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Odeia o politicamente correto? Filme do Porta dos Fundos também; entenda

Do UOL, em São Paulo

30/06/2016 06h00

Primeira investida cinematográfica do grupo humorístico Porta dos Fundos, o longa "Contrato Vitalício" estreia nesta quinta-feira (30) quase como um ataque explícito ao chamado politicamente correto.

O filme dirigido por Ian SBF satiriza o mundo do cinema e, principalmente, o das celebridades, sem qualquer vergonha de tocar em temas polêmicos.

"Contrato Vitalício" tem um forte toque de produção trash e, ainda que não fale diretamente sobre política, pode ser considerada extremamente ofensiva para certas pessoas ou grupos sociais.

ALERTA DE SPOILER: NÃO CONTINUE LENDO SE NÃO QUISER SABER DETALHES DE "CONTRATO VITALÍCIO"

Cena do filme "Porta dos Fundos - Contrato Vitalício" - Rachel Tanugi Ribas/Divulgação - Rachel Tanugi Ribas/Divulgação
Imagem: Rachel Tanugi Ribas/Divulgação

Escatologia

"Contrato Vitalício" conta a história de Miguel (Gregório Duvivier), um premiado cineasta que desaparece por dez anos, supostamente sequestrado por "ETs do centro da Terra". De volta ao mundo, ele decide contar essa história bizarra em um filme, mostrando com detalhes o cativeiro dos aliens, onde teria sido submetido a banhos de lama. No set de filmagens, ele reproduz essa cena alvejando Rodrigo (Fabio Porchat) por meio de um jato, com aditivo de cocô. Ficou com nojo? Há ainda um trecho em que a equipe do filme almoça em um local com fezes no chão, enquanto um dos atores é "limpado" em uma certa região como se fosse um bebê.

Cena do filme "Porta dos Fundos - Contrato Vitalício" - Rachel Tanugi Ribas/Divulgação - Rachel Tanugi Ribas/Divulgação
Imagem: Rachel Tanugi Ribas/Divulgação

Tortura

Um dos personagens mais curiosos de "Contrato Vitalício" é o de Antonio Tabet, o detetive carioca Otacílio, que é contratado por Rodrigo para investigar o sumiço de Miguel. Mas os métodos pouco ortodoxos do profissional logo causam espanto no ator. Além de investigador particular, ele é torturador e assassino. Isso já diz tudo. O homem esconde vítimas no armário de seu escritório e, em alguns casos, tortura suspeitos a esmo, simplesmente por esporte. Seus instrumentos de trabalho incluem apetrechos como serrote e pistola pneumática. Torturadores profissionais ficariam com inveja.

Cena do filme "Porta dos Fundos - Contrato Vitalício" - Rachel Tanugi Ribas/Divulgação - Rachel Tanugi Ribas/Divulgação
Imagem: Rachel Tanugi Ribas/Divulgação

Maus tratos ao ser humano

A atriz Julia Rabell interpreta outra personagem controversa: a inapelável preparadora de elenco Denise, que já existia em esquetes do Porta dos Fundos. A sargentona é inspirada em Fátima Toledo, famosa por colocar os atores na linha antes dos filmes da série "Tropa de Elite", entre outros títulos nacionais. Em "Contrato Vitalício", Denise recebe a incumbência de treinar Paulo (Rafael Portugal) para viver o animalesco ditador alienígena Vaclav Takahashi nas telas. O pobre ator come o pão que o diabo amassou. Com requintes de humilhação e crueldade, os métodos incluem tratar o ator como se fosse um cachorro, vestido apenas de coleira e fralda. Falar português no set? Punição com choque elétrico.

Fratura exposta

Em todas as esferas, Miguel (Gregório Duvivier) é um diretor que ultrapassa a barreira da insanidade. Após voltar de seu desaparecimento, ele crê piamente estar sendo vítima de uma conspiração alienígena. Chega a quase acertar o amigo Rodrigo com uma arma de fogo ao pensar que avistou um deles. No set, para conferir realismo às filmagens, ele submete o elenco a uma espécie de reality show. Uma das passagens mais tensas acontece quando Takahashi precisa atacar violentamente o personagem de Porchat. Para isso, um dublê é utilizado, mas ele acaba sofrendo uma horrível fratura exposta em uma das pernas, que é mostrada de perto. Apenas para quem tem estômago.

Fábio Porchat e Gabriel Totoro ensaiam beijo gay no filme "Contrato Vitalício" - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução
 

Beijo gay

Em pleno 2016, o beijo gay ainda é capaz de incomodar --e muito-- a parcela mais conservadora da população. Ou seja, nada mais politicamente incorreto do que mostrá-lo em close. É o que ocorre quando um relutante Porchat precisa beijar em cena o personagem de Gabriel Totoro, que na história troca de corpo com a namorada do ator. Pastelão, a cena é intensa e cômica, com direito a línguas frenéticas e chupões estratégicos. Não gostou? Dá para tirar as crianças da sala, mas você perderá um dos momentos mais engraçados do filme.

Travesti presa

Há uma passagem de "Contrato Vitalício" em que Miguel vai com Rodrigo a uma zona de prostituição no Rio. A ideia é contratar travestis para atuar no filme. Mas não é bem isso que acontece, e ambos são flagrados por um fotógrafo de celebridades. Mais tarde, eles acabam presos, com uma dessas travestis ocupando a mesma cela de Porchat. Por retratar uma transexual como criminosa, estigmatizando homossexuais, essa passagem pode não agradar à comunidade LGBT. No fim, no entanto, tudo acaba bem. Ela sai da cadeia e vira estrela de campanha publicitária de uma marca de chiclete.