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"Invocação do Mal" brasileiro: "O Caseiro" faz suspense sem susto gratuito

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

28/06/2016 14h55

Há uma casa erma e mal-assombrada. Um caça-fantasmas cético que acaba convencido de que a ameaça é real. Uma criança misteriosa, dona de uma boneca assustadora e de estranhos poderes. Clássicos, todos esses elementos podem ser encontrados na série "Invocação do Mal" e, agora, também em "O Caseiro", mais recente exemplar nacional do gênero suspense.

Dirigido pelo novato Julio Santi, o filme acompanha o professor de psicologia Davi (Bruno Garcia), um estudioso que decide ajudar uma família a desvendar fenômenos paranormais em um sítio onde um antigo funcionário havia morrido. Apesar das inegáveis semelhanças com a história do diretor James Wan, a trama nacional se desenvolve intercalando pequenos acontecimentos que, aos poucos, ganham grande proporção. É a estratégia do suspense clássico: menos sustos e mais sugestões.

Segundos os produtores, que dizem não se incomodar com as comparações, o filme estaria estaria mais para a linhagem psicológica de "O Sexto Sentido", "Os Suspeitos" e "Revelação". "Há inúmeros filmes com boneca e casa mal-assombrada. Não foi algo que começou com 'Invocação do Mal'", diz ao UOL Santi, que vê a crítica mais exigente com ele, que está começando, do que com diretores já com certa estrada.

O cineasta Julio Santi, 29 - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
O cineasta Julio Santi, 29
Imagem: Reprodução/Facebook

Buscar a originalidade fugindo de elementos clássicos do terror era uma alternativa (que Santi, inclusive, promete evitar no próximo trabalho), mas há uma importante ressalva: poderia criar rejeição entre o público deste tipo de filme, ainda pouco explorado no país. "Até hoje não acho que uma boneca seja um clichê. Boneca está no imaginário popular. Toda menina tem uma. É um clichê porque todo mundo usou? 'Invocacão do Mal 2', então, está cheio deles, e ninguém fala sobre isso."

No que pesa as comparações com o filme de James Wan, há algo, no entanto, que foi assumidamente feito de caso pensado. Lançar "O Caseiro" na última quinta-feira (23), duas semanas após o longa norte-americano chegar às telas brasileiras, é uma forma de angariar parte do interesse criado nas plateias.

Limitado ao circuito de "filme de gênero", "O Caseiro" estreou em apenas 61 salas de cinema no Brasil, contra 782 de "Invocação do Mal 2". Ainda assim, a história desenvolvida por Santi e pelo produtor João Segall conseguiu entrar no top 10 de bilheterias do fim de semana no país, com pouco menos de 5.000 espectadores.

Com orçamento enxuto, cerca de R$ 1,6 milhão, ambos precisaram fazer parte do elenco de apoio do filme. A crítica, no geral, aceitou bem a produção, com notas variando entre 60% e 70% de aprovação. "Eu não gosto de falar que o público brasileiro tem preconceito com suspense ou terror. Acho que se você der uma chance, ele também vai gostar. Acho que a gente, o realizador, precisa ter mais maturidade e cuidado para escolher nossos projetos, de contar histórias que as pessoas realmente gostem de ver", entende João Segall.

Roteiro feito "por esporte"

Segundo os cineastas, a ideia do filme partiu de um argumento escrito "por esporte" pelos irmãos Julio e Felipe Santi, sem grandes pretensões de filmar. Bateram de porta em porta e levaram alguns nãos até chegar à produtora Rita Buzzar, que apostou no projeto.

"O Julio entrou em contato dizendo que tinha um roteiro de suspense, que queria muito que eu fizesse. Achei interessante. Porque são raros os diretores que me procuram sem me conhecer para fazer trabalhos que não sejam de comédia. Eu me encantei pelo roteiro", diz o ator Bruno Garcia.

No filme, ele contracena com Malu Rodrigues, Denise Weinberg e Leopoldo Pacheco. "Apesar de você identificar certas ideias, eu acho que é um filme bem original de suspense psicológico, com características bem brasileiras. As pessoas ficam tensas com ele. Aparentemente não acontece nada, mas você o tempo todo na expectativa de acontecer."