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De olho nele: Allan Souza Lima é o próximo nome do cinema nacional

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

17/10/2016 14h02

Em dois anos, o ator Allan Souza Lima se viu ganhando destaque em uma novela da Globo, "A Regra do Jogo", contracenando com Sônia Braga em "Aquarius", indo para o Festival de Cannes e rodando o primeiro longa como protagonista "Jogos Clandestinos", que estreia em 2017. A escalada para o ator de 30 anos foi rápida, mas a voz é tranquila, de quem se preparava para isso há anos.

Em entrevista ao UOL, o ator contou que o primeiro contato com a arte foi cedo. E de um jeito que faz inveja em muita gente. Do muro do quintal da avó, em Recife, sua cidade natal, conseguia ver os ensaios de Chico Science à frente da Nação Zumbi. "Tenho essa lembrança de ficar em cima do muro assistindo aos ensaios e de vê-lo brincar com a molecada na rua". A visão de Science pelo muro fez o menino querer tocar bateria em uma banda de rock da cidade, mas ele logo viu que se identificava mais com outra arte: a cênica. Depois de uns anos estudando teatro, decidiu se mudar para o Rio de Janeiro, aos 18 anos, para se profissionalizar como ator.

Allan Souza Lima, Sônia Braga e Kleber Mendonça Filho nos bastidores de "Aquarius" - Reprodução - Reprodução
Allan Souza Lima, Sônia Braga e Kleber Mendonça Filho nos bastidores de "Aquarius"
Imagem: Reprodução

A estreia na TV aconteceu aos 22 anos, na novela "Caminhos do Coração", na Record. Aos 27, conseguiu o primeiro trabalho na Rede Globo. Os papeis foram surgindo em sequencia ao mesmo tempo em que Allan descobriu a paixão por idealizar. Assim que formou-se pela CAL (Casa de Artes Laranjeiras), atuou e produziu a peça "Don Juan".

"Foi aí que descobri o Allan idealizador", disse. Depois de peças, veio o trabalho de diretor e roteirista no cinema. Este ano, ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Gramado pelo curta "O que Teria Acontecido ou Não Naquela Calma e Misteriosa Tarde de Domingo no Jardim Zoológico", no qual dirigiu e também produziu. 

O gosto por diversas áreas de atuação nas artes fez com o que ele refletisse sobre o mainstream e o trabalho mais independente. "É muito bom poder transitar. Você está fazendo uma novela, depois um filme pequeno, uma peça. Mas seria bom não ter que depender do mercado. Falo isso não por prepotência, mas por luta porque é muito difícil. É muito ruim ficar refém de uma pessoa olhar para a sua cara e dizer que gostou de você. Prefiro convidar as pessoas para trabalharem comigo".

No início do ano, uma das reflexões de Allan sobre a vida de ator gerou até um mal-entendido. "Uma vez uma uma mulher me abordou no ônibus e disse que estava surpresa por me ver ali. Fiz um post no Facebook refletindo sobre isso, sobre as pessoas pensarem que vida de ator é só glamour. No final, eu ainda dizia estar aberto a propostas de trabalho. Pronto. Foi o suficiente para saírem matérias dizendo que eu estava pedindo emprego nas redes sociais, mas tudo bem, foi um post popular", ri, já conformado. 

Apesar da preferência por idealizar, projetos Allan também se beneficiou muito com os convites mais recentes. Mesmo sendo pernambucano, não foi por amizade, mas por teste que conseguiu o papel de garoto de programa em "Aquarius", de Kleber Mendonça Filho, que disputou a Palma de Ouro em Cannes este ano. No filme, seu personagem faz sexo com Clara (Sônia Braga). "Soube dois dias antes qual seria a cena e fiquei um pouco nervoso, mas foi supertranquilo. Kleber é um diretor que faz a experiência de atuar ser muito humana", contou.

Mesmo intensa, seu papel em "Aquarius" foi pequeno. Papel de protagonista está sendo guardado para "Jogos Clandestinos", em que contracenou ao lado de Carla Diaz e Oscar Filho. "O filme mistura ação e comédia. Acho que vai ficar interessante. Vivo um jogador de pôker que se vê tendo que assaltar um cassino depois que os planos de ganhar as partidas dão errado. Nós atores tivemos uma conexão incrível no set". 

No projeto original, o filme seria dirigido por Caio Cobra e protagonizado por Bruno Gagliasso, mas com a desistência de Cobra, Gagliasso também optou por não continuar. À frente do projeto, o diretor Caco Milano disse ao UOL que Allan foi indicação de um amigo. "Meu amigo querido e saudoso Gabriel Mendonça me indicou o. Foi uma excelente opção ele mandou super bem", disse. 

Por conta do post do Facebook ou não, o próximo ano será tão movimentado para Allan quanto 2016. Além de estrear o filme, ele está captando verba para outros dois longas que está produzindo e já está cotado para a nova novela das 18h da Globo, chamada "Mundo Novo", participação ainda não oficializada.