Diretor de "Para Minha Amada Morta" retira filme da disputa ao Oscar
O diretor Aly Muritiba anunciou nesta sexta-feira (26) que também está retirando seu filme “Para Minha Amada Morta” da disputa a uma indicação do Brasil ao Oscar 2017 de filme estrangeiro.
É o terceiro longa brasileiro a deixar o pleito nos últimos dois dias. Durante a semana, dois outros filmes elogiados pela crítica saíram da lista de inscritos: "Boi Neon", de Gabriel Mascaro, e “Mãe Só Há uma”, de Anna Muylaert.
As desistências têm sido encaradas como protesto à participação do jornalista Marcos Petrucelli na comissão que escolherá o filme nacional para disputar uma vaga no prêmio da Academia de Hollywood. A polêmica teve início com mensagens que Petrucelli divulgou em suas redes sociais ironizando o filme “Aquarius” desde a época de sua exibição no Festival de Cannes, onde a equipe protestou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, chegando a insinuar, sem provas, que a equipe do longa havia ido à França com dinheiro público, notícia que já foi desmentida pelo diretor Kléber Mendonça Filho.
A nota de Aly Muritiba afirma que a equipe de “Para Minha Amada Morta” não reconhece “a legitimidade da comissão constituída pela SaV [Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura] para escolher o representante brasileiro na disputa do Oscar 2017, portanto, nós retiramos do pleito”.
“Em tempos de exceção, é preciso tomar posição clara”, completa a nota.
À "Folha", o diretor de “Aquarius”, Kleber Mendonça Filho disse que manterá a inscrição do longa. “Tenho interesse em ver o processo se completar dentro das regras democráticas”, disse.
Além dos filmes, a própria comissão responsável pela seleção já sofreu baixas. Durante a semana, o cineasta Guilherme Fiuza Zenha anunciou sua saída por "motivos pessoais" e, nesta sexta, a atriz Ingra Lyberato também deixou a comissão em respeito à classe cinematográfica, que está questionando a legitimidade do colegiado.
Quem continua?
Pelo menos quatro outras produções continuam no páreo, além de "Aquarius": "Nise - O Coração da Loucura", de Roberto Berliner, "Tudo que Aprendemos Juntos", de Sérgio Machado, "Mais Forte que o Mundo", de Afonso Poyart, e "Pequeno Segredo", de David Schurmann.
O diretor Guilherme Fontes, de "Chatô", também avisou que vai inscrever seu primeiro filme, que demorou 20 anos para ser lançado. A informação foi confirmada pelo próprio diretor à Folha. "Assim como os concorrentes, 'Chatô' tem grandes qualidades e foi feito com muito esforço", disse Fontes.
As inscrições para a disputa continuam até dia 31 de agosto. O escolhido será anunciado no dia 12 de setembro.
A cineasta Marina Person, que estreou na ficção com “Califórnia” em 2015, não tinha a pretensão de escrever seu filme na disputa, mas afirmou que tem conversado com outros diretores para pressionar a saída de Marcos Petrucelli da comissão. Para ela, a ação seria mais efetiva do que retirar os filmes da seleção.
“O agravo dele em relação ao manifesto de 'Aquarius' em Cannes não é mal, vivemos em uma democracia, mas ele foi leviano ao fazer acusações de que a equipe do filme teria sido bancada com verbas públicas para a viagem ao festival. É uma pessoa desqualificada para assumir a função”, explicou ao UOL.
Durante a sessão de gala do longa em Cannes, em maio, a equipe do filme fez um protesto contra o governo interino de Michel Temer.
Para maiores de 18
Estrelado por Sonia Braga, "Aquarius" chega aos cinemas no dia 1º de setembro com a polêmica classificação indicativa de não recomendado para menores de 18 anos, dada pelo Ministério da Justiça. Segundo o órgão, o filme do diretor Kleber Mendonça Filho tem cenas de "sexo explícito" e "drogas". A distribuidora Vitrine Filmes chegou a entrar com recurso na Justiça, pedindo que a classificação fosse revista para 16 anos, mas o pedido foi negado.
Ao UOL, Kléber disse não poder afirmar que seja uma decisão política, mas que acredita que "Aquarius" se compara a "outros filmes recentes que tiveram [classificação indicativa de] mais de 16 [anos] ou mais de 14. Não creio que 'Aquarius' pertença a mesma categoria de sexualidade de 'Love 3D' ou 'Ninfomaníaca."
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