Conheça Leo Matsuda, o primeiro brasileiro a dirigir um curta da Disney
Um nissei tímido, são-paulino desde menino, fã de Monty Python, conseguiu uma proeza histórica: 88 anos depois de "Steamboat Willie", o primeiro curta-metragem da Disney, Leo Matsuda é o primeiro brasileiro a dirigir um curta da maior fábrica de filmes do planeta. Com 6 minutos e 23 segundos, "Trabalho Interno" estreia no dia 5 de janeiro no Brasil, abrindo as sessões para o novíssimo longa-metragem de animação da Disney, a superprodução "Moana".
Matsuda nasceu em São Paulo, cresceu em São José dos Campos e vive há oito anos em Los Angeles, em Venice Beach. Ele é convidado especial do maior festival de animação do Brasil, o Anima Mundi, que começa nesta terça-feira (25) no Rio de Janeiro e vai até o dia 30 --de 2 a 6 de novembro o evento chega a São Paulo.
Admirador de Ward Kimball (1914-2012) e Chuck Jones (1912-2002), dois dos mais famosos animadores da Disney, e dos cineastas Jacques Tati e Wes Anderson, Matsuda bateu 73 concorrentes do time de animação da Disney para conseguir dirigir o filme, produzido por Sean Lurie (de "Tinker Bell e o Tesouro Perdido").
A ideia do curta, disse Matsuda, vem do Brasil e de sua infância. "Eu adorava ler aquelas 'Enciclopédias Britânicas', que tinham essas explicações esquemáticas da morfologia humana. Sempre quis fazer algo que partisse do grafismo daquelas velhas enciclopédias", contou, nos Estúdios Disney, em Los Angeles, onde trabalha. "A outra inspiração sou eu mesmo. Eu sou um cara tímido de morrer, de aspecto meio cômico, nerd, vivendo essa divisão entre o cartesianismo de minha ascendência japonesa e o trabalho com humor".
Foi assim que surgiu a história de Paul, um burocrata de vida muito maçante. Seus pulmões, coração, cérebro e bexiga são as estrelas do filme. Em vez de animaizinhos humanizados, como é praxe, o filme dá vida ao que pulsa dentro da gente. Paul é controlado por esses órgãos, que se habituaram à sua rotina espartana --todas as suas vontades são ditadas por desejos orgânicos rígidos e castradores. "Quando minha namorada viu o personagem, ela disse: 'Leo, você é o Paul! Sua cabeça também é quadrada'", diverte-se o animador.
"Órgãos humanos geralmente são desagradáveis de se ver", analisou o produtor Sean Lurie, "e Leo deu personalidade e senso de humor a eles. O mais interessante é que são personagens muito gráficos e muito simples", disse ele, feliz da vida com o resultado. Lurie contou que Matsuda, por excesso de humildade, chegou a abrir mão de certas características de sua proposta original, mas os amigos e fãs do estúdio não permitiram que mudasse o curta-metragem. "O que ele tem de mais rico é justamente sua originalidade", disse o produtor.
Filosoficamente, "Trabalho Interno" traz a mensagem de que a busca do equilíbrio é fundamental para uma vida mais sadia. "O curta é especial para mim porque reflete diretamente um tema da minha vida com o qual muitas pessoas se identificam imediatamente: a batalha constante entre nossos corações e nossos cérebros". Para ele, é justamente a ascendência do cérebro sobre as outras vozes interiores que é o problema de sua vida.
O brasileiro concorda que pode haver muitos ecos de outras animações em seu trabalho (o burocrata Paul, por exemplo, lembra o chefe do Sr. Incrível na animação "Os Incríveis", de 2004), porque vê compulsivamente todo tipo de desenho. Mas considera que o lado autobiográfico de "Trabalho Interno" prevalece sobre tudo.
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Leo Matsuda, indicado para o Annie Award (o Oscar da animação) na categoria realização extraordinária pelo seu trabalho na animação "Detona Ralph" (2012), também trabalhou no desenvolvimento da história de "Operação Big Hero" (2014).
"Trabalho Interno" é sua estreia na direção --depois de passar os 73 concorrentes, teve que disputar com dez finalistas e, finalmente, quatro derradeiros rivais. "Não há essa coisa de concorrência aqui nos estúdios. É o lugar do mundo onde a noção de trabalho coletivo é mais avançada".
Antes de se estabelecer em Los Angeles, para onde foi estudar animação no CalArts (California Institute of Arts), Matsuda trabalhou com publicidade no Brasil. Até chegar aos estúdios Disney --que hoje tem sete brasileiros trabalhando lá--, ele trabalhou no departamento de desenvolvimento de personagens de "Os Simpsons: O Filme" (2007), na 20th Century Fox, e tinha sido artista júnior no trabalho da história de "Rio" (2011), nos estúdios BlueSky, além de ter estagiado na Pixar.
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