de “Balada de Um Homem Comum”, dos irmãos Coen, ou mesmo o prefeito Nick Wasicko da série televisiva da HBO “Show me a Hero”, que lhe garantiu um Globo de Ouro...
Mesmo o mais realista dos personagens exige do ator o uso da imaginação. Eles são todos mundos inventados, mesmo que o cenário, a plausibilidade, os elementos, sejam mais parecidos com os de nosso dia a dia. Até mesmo o que foi baseado em fatos. Tudo, no fim, no mundo da interpretação, é invenção. Às vezes fica mais complicado para o ator quando você precisa encontrar outros modos de interpretar que não o naturalismo, mas é possível até, nesta busca, descobrir novas maneiras de se expressar, bebendo de coisas tão aparentemente distantes de Hollywood, por exemplo, como tragédias gregas ou o teatro kabuki.

Você aprendeu algo sobre política com Nick Wasicko?
Sem dúvida. Você termina aquela série, especialmente se encarnou aquele jovem político de uma prefeitura de Nova Jersey, com a certeza do quão difícil se é concretizar qualquer ideia, qualquer plano, qualquer proposta, em nossos sistemas políticos, especialmente em cargos executivos. Fica palpável o quão difícil é, hoje em dia, liderar, se tornar um líder de fato, no melhor sentido da palavra, uma liderança política. Um líder capaz de dizer para a maioria dos eleitores, dos cidadãos, mesmo os que os elegeram, que, em determinados aspectos, eles estão errados, a maioria está errada. Como ir de encontro ao consenso da maioria, mesmo sabendo que você está certo, moralmente, eticamente, se serão eles os responsáveis pela sua continuação no poder? Seu objetivo, como líder, é, afinal, apenas se manter no poder? Fica a ideia de que o processo democrático hoje em dia deixa o medo superar a sabedoria e o crescimento de todos nós. Foi um personagem que me fez pensar muito.