Filme sobre lutador José Aldo prova que ação pode "salvar" cinema nacional
A duradoura hegemonia das "comédias Globo Filmes” pode estar escondendo um pequeno mas importante fenômeno do cinema nacional. Antes sinônimos de produções capengas e entalados americanos dos anos 1980, os filmes de ação brasileiros cresceram na última década em quantidade e qualidade, adaptando à nossa realidade uma linguagem explosiva de lutas, algum suspense e extrema velocidade narrativa.
A reboque da franquia “Tropa de Elite” (2007/2010), que trouxe títulos de acuro técnico exemplar como “2 Coelhos” (2012), “Alemão” (2014) e “Operações Especiais” (2015), o gênero conta agora com mais um representante, tendo o esporte como pano de fundo. “Mais Forte que o Mundo”, cinebiografia do lutador de MMA José Aldo, entra em cartaz nesta quinta-feira (16) em 400 salas pelo Brasil.
O longa é dirigido por Afonso Poyart, com os atores Cléo Pires, Milhem Cortaz e José Loreto, que vive um perturbado protagonista. Antes ganhar o mundo e o cinturão de campeão mundial de peso pena, o aspirante a vencedor precisa domar seu comportamento intempestivo enquanto encara velhos fantasmas. Em especial os do pai, alcoólatra e violento.
Eu não penso em gêneros. Faço filme para o público, para que as pessoas gostem de ver."
Afonso Poyart, diretor de "Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo"
Com cenas quase reais, atuações convincentes e personagens de motivações bem definidas, o filme é um dos melhores produtos de ação já lançados no país. Trata-se de uma história de redenção cuja principal presunção é falar para o público mais amplo possível, algo imprescindível para longas do estilo.
“Mas eu não penso em gêneros. Faço filme para o público, para que as pessoas gostem de ver”, diz ao UOL Poyart, que dirigiu o elogiado “2 Coelhos”, recheado de efeitos visuais e referências à cultura pop, e o suspense hollywoodiano “Presságios de Um Crime” (2015), estrelado por Anthony Hopkins e Colin Farrell.
Alheio a rótulos, Poyart afirma ser impossível saber se a ação um dia será capaz competir em popularidade com as comédias no Brasil. O caminho, no entanto, já está pavimentado. Atualmente já há competência, formatos e uma escola de atuação. O desafio ainda é o investimento. Esse é um tipo de cinema técnico e caro, praticamente proibitivo para estúdios independentes.
Com custos em R$ 6,5 milhões --em parte verba de incentivo da Ancine (Agência Nacional do Cinema)--, a produção de “Mais Forte que o Mundo” precisou adaptar locações para não estourar o orçamento. A Manaus natal de José Aldo, por exemplo, foi reproduzida nas telas a partir de filmagens na periferia de São Paulo e em Santos, litoral do Estado.
Em Las Vegas, cenário de uma das lutas do personagem, a equipe viajou reduzida ao mínimo necessário, com o próprio diretor operando câmera e equipamentos. "Essa é a nossa realidade, infelizmente. E o cinema vai aonde o cinema cabe. Se o dinheiro cabe ali, a gente vai ali."
Primeiro filme brasileiro sobre MMA
Segundo Poyart, a proposta para produzir “Mais Forte que o Mundo" partiu da produtora Paris Filmes. De carona nos holofotes do esporte, a distribuidora queria o primeiro filme brasileiro sobre MMA, com apoio do UFC (Ultimate Fighting Championship), empresa americana que promove as lutas.
Neófito no assunto, o cineasta recorreu ao Google para saber um pouco mais sobre os brasileiros que são ídolos no mundo. Parou em Aldo. “Quando li sobre a vida dele, me apaixonei pela história. Depois de conhecê-lo, mais ainda. É uma pessoa admirável. Mas o fato é que nunca me interessei em fazer um filme sobre luta. Simplesmente aconteceu", diz o cineasta, sócio da produtora Black Maria.
A inspiração foram as realistas cenas de combate de "Warrior - Combate Entre Irmãos" (2011) e "Operação Invasão" (2011). Ainda assim, o diretor não vê regras rígidas para se produzir uma boa trama de ação. O recomendável é mesclar elementos. No caso do filme de José Aldo, ele equilibrou às lutas doses de aventura, drama e romance.
“Mas o principal é a história de pai e filho. Não sou de fazer filmes pequenos, delicados. Para mim, um filme precisa sempre ser sobre uma pessoa. De preferência, contendo uma catarse de um personagem que evolui ao longo da história”, afirma Poyart, que tem planos de distribuir o longa no exterior até o ano que vem, via festivais. "Já temos interessados."
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