Moro "Yoda" e Lula cínico: Como o filme da Lava Jato mostra pessoas reais
Filme “oficial” sobre a operação Lava Jato, “Polícia Federal - A Lei É Para Todos”, que estreia no dia 7 de setembro, reconstrói passo a passo a maior operação anticorrupção do país sob o ponto de quem a criou.
Nessa visão cheia de licenças poéticas, os investigadores aparecem com nomes fictícios, cada um deles sintetizando mais de um personagem real. Já quem não faz parte da corporação real não precisou se disfarçar.
É o caso de Lula, do juiz Sergio Moro e do doleiro Alberto Youssef. No cinema, eles têm personalidades fortes, que parecem coincidir com a realidade --mas, às vezes, nem tanto. Veja abaixo como essas figuras foram retratas no longa do diretor Marcelo Antunez.
Alberto Youssef (Roberto Birindelli), o zoeiro
Primeiro personagem famoso a aparecer no filme. O doleiro, acusado de liderar o esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, é retratado como um bandidão experiente, uma raposa que tenta driblar a polícia e até troca de quarto de hotel para não ser pego com o dinheiro na mão. Não por acaso, ele já havia sido condenado em 2004 por envolvimento no esquema do Banestado. No filme, após ir em cana, ele revela seu lado mais brincalhão e anárquico (às vezes beirando a loucura), tripudiando de agentes e outros presos na sede da Polícia Federal. “Você engordou, hein?”, diz no reencontro com o investigador Ivan (Antonio Calloni).
Sergio Moro (Marcelo Serrado), o mestre Yoda
O personagem de Moro é secundário na trama, embora seja importante no arco dramático do filme. Entre aulas de direito na Universidade Federal do Paraná e os despachos na vara criminal de Curitiba, ele é mostrado como uma espécie de oráculo de sabedoria, dono de dignidade quase monástica, praticamente um mestre Yoda de "Star Wars". Está sempre envolvido com o trabalho até altas horas da noite e tem momentos de angústias existenciais antes de tomar decisões. Também é um pai brincalhão: “Eu sou a primeira instância. Sua mãe é a segunda”, adverte ele ao filho, que pretendia ficar até mais tarde numa festa.
Lula (Ary Fontoura), o raivoso
O ex-presidente surge apenas no episódio da condução coercitiva, quando é levado de seu apartamento em São Bernardo do Campo para depor no salão presidencial anexo ao Aeroporto de Congonhas. A versão de Lula é cínica, raivosa e extremamente presunçosa. De ar sisudo, ele diz que só sairá de casa algemado e, para confrontar os agentes da polícia, prevê sua vitória nas próximas eleições. Quando os agentes entram em sua casa, ele pergunta, no que seria uma brincadeira, o paradeiro do famoso “Japonês da Federal”, mas seu tom não é nada descontraído. Doações ao Instituto Lula? Ele não sabe de nada.
Marcelo Odebretch (Leonardo Medeiros), o príncipe
Marcelo é calmo, não faz cena e colabora com a Polícia Federal quando entram em sua mansão para prendê-lo. Ainda assim, bem que tenta tirar um agente de seu encalço para acordar a mulher e pegar o celular. Estaria pensando em fuga? Ele pede que não usem armas e fica ligeiramente surpreso quando descobre que um mandado de prisão havia sido expedido. No longa, é descrito como “príncipe das empreiteiras”, um criminoso cerebral de movimentos cirúrgicos.
Paulo Roberto Costa (Roney Facchini), o ator
O ex-diretor de abastecimento da Petrobras, envolvido diretamente no esquema da Lava Jato, é irredutível: nega, nega, e nega qualquer atividade ilegal na estatal: “Não é balcão de negócios”. É retratado de forma fria e impávida, mas em nenhum momento chega perto de parecer convincente. Em várias passagens, parece mais um ator que um personagem, até quando decide colaborar com a investigação, usando um texto em que compara as grandes empresas corruptoras aos velhos donos de escravos do Brasil colônia. É a desfaçatez em pessoa.
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