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"O Roubo da Taça" é comédia de gente torta tentando acertar, diz diretor

Paulo Tiefenthaler, Fabio Marcoff e Danilo Grangheia em cena de "O Roubo da Taça" - Divulgação
Paulo Tiefenthaler, Fabio Marcoff e Danilo Grangheia em cena de "O Roubo da Taça" Imagem: Divulgação

Luna D´Alama

Colaboração para o UOL, em Gramado

28/08/2016 17h11

Um dos episódios mais controversos da história do futebol brasileiro, o roubo da taça Jules Rimet, em 1983, é tema do filme “O Roubo da Taça”, segundo longa exibido na competição do Festival de Cinema de Gramado, na noite do último sábado (27). O diretor, Caito Ortiz, e o ator Paulo Tiefenthaler, que interpreta o protagonista Peralta, participaram na tarde deste domingo de uma coletiva de imprensa.

“É uma comédia de gente torta tentando acertar. Acredito nos personagens malucos. Não busquei realismo, mas uma interpretação do que aconteceu. Eu tinha 12 anos naquela época”, disse Ortiz. O filme foi feito em parceria com a Netflix e estreia no circuito comercial em 8 de setembro na Netflix, só deve estar disponível em 2017.

Segundo o cineasta, que lança seu segundo longa de ficção e também assina o roteiro e a produção, ele teve a “sorte” de não fechar com um distribuidor desde o início, o que poderia aumentar a pressão para que o protagonista fosse alguém mais conhecido do grande público, como Selton Mello no lugar de Paulo que fazia o programa de culinária “Larica Total”, no Canal Brasil, e hoje vive o marido de Marisa Orth na novela “Haja Coração”, da TV Globo.

“O filme é um pouco anárquico nesse sentido. A Taís [Araújo, que vive Dolores, namorada de Peralta] traz com ela o peso da fama. Eu tive um pouco de resistência ao nome dela no início, mas isso se dissipou após cinco minutos de conversa. Nesse mesmo lugar [de elenco estrelado], entram o Milhem [Cortaz] e o Stepan [Nercessian]”, avaliou Ortiz. “Já o Mr. Catra [que faz um possível interceptador, mas que recusa a taça por achar aquele roubo um "sacrilégio"] é a nossa ideia mais maluca. Só temos bons atores em cena. Gente que ajuda o filme a andar”, completou.

A comédia de 90 minutos começa com a seguinte frase: “Uma boa parte disso realmente aconteceu”. “Fiz muita pesquisa de tudo o que saiu nos jornais na época, mas faltam vários detalhes. Aos poucos, a gente se libertou da sequência histórica para fazer um roteiro sólido”, destacou Ortiz. Segundo o cineasta, a personagem de Taís é totalmente fictícia e dois dos ladrões da taça foram “fundidos” em um só no filme fica, então, a dupla formada por Peralta e Borracha (Danilo Grangheia). Um dos homens que jogam carta com Peralta, no entanto, foi amigo do ladrão verdadeiro.

Cena da comédia "O Roubo da Taça", que relembra caso do roubo da Jules Rimet - Divulgação - Divulgação
Cena da comédia "O Roubo da Taça", que relembra caso do roubo da Jules Rimet
Imagem: Divulgação


“Parece que várias partes loucas são ficção, que a gente inventou, mas essas é que são reais. Claro que não é um documentário, e a história toda é mal contada, a versão oficial diz que a taça foi derretida, mas nunca encontraram o ouro, a base, nada disso. O cara que interceptou, um argentino, foi preso tempos depois. Agora, parece que a Fifa montou uma força-tarefa porque a Jules Rimet vai fazer cem anos e querem ver se, até 2018, eles têm algo a dizer”, contou Ortiz.

“O Roubo da Taça” foi rodado em São Paulo, Santos e no Rio. “Filmamos várias cenas no frio de SP, num estúdio no Morumbi, simulando Copacabana no verão. Saía vapor da nossa boca lá fora e, dentro, tínhamos que entrar no clima do Rio de Janeiro, com aquele calorão”, revelou Tiefenthaler. O diretor acrescentou que optou por filmar sempre só com uma câmera, após longos ensaios.

“O filme se passa num Rio de 1983 idealizado, idílico, aquele calor, muita gente engraçada, tomando chope de sunga em Copacabana. São memórias que eu tenho da época em que ia para a casa da minha vó”, lembra o diretor carioca, que vive há 40 anos na capital paulista, mas ainda não perdeu o sotaque.

Ortiz diz ainda que a comédia trabalha com vários estereótipos porque os tempos eram outros. “O mundo era diferente. A gente evoluiu não quer dizer que melhoramos, mas mudamos. Tivemos que voltar lá sem medo, mostrar a mulher que cozinha e tira a mesa sozinha enquanto o homem fica sentado no sofá tomando cerveja e arrotando. Ele só toma bronca porque tem dívida de jogo, e não porque sai à noite”, afirma o diretor.

É por causa dessa dívida de Peralta na época, 1 milhão de cruzeiros; hoje, algo em torno de R$ 30 mil, segundo Ortiz que ele e o comparsa resolvem roubar a Jules Rimet, achando que era apenas uma réplica de ouro, enquanto a original estaria guardada num cofre da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Mas foi justamente o contrário: eles levaram a original, e ficaram desesperados para se livrar dela. É a partir daí que toda a trama se desenrola, com um final (totalmente fictício) surpreendente.

Antes de estrear nos cinemas do país, “O Roubo da Taça” já conquistou, em março, o prêmio do público no Festival South by Southwest, em Austin, no Texas (EUA).