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Sob pressão, mas com diversão, "Guardiões da Galáxia" ganha upgrade

Eduardo Graça

Colaboração para o UOL, em Atlanta (EUA)

24/04/2017 17h32

Quanta diferença três verões podem fazer. No set de "Guardiões da Galáxia Vol. 2", o diretor James Gunn lembra que nunca foi tão livre em uma produção de Hollywood como quando assumiu a direção do primeiro filme da franquia, lançado em 2014.

"Ninguém sabia quem eram aqueles personagens, nem mesmo os fãs de super-heróis. Um guaxinim marrento? Uma árvore com vocabulário limitado e enorme poder de atração? Os riscos, pense bem, eram enormes", relembra.

Três anos depois, as coisas são bem diferentes. A bilheteria acumulada do original ultrapassou os US$ 770 milhões mundo afora, teve uma impressionante marca de 91% de aprovação no agregador de críticas RottenTomatoes e, de lambuja, teve uma trilha sonora recordista de vendas. Tudo isso refletiu em um set, digamos, bem mais rico para o “Vol.2”, que expandiu dos estúdios Pinewood, em Londres, para o abandonado --e imenso-- Centro de Convenções da Geórgia porque Gunn precisava “de mais espaço". E o longa chega aos cinemas nesta quinta como uma das sequências mais esperadas do ano.

"Em 2014, fiz o filme que quis, algo assim como uma ópera espacial, com diálogos longos e muito mais interação entre os personagens do que os filmes de super-heróis permitem. Aliás, nem sei se consideraria a gangue do Senhor das Estrelas super-heróis ao pé da letra", diz Gunn, que continua: "Desta vez, sem ter de segurar grana, estou fazendo um filme mais profundo e com mais cara de ficção científica. Repetir a fórmula, afinal, iria contra tudo o que a franquia representa".

Ficaram no passado requebros ao som de “ooga chaka, hooga, hooga”, de “Hooked on a Feeling”, do Blue Suede, o hit maior da “Awesome Mix Tape, Vol.1”, escutada por Peter Quill (Chris Pratt), o Senhor das Estrelas, e a repetição da frase “eu sou Groot”. 

Guardiões - Chuck Zlotnick/Marvel Studios - Chuck Zlotnick/Marvel Studios
Zoe Saldana, Chris Pratt e o diretor James Gunn no set de "Guardiões da Galáxia Vol. 2"
Imagem: Chuck Zlotnick/Marvel Studios

Astros

Um outro fator pesou na multiplicação de dólares do orçamento de “Vol. 2”, estimado em US$ 230 milhões: um certo Chris Pratt. O ator de 37 anos ainda não era uma das estrelas mais rentáveis do cinema americano em 2013, quando Gunn o escalou para comandar um elenco que ainda conta com Zoe Saldana (Gamora), o ex-lutador Dave Bautista (Drax), Michael Rooker (Yondu), Karen Gillan (Nebula) e as vozes de Vin Diesel (para o agora bebê Groot) e Bradley Cooper (Rocket).

"Veja bem, não havia expectativa alguma em torno do primeiro filme. Agora vivemos o oposto", diz Pratt, que segue: "É meio como a síndrome do segundo disco, é a prova dos nove. A pressão é imensa, estamos sim guardando umas cartas na manga, mas estamos nos divertindo até mais do que antes durante as filmagens, em geral um bom sinal para a qualidade do que vocês irão conferir na tela", acredita.

Para a versão 2.0, Gunn convocou também dois baluartes da velha guarda de Hollywood, Kurt Russell, 65, e Sylvester Stallone, 70. Russell é um dos fios condutores da história, já que vive o pai biológico de Quill. Stallone era um segredo mantido a sete chaves durante a visita do UOL ao set, em um dia especialmente quente do verão do sul dos Estados Unido.

Gunn pontua que “Kurt e Chris” são atores parecidíssimos, especialistas, para ele, em mesclar cenas de ação com diálogos longos, exatamente o que precisava para um dos centros nervosos do filme, a relação entre um pai que “parece ser algo como Deus” e o filho rebelde.

"Os dois falam pelos cotovelos e, como você pode perceber, eu gosto disso. É mais fácil encontrar no cinema atores introspectivos, que atuam mais pelos gestos e expressões faciais do que pela verborragia. Estes dois não, você não quer que eles parem de tagarelar jamais", diz o diretor.

Nova etapa

Enquanto fala sem parar sobre o roteiro que começou a escrever no dia exato do lançamento do primeiro filme, Gunn aponta desenhos na parede da “sala de guerra” representando as várias etapas do novo filme. Os rascunhos dão uma ideia do que esperar da nova aventura dos anárquicos e sarcásticos personagens criados para os quadrinhos em 1969 e reinventados pela Marvel em 2008, já de olho em uma possível adaptação para o cinema.

"O filme começa exatamente onde o anterior termina. Os punks siderais acabaram de salvar o universo e estão muito cheios de si. Os egos inflados geram brigas e são o guia do roteiro: se no primeiro filme os personagens buscavam formar, ainda que de forma inconsciente, uma família, agora eles têm de lidar com este agrupamento disfuncional, divertido e poderoso", conta o diretor.

Chris Pratt lembra que, no novo filme, seu Quill se debate entre mergulhar em uma relação com o homem que lhe deu a vida e as emoções. O “Vol.2” traz ainda a inversão de papeis entre Rocket e Groot, com o primeiro tomando conta do pequenino baby Groot, que cresce lentamente em um vaso e é garantia de vários “óuuuunnnnn” da plateia.

A relação entre Nebula e Gamora também fica mais complexa, e a irmã adotiva que parecia ser do mal, juntamente com Mantis (Pom Klementieff), a companheira de Ego (Kurt Russell), e Yondu, passam a ser Guardiões da Galáxia. Dois novos vilões, Ayesha (Elizabeth Debicki) e Taserface (Chris Sullivan), darão trabalho aos heróis, agora ostentando novos jet packs, cerzidos na medida certa para um claro incremento das sequências de ação.

Efeitos especiais impossíveis de serem utilizados no primeiro filme, por conta do orçamento mais enxuto, foram agora direcionados para as cenas de ação e a construção de um Groot ainda mais singular e Rocket Racoon (com voz de Bradley Cooper) terá as raízes de sua solidão exploradas, assim como o jogo amoroso entre Quill e Gamora.

"Olhando de longe, acho hoje que no 'Vol.1' tivemos personagens demais, mais do que precisávamos. Desta vez, quem entra tem um arco mais claro, e estamos dando mais tempo na tela para personagens importantes para mim, como Nebula (Karen Gillan), Yondu (Michael Rooker) e até o Kraglin, papel do meu irmão Sean", diz Gunn.

O diretor anunciou na semana passada que irá escrever e dirigir o terceiro filme dos Guardiões e que ele indicará novos caminhos para o universo cinematográfico da Marvel, com os Guardiões mesclados aos Vingadores em “Vingadores 4”, com estreia em maio de 2019. O cineasta, em sinal de seu prestígio na Marvel, assina a produção executiva do filme dirigido pelos irmãos Joe e Anthony Russo.

E responde de bate-pronto à pergunta do repórter do UOL sobre se concorda com os que o apontam como um renovador dos filmes de super-heróis em Hollywood: "Sim, para o bem e para o mal, eu renovei o gênero. Digo para o mal porque não sei se dá para considerar 'Guardiões', mesmo com o carimbo da Marvel, um filme de super-heróis. O que fez o filme parecer diferente de tudo o que se viu antes foram a história e os personagens. E acho que as pessoas reagiram a uma tradição de filmes de ficção científica, desde 'Alien' e 'Blade Runner', que eram sombrios. O público estava sedento por algo mais colorido. E por um tipo de emoção que não havia antes em filmes de super-heróis".