Com dois filmes no Festival do Rio, Leandra Leal investe em várias frentes
Cenário de “La Vingança”, a Argentina deixou boas memórias na atriz Leandra Leal, co-estrela da comédia dirigida por Fernando Fraiha, que faz sua estreia no Festival do Rio nesta sexta-feira (7), às 22h30, no Roxy 3, dentro da programação da Mostra Latina. O filme foi rodado ao longo de cinco semanas entre a capital argentina, Buenos Aires, e a pequena cidade de Capilla del Señor, no interior do país. “A gente ficava falando portunhol selvagem o dia inteiro, e isso foi muito divertido”, afirma a atriz carioca de 34 anos, em entrevista ao UOL.
Na trama, ela interpreta Julia, pivô de uma vingança amorosa envolvendo situações absurdas e correrias pelas estradas a bordo de um Opala 79. Nele viajam Caco (Felipe Rocha) e Vadão (Daniel Furlan), dois dublês de cinema e amigos de infância que partem de São Paulo rumo a Buenos Aires. Eles estão determinados a armar uma revanche contra o chef argentino (Adrián Navarro) flagrado na cama com Julia, até então noiva de Caco. O longa-metragem é resultado de uma coprodução entre o Brasil e o país vizinho.
“A Julia é uma mulher de seus 30 anos, que está querendo mais da vida agora, a fim de um namorado que vire homem de verdade, que não tenha mais uma postura de adolescente e coisa e tal”, explica Leandra, duas vezes vencedora do troféu Redentor de melhor atriz do Festival do Rio, por “Éden” (2012) e “O Lobo Atrás da Porta” (2013). “Ela namora há muito tempo, e não quer mais aquele meninão do Caco, e acaba se apaixonando, se deslumbrando com um cara que tem a mesma profissão que ela, que é bem sucedido, e ela se joga nessa aventura”.
Direção
A maratona carioca, que segue até o dia 16 de outubro, também servirá de palco para o lançamento de Leandra como realizadora. Ela assina a direção de “Divinas Divas”, documentário sobre a primeira geração de artistas travestis do país, que terá sua primeira projeção neste sábado (8), às 19h, no Roxy 1 e 2, na mostra competitiva Première Brasil. O filme é inspirado no show de mesmo nome, que esteve em cartaz por quase uma década no teatro Rival, tradicional casa de espetáculos do Centro do Rio, fundado pelo avô da atriz, o produtor cultural Américo Leal, nos anos 1970.
“O documentário tem um eixo que é o ensaio e as apresentações de um show que a gente fez no Rival, em comemoração aos 50 anos de carreira delas. Além disso, a gente tem entrevistas que vão passando por temas, desde apresentando os personagens de quem elas são até a relevância histórica, mas que também vão dando conta de várias camadas da complexidade de cada ser humano apresentado ali. Demorei dois anos e meio para chegar até essa estrutura”, explica.
O filme, que reúne artistas como Jane Di Castro, Rogéria, Eloína, Fujika de Halliday e Camile K, é resultado de um longo processo de gestação. “Ele começou a sair do papel oficialmente em 2009, quando dei início à formatação do projeto. É muito emocionante finalmente ver o filme no mundo. Estou super ansiosa para vê-lo na tela grande, com o público, para ver como ele vai chegar até as pessoas. Isso é um momento de muita ansiedade e alívio de ter chegado até o fim, de ter conseguido vir até aqui porque foram vários obstáculos”, diz a atriz.
Um desses empecilhos foi a resistência de empresas que usam a renúncia fiscal para investir em cultura. Muitas não quiseram ver suas marcas associadas a um filme sobre travestis. “Essa parte foi difícil. A gente realmente não conseguiu patrocínio privado. Nós ganhamos um edital do Ministério da Cultura, e abrimos uma parceria com o Canal Brasil, que foi a primeira empresa que investiu na produção, que acreditou no filme”, lembra Leandra.
“Acho que o Canal Brasil tem um papel superimportante no cinema brasileiro hoje em dia, porque ele tem essa visão mais aberta, aposta em diretores estreantes como eu e temas arriscados como o do ‘Divinas’, elogia a atriz, que levantou recursos extras pelo sistema de financiamento coletivo para bancar o show comemorativo, que serviu de base para o longa-metragem. “O espetáculo foi um sucesso, mostrando que esse é um tema que as pessoas querem ver”.
A direção de filmes é a mais nova frente de trabalho da atriz, que além de atuar em cinema, teatro e TV – acabou de ser vista na série “Justiça”, da Rede Globo –, produz shows, peças e organiza festivais de cinema. “Tenho planos de dirigir outras coisas, mas ainda nada concreto. E demora um tempo também, porque ainda vou lançar o ‘Divinas’, e aí até ter outra ideia, até fazer outro projeto, até conseguir captar, formatar, leva tempo. Demora fazer cinema né?”, argumenta. “E eu sou atriz, não me vejo como uma diretora, e sim como uma atriz que dirige. Então, acho que (dirigir um filme novamente) vai mesmo demorar um tempo”.
Teatro do avô
Leandra não nega o sangue de agitadora cultural que corre nas veias: recentemente assumiu, junto com o marido, Alê Youssef, e mais três sócios, a administração do teatro do avô, até bem pouco tempo dirigido por sua mãe, a atriz Ângela Leal. A ideia de Leandra, que frequenta os bastidores do Rival desde criança, é revitalizar o espaço, um dos endereços mais icônicos da Cinelândia, no centro do Rio.
“Algum dia eu teria que assumir o Rival, e acho que a gente fez agora da melhor forma possível essa passagem de bastão, que é com a minha mãe com saúde, cheia de vida e feliz”, explica a atriz. “Então, juntei pessoas parceiras para estarem comigo nessa empreitada. A ideia era fortalecer o Rival como esse templo da cultura e, ao mesmo tempo, resgatar uma tradição, colocando teatro de novo, trazendo a boemia mais forte. Porque o Rival sempre foi um lugar de transgressão, de boemia, de arte e também agora da gastronomia como uma expressão cultural de um povo”.
Uma das primeiras iniciativas dos novos gestores foi a criação do espetáculo “Rival Rebolado”, mistura de teatro de revista, esquetes de humor e shows de transformistas, que vem lotando o endereço toda terça-feira, deste setembro. Um dos pontos altos é o da performance “Melhor de Quatro”, e uma homenagem a um grande artista do passado.
A estrela da próxima terça-feira (11), é a transformista Divina Valéria, uma das retratadas no documentário de Leandra. “Ela está morando no Uruguai, mas está aqui pelo ‘Divinas Divas’. Então a gente vai aproveitar essa feliz coincidência de tê-la conosco neste momento para homenageá-la . Além disso, a gente vai ter a apresentação de todas as drag queens que participaram do concurso e a apresentação da Karina Karão”, avisa.
Serviço:
La Vingança
Sex. (7), às 22h30, Roxy 3
Sáb. (8), às 17h10, Reserva Cultural Niterói 2
Seg. (10), às 17h40, Estação Net Ipanema 2
Qua. (12), às 22h, Kinoplex São Luiz 4
Divinas Divas
Sáb. (8), às 19h, Roxy 1
Sáb. (8), às 19h, Roxy 2
Dom. (9), às 13h, Cine Odeon - Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro
Seg. (10), às 14h, Kinoplex São Luiz 1
Seg. (10), às 19h, Kinoplex São Luiz 1
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