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Preferidos do Festival de Toronto embolam disputa pelo Oscar 2018

Cena do filme "The Shape of Water", de Guillermo del Toro - Divulgação
Cena do filme "The Shape of Water", de Guillermo del Toro
Imagem: Divulgação

Eduardo Graça

Colaboração para o UOL, em Toronto

20/09/2017 04h00

Ninguém discute a importância do Festival Internacional de Toronto para a temporada de prêmios na indústria do cinema americana. Mas este ano, dificilmente alguém conseguirá apontar um único favorito ao Oscar dentro da seleção do evento canadense.

Se em 2016 Toronto consolidou “La La Land - Cantando Estações” como possível líder em número de estatuetas, revelou a belezura de “Moonlight - Sob a Luz do Luar” e enterrou de vez as expectativas em torno do confuso “O Nascimento de Uma Nação”, este ano um punhado de filmes bem recebidos pelo público e pela imprensa geraram o tal burburinho tão desejado pelos estúdios em uma disputa claramente pulverizada entre produções interessadas em se posicionar como as principais competidoras.

Saíram na frente “Three Billboards Outside Ebbin, Missouri”, o vencedor do prêmio do público de melhor filme, “The Shape of Water”, de Guillermo Del Toro, premiado em Veneza, “Me Chame Pelo Seu Nome”, a bela história de amor gay que já havia conquistado público e crítica em Cannes e Sundance, e o surpreendente olhar sobre Winston Churchill em “O Destino de uma Nação”.

Abaixo seguem as considerações da reportagem do UOL presente no festival, que terminou no domingo, sobre como o evento reposicionou os principais personagens na corrida aos prêmios da Academia de Hollywood. Nunca é demais lembrar que, afinal, nos últimos dez anos, o festival serviu de bússola para o Oscar, com apenas um título “Birdman (ou a Inesperada Virtude da Violência)” chegando ao prêmio de melhor filme sem ter passado por Toronto.

Cena do filme "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri" - Divulgação - Divulgação
Cena do filme "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri"
Imagem: Divulgação

SAEM NA FRENTE

Três Anúncios para um Crime - Foi o grande vencedor do Prêmio Groschl, dado pelo público, que vota durante todos os dez dias do festival após as sessões abertas. O filme do britânico Martin McDonagh, diretor de “Na Mira do Chefe” e “Sete Psicopatas e um Shi Tzu”, parcerias com seu melhor amigo Colin Farrell, agradou em cheio público e crítica, repetindo seu sucesso em Veneza. Com distribuição garantida no Brasil pela Fox, com estreia no dia 25 de janeiro, é estrelado pelo afiadíssimo trio formado por Francis McDormand, Woody Harrelson e Sam Rockwell, todos nomes lembrados para melhor atriz, ator e coadjuvante, respectivamente.

A Forma da Água - O vencedor do Leão de Ouro em Veneza foi recebido em Toronto, por imprensa e público, com aplausos de pé e choro em alto volume. Outro com distribuição garantida no Brasil pela Fox, foi o filme mais falado e era o favorito para o Groschl. Dão-se como certas as indicações para melhor filme e para o diretor Guillermo del Toro, e Sally Hawkins, como melhor atriz. Ela interpreta uma faxineira muda que vive uma incrível e tocante história de amor com uma criatura fantástica mantida em cativeiro pelo governo americano nos anos 1960. O resultado é poesia pura, há uma singela homenagem à era de ouro dos musicais de Hollywood, com direito a tributo a Carmen Miranda, e Octavia Spencer, Richard Jenkins, Michael Shannon e Doug Jones (que vive o ser aquático e misterioso) aumentaram suas chances de serem indicados nas categorias de atuação.

Me Chame pelo seu Nome - A singela história de amor gay passada nos anos 1980 na Itália entre um americano e um adolescente local já havia agradado em Sundance e em Cannes, mas a reação em Toronto foi estrondosa. Aplausos de pé nas sessões para imprensa e público e reconhecimento às impressionantes atuações de Timothée Chalamet, Armie Hammer e Michael Stuhlbarg, além da direção intimista sem cair na pieguice de Luca Guadagnino, e do roteiro adaptado de James Ivory. O filme tem distribuição no Brasil assegurada pela Sony, com estreia dia 18 de janeiro, e é uma das atrações mais aguardadas do Festival de Cinema do Rio, em outubro.

O Destino de Uma Nação - Um filme mais convencional no papel do que em sua execução, o arremedo de cinebiografia do primeiro-ministro Winston Chrurchill teve sessões lotadas e aplausos para a interpretação sutil de Gary Oldman. Ele quase desaparece, no melhor sentido, na pele do líder conservador que comandou o Reino Unido na Segunda Guerra Mundial. Oldman se tornou o favorito para melhor ator, Ben Mendelsohn pode ser indicado como coadjuvante por seu rei George 6º, Joe Wright para diretor, e fala-se em uma chuva de indicações, incluindo melhor filme e roteiro original, e técnicas, para bater de frente com outro filme sobre o país e o período, “Dunkirk”, de Christopher Nolan.

Cena do filme "I, Tonya" - Divulgação - Divulgação
Cena do filme "I, Tonya"
Imagem: Divulgação

SURPRESAS E AZARÕES

Eu, Tonya - Um filme mais complicado, também comprado pela Diamond para o Brasil, surpreendeu em Toronto, onde chegou sem distribuidora e acabou embolsando o contrato mais lucrativo do festival. A história da ex-patinadora de gelo britânica Tonya Harding, vivida por Margot Robbie, elogiadíssima pela crítica, calou fundo nos canadenses. Harding se envolveu em uma das maiores polêmicas da história das Olimpíadas de Inverno quando seu marido, vivido por Sebastian Stan, planejou quebrar a perna de uma das concorrentes mais fortes da mulher em 1994. Além de Robbie, fala-se em indicação para Allison Jenney, no papel da mãe nada querida de Tonya. Pode ser o grande azarão do Oscar.

Projeto Flórida - O filme foi comparado pelos críticos a uma versão mais realista e americana de “Quem Quer Ser um Milionário?” e gerou algum burburinho e sessões extras em Toronto, mas sem a explosão de “Moonlight” no ano passado. A câmera esperta, as cores da Flórida e a descrição impactante da vida em um conjunto habitacional popular na Orlando contemporânea foram saudadas, assim como o elenco, especialmente William Dafoe, uma impressionante Bria Vinaite e as crianças lideradas pela estreante Brooklynn Prince. O filme conta ainda com um casal brasileiro interessado em passar a lua de mel na Disney, mas que acaba parando por engano no tal conjunto. Talvez seja indie demais para o Oscar, mas a esperança é uma repetição do efeito “Moonlight”.

Lady Bird: A Hora de Voar - Outro que fez barulho, a estreia da atriz Greta Gerwig, mulher do cineasta Noah Baumbach ("Frances Ha"), recebeu elogios entusiasmados da crítica e sorrisos de contentamento do público. O filme confirmou o burburinho na vitrine mais tímida do Festival de Telluride e fala-se em indicações, em uma história sensível e eminentemente feminina, para Saorsie Ronan, que vive a personagem-título, a própria Gerwig, melhor filme e uma craque, Laurie Metcalf, no papel da mãe da protagonista.

The Wife - Foi o último filme a receber tratamento especial de público e crítica em Toronto e o destaque absoluto é a interpretação de Glenn Close, que, aos 70 anos, jamais venceu um Oscar. O filme conta a história de Joan Castleman, decidida a deixar o marido, escritor de sucesso e prestes a receber um Nobel, para investir, no inverno da vida, em sua própria trajetória artística. Dá-se como certa, pelo menos, a indicação de Close.

Jennifer Lawrence em "Mãe!" - Divulgação - Divulgação
Jennifer Lawrence em cena de "Mãe!"
Imagem: Divulgação

NÃO EMPOLGARAM, MAS PODEM RENDER

Mãe! - Foi, exatamente como em Veneza, o filme com reações mais extremas em Toronto, com parte do público aplaudindo e outra revoltada com a viagem metafórica, religiosa e ambientalista com pano de fundo de romance psicológico criada por Darren Aronofsky. Um consenso é a coragem de Jennifer Lawrence, parceira do diretor, em viver o papel-título, uma tour de force do início ao fim da história. E a personagem afetada de Michelle Pfeiffer também pode render uma indicação.

O que te Faz Mais Forte - A sensação de que a história já havia sido contada anteriormente - trata-se de mais um filme sobre as explosões durante a maratona de Boston - e a mão pesada do diretor David Gordon Green não ajudam, mas Jake Gyllenhaal busca seu Oscar com uma interpretação comovente da vítima Jeff Bauman, e seu esforço para seguir vivendo mesmo depois da perda de suas duas pernas. O elenco de apoio, com destaque para Tatiana Maslany (exata) e a um pouco caricata Miranda Richardson, namorada e mãe de Jeff, respectivamente, também estão sendo lembradas.

Pequena Grande Vida - O novo filme de Alexander Payne, que também foi apresentado em Veneza e chega ao Brasil em janeiro, pela Paramount, não empolgou em Toronto. Mas a história do casal que decide diminuir de tamanho drasticamente para ajudar a preservação do planeta - e outros objetivos menos nobres - pode dar uma indicação a Matt Damon. Hong Chao, na pele de uma refugiada vietnamita, tem sido lembrada em listas para coadjuvante.

A Grande Jogada - Mesmo com a força de Aaron Sorkin nos diálogos e também na direção, e um elenco estrelado por Jessica Chastain e Idris Elba, o filme recebeu menos atenção e aplausos do público do que o esperado, embora tenha sido um favorito da crítica. Pode sofrer do mesmo mal de “Mãe!”, faltando gás da bilheteria na reta final para ajudar as chances de indicações ao Oscar. Sorkin deve ser indicado e Jessica Chastain também.

Guerra dos Sexos - O filme, um projeto dos responsáveis por “Pequena Miss Sunshine”, gira em torno da história da tenista Billie Jean King e de sua luta para o estabelecimento de uma liga independente de tênis feminina nos EUA. O longa é esquemático, mas conta com boa atuação de Emma Stone no papel principal, com possibilidades de nova indicação para a atriz.