Topo

"Deveríamos ter sido recebidos no aeroporto", diz Sonia Braga sobre Cannes

Luna D'Alama

Colaboração para o UOL, em Gramado (RS)

27/08/2016 12h09

Sonia Braga disse na manhã deste sábado (27) que a equipe de "Aquarius" deveria ter sido recebida com ovação ao desembarcar no Brasil após a exibição no Festival de Cannes, em maio.

"Os atores deveriam ser recebidos no aeroporto como os jogadores de futebol, porque representam o Brasil [lá fora]", afirmou durante coletiva de imprensa no Festival de Cinema de Gramado, sendo bastante aplaudida.

Na sessão de gala do longa em Cannes, a equipe do filme fez um protesto no tapete vermelho contra o governo interino de Michel Temer. O tom crítico seguiu na noite de sexta-feira (26), quando "Aquarius" foi exibido em Gramado na abertura do festival aos gritos de "fora, Temer" da plateia. 

Na coletiva, Sonia reafirmou: "Não custa repetir que é golpe. Criar esse precedente no país é um crime".

O diretor Kleber Mendonça Filho apareceu na coletiva em seguida e afirmou que o ato em Cannes foi um simples gesto que "tocou num nervo". "Provocou tensão porque o país está muito dividido. Eu faria tudo de novo", destacou.

Questionado sobre o orçamento de "Aquarius", o cineasta afirmou que tentou fazer um filme mais curto, mas que acabou terminando com 2 h e 24 minutos de duração pois "algumas coisas se impuseram".

"Várias pessoas vieram me falar que acharam que o filme passou voando. Cada um sente de uma forma", respondeu à plateia de jornalistas, entre eles o critico Marcos Petrucelli, uma das vozes mais críticas ao cineasta e ao discurso político criado em torno de "Aquarius".

"Não sou atriz"

Uma dos nomes mais aclamadas do cinema brasileiro, Sonia Braga afirmou que "não é atriz", para surpresa e estranhamento de todos. "Não sou uma atriz acadêmica, não sei ler 'script'. Sou uma pessoa que o diretor tem que dizer o que eu faço ali naquele ambiente."

Foi justamente por ter esse estilo que ela aceitou filmar "Aquarius" também com atores não profissionais. "Falei para o Kleber: 'Que bom, porque eu também não sou atriz'. Então fiquei à vontade."

A atriz conta que se emociona todas as vezes que vê o filme, porque a personagem é uma mulher brasileira que reconhece seus direitos e luta até o fim.

Para ela, o roteiro de "Aquarius" é o melhor que ela já leu. "Ele tem todas as palavras que eu precisava falar naquele momento. E o Kleber [Mendonça Filho, diretor do longa] é um jovem cineasta dos mais talentosos com quem já trabalhei", elogiou.

Sonia revelou ainda que grava já no início de setembro com o diretor John Turturro o filme "Going Places" e como mãe de Julia Roberts na adaptação para o cinema do livro "Extraordinário", mas talvez nem a encontre. "Vou filmar com essas pessoas extraordinárias, mas 'Aquarius' é o nosso tesouro agora", afirmou.

Ela, porém, nega que seja uma "volta" ao trabalho. "Se o ator não está nas telinhas, no cinema, nas páginas de jornais, é como se ele estivesse invisível. Mas estou viva, respirando."

Prêmio para vestido

Ainda no espírito de humildade, Sonia frisou que se considera tímida, mas respeita muito os jornalistas e fotógrafos, por isso fala com a imprensa e posa tranquilamente à frente das câmeras. "Estou desenvolvendo uma técnica de jogar meu véu. É uma instalação inspirada em Lygia Clark, quem sabe um dia eu faço no MoMA", disse, rindo.

Sonia também contou que os vestidos que usou em Cannes e na abertura da 44ª edição do Festival de Gramado foram desenhados por ela, da coleção "By Sonia Braga". "Só por ter subido todo aquele tapete vermelho de Cannes de salto alto e vestido, deveria ter ganhado uma medalha de ouro. Achei uma injustiça [não ser premiada]!"