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Publicitário, filme sobre Lava Jato se preocupa mais em justificar operação

Cena de "Polícia Federal - A Lei É para Todos" - Divulgação - Divulgação
Cena de "Polícia Federal - A Lei É para Todos"
Imagem: Divulgação

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

07/09/2017 04h00

As suspeitas de que o filme "Polícia Federal - A Lei É para Todos", sobre as investigações da operação Lava Jato, seria mais panfleto do que cinema dura não mais do que os primeiros instantes do longa do diretor Marcelo Antunez. No créditos iniciais, uma citação do escritor Ruy Barbosa adverte: o poder está na mão de homens "maus" e, em tais condições adversas, afundado em desilusão, o homem chega a ter "vergonha de ser honesto".

O tom moralizante sustenta a trama, que é antiga, de ar maniqueísta e que praticamente não se dá ao contraditório. Defender a maior investigação anticorrupção do país é mais importante até que apresentar um roteiro atraente. Orçada em cerca de R$ 16 milhões, a produção parece uma grande peça de propaganda escrita pela própria Polícia Federal. Fica quase todo o tempo na defensiva.

Alguns diálogos chegam a ser constrangedores de tão literais. "Vocês pretendem destruir o PT?", provoca uma jornalista aos investigadores. "Vocês estão sendo seletivos!", brada o pai de um deles, no que replica o filho: "Eu votei neles".

Rebatendo as críticas à operação, a condução coercitiva de Lula é mostrada da maneira mais digna e justa possível. O suposto grampo ilegal envolvendo Dilma e o ex-presidente, interceptado fora do horário determinado pela Justiça, também ganha justificativa oficial da polícia: foi a operadora que demorou a cortar o sinal.

Aviso: fãs do juiz Sergio Moro devem se decepcionar. Retratado com dignidade monástica, ele é secundário na trama, assim como os acusados. As grandes estrelas são os integrantes da força-tarefa —o núcleo principal do filme muda nomes e sintetiza figuras reais, como a do procurador Deltan Dallagnol.

Mas os personagens são rasos. De onde vieram? Como e por que chegaram ali? Há dramas pessoais? Não se sabe, mas entendemos que eles são engenhosos, qualificados, que não ganham o que deveriam e se matam de trabalhar —até quando a mãe de um precisa se submeter a quimioterapia. 

Mesmo assim, o filme tem seus pontos positivos, principalmente quando se assume como puro thriller investigativo. "A Grande Aposta" e "Spotlight", com seus multipersonagens são referências e o didatismo da operação é instrutivo. Finalmente entendemos como a apreensão de um caminhão de palmito resultou no nome "Lava Jato" e culminou com Lula sendo levado pelo "Japonês da Federal".

Com forte campanha de divulgação, "Polícia Federal" chega aos cinemas num cômodo feriado de 7 de setembro. Serão pelo menos mil salas, cerca de um terço dos cinemas brasileiros. A história promete render duas sequências, que prometem tirar o foco do PT e incluir PSDB, Aécio Neves e as denúncias da JBS. Em meio ao vendaval do noticiário político, o longa nasce datado.