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O dia em que Harrison Ford curtiu um Baile do Havaí no interior do Rio

O ator Harrison Ford em 1996 em Quatis (RJ) e em 1994 no filme "Perigo Real e Imediato" - Julinho Marassi/Arquivo Pessoal/Divulgação
O ator Harrison Ford em 1996 em Quatis (RJ) e em 1994 no filme "Perigo Real e Imediato" Imagem: Julinho Marassi/Arquivo Pessoal/Divulgação

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em São Paulo

27/05/2016 07h00

Pouca gente sabe que há 20 anos, no dia 6 de abril de 1996, o ator hollywoodiano Harrison Ford curtiu um Baile do Havaí na casa noturna Appaloosa, na minúscula cidade de Quatis, de 13 mil habitantes, a 145 km do Rio de Janeiro. 

Com o passar dos anos, a história ganhou ares de lenda e se não fosse por uma única foto feita do artista, ninguém acreditaria na visita. O responsável pela foto foi o cantor Julinho Marassi, sócio do Appaloosa.

Ford estava no Brasil hospedado na casa de seu primo, dono de um sex-shop que fornecia materiais para um motel de Barra Mansa, cidade vizinha de Quatis. O ator estava buscando um local para se divertir longe do Rio de Janeiro, onde seria facilmente reconhecido, e pediu sugestões ao primo.

“Eu estava em um churrasco e o primo do Harrison Ford também estava lá. Ele me pediu um lugar para se divertir com o ator. Eu não acreditei e de brincadeira falei para ir lá na boate”, lembra Julinho.

Gutemberg, outro sócio da casa noturna e que também estava no churrasco, conta que na hora não entendeu a conversa e achou que eles estavam falando do ator Eri Johnson. “Eu já estava achando bom um ator da Globo ir na nossa boate. Imagine o susto que tive quando vi que era o Indiana Jones?”, recorda.

"Achei que eles estavam falando do ator Eri Johnson. Imagine o susto que tive quando vi que era o Indiana Jones?"

Gutemberg, sócio da casa noturna

O Appaloosa era a principal casa noturna da região e os sócios da balada, Julinho Marassi e Gutemberg, também tocavam música ao vivo no lugar. Anos depois, a boate cresceu tanto que chegou a receber em apenas uma noite mais gente do que toda a população da cidade.

No dia da visita de Harrison Ford a atração do Baile do Havaí foi o show da dupla Julinho Marassi & Gutemberg. “Estávamos no palco quando, de repente, passa um homem alto, branco, com uma camisa estampada e um colar de flores, acompanhado de uma linda morena”, lembra Julinho. “Nós ficamos pensando: ‘será que é ele mesmo?’”.

Pina colada e caipirinha

Gutemberg recorda que Harrison Ford dançou muito, pediu pina colada e caipirinha. O primo alemão bebeu uísque. Os cantores não tocaram nada de especial para o astro hollywoodiano, mas se lembram que o repertório teve muito axé, MPB e samba-enredo.

A dupla só não sabe o que Harrison Ford tanto conversava com a tal morena, já que a única pessoa que falava inglês na mesa era o primo do ator. “Mas eles pareciam estar se divertindo”, diz Julinho.

A dupla Julinho Marassi & Gutemberg que toca MPB - Divulgação - Divulgação
A dupla Julinho Marassi & Gutemberg
Imagem: Divulgação
Harrison Ford não foi importunado por quase nenhum fã. O representante comercial Mario Jorge Canoza Caldeira, que na época tinha 21 anos, foi o único a reconhecê-lo e, inadvertidamente, também o responsável pela saída antecipada do ator da casa noturna.

“Eu já tinha morado nos Estados Unidos onde fiquei fã de ‘Guerra nas Estrelas’. Cheguei perto dele e perguntei em inglês: ‘Você é quem eu estou pensando?’. Ele deu um sorriso e desconversou”, lembra Caldeira. “Depois eu disse que ele era o herói da minha infância. Ele me cumprimentou e contou que estava com uns amigos”.

Foi neste momento que o DJ da casa, o Chiquinho, percebeu o burburinho e melou a diversão do astro. Gutemberg lembra que Chiquinho parou a música e todo empolgado berrou no microfone meio em inglês, meio em português: “Queria agradecer a presença do astro internacional Harrison Ford que veio nos prestigiar aqui em Quatis”. Uma multidão cercou o ator e ele teve de deixar o lugar.

Durante anos, a foto de Harrison Ford ficou pendurada em uma das paredes da casa noturna motivando as mais diferentes histórias sobre aquele dia. Tempos depois era comum encontrar por lá pessoas que juravam de pé junto que viram o Harrison Ford, mesmo sendo menores de idade na ocasião.

No dia 2 de abril deste ano, dias antes da fatídica visita de Harrison Ford completar 20 anos, os proprietários decidiram encerrar as atividades da casa noturna. "O movimento foi diminuindo e recentemente não estávamos mais conseguindo mantê-la", lamentou Julinho.