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"Estão demonizando a cultura"; Atores criticam censura no Festival do Rio

Mateus Solano, Maria Ribeiro, o diretor Domingos Oliveira e Eduardo Moscovis na première do filme "Os 8 Magníficos" no Festival do Rio - Wallace Barbosa/AgNews
Mateus Solano, Maria Ribeiro, o diretor Domingos Oliveira e Eduardo Moscovis na première do filme "Os 8 Magníficos" no Festival do Rio Imagem: Wallace Barbosa/AgNews

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

09/10/2017 08h46

Artistas que participaram da première do filme "Os 8 Magníficos", de Domingos de Oliveira, neste domingo (8) no Festival do Rio se posicionaram contra os questionamentos relacionados a manifestações artísticas, como a censura ocorrida pela exposição Queer Museu, cancelada em Porto Alegre, no início de setembro, e também impedida na semana passada de vir para o MAR (Museu de Arte do Rio). Em um vídeo publicado em redes sociais no domingo passado (1), o prefeito Marcelo Crivella afirmou que a exposição viria para “só se for para o fundo do mar”.

Para a atriz Maria Ribeiro, que está no filme de Oliveira, boa parte da população brasileira não tem acesso à cultura e às artes, o que gera desinformação e que esse fator deve fazer parte desse debate.

“Acho triste o que estamos vivendo e ao mesmo tempo importante que fique claro que se você não tem acesso à escola e à educação, não percebe a importância da arte. A questão é reduzida como uma forma de angariar votos. Porque a arte faz você pensar. Se você pensa, você questiona e se questiona quando tem um governante que não quer ser questionado. O buraco é mais embaixo. Temos que aproveitar e é desprezando o pensamento conservador. Não é só dizer ‘censura nunca mais,’ temos que explicar a função da arte, senão fica a polarização que estamos acostumados e não nos leva a nada”, declarou a atriz.

Maitê Proença, que foi prestigiar o amigo cineasta, também manifestou indignação contra a situação de ter a arte questionada e diz que a perseguição às artes é uma ferramenta de desviar o foco para questões que realmente interessam.

“Estão demonizando a cultura com mentiras para não tratar de assuntos verdadeiramente demoníacos como por exemplo a desigualdade social, a falta de saúde, a miséria que está voltando enquanto pessoas roubam o dinheiro de impostos que deveria ser usado para administrar o país. É fácil mentir para um bando de gente que não viu, mas não gostou. É uma mentira para desviar o foco”, afirmou a atriz.

Segundo Maitê, a classe artística está mobilizada para impedir o avanço da censura a todo tipo de manifestação artística.

“Agora temos a #342pelaarte e estamos unidos no sentido de não deixar que essas inverdades virem verdades”, disse Maitê sobre a campanha #342 artes - Contra a censura e a difamação" lançada neste domingo após uma reunião realizada na última quinta-feira (5) na casa da produtora Paula Lavigne. A ação conta com depoimentos de nomes das artes como Adriana Varejão, Vik Muniz, Marisa Monte e Caetano Veloso.

“Faço parte disso por ser das artes e como cidadão. Não concordo com censura, é um retrocesso perigoso”, declarou Du Moscovis, que faz parte do elenco do filme e prestigiou a sessão.

 

São muitas as vozes que nao irão se calar. Não aceitaremos censura nem difamação. #342Artes #CensuraNuncaMais #ContraACensuraEADifamação

Uma publicação compartilhada por Caetano Veloso (@caetanoveloso)

 

 

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Magníficos

Domingos de Oliveira reuniu o elenco em um domingo de abril na casa de Maria Ribeiro. Além da anfitriã, estão no documentário, Fernanda Torres, Wagner Moura, Carolina Dieckmann, Sophie Charlotte, Mateus Solano, Alexandre Nero e Du Moscovis. Durante um longo almoço, eles discutem de forma sincera a arte de representar, a profissão, além de questões sobre a vida e o amor.

“Há tempos Domingos queria reunir atores que não tinham tempo para fazer cinema. Foi tudo de improviso. Foi um ‘Big Brother’ de gente interessante com coisas íntimas e pessoais, sem se preocupar com o resultado. Foi bonito”, disse Maria.

Oliveira disse que chamou “gente simpática” para o projeto e que o resultado vai agradar ao público.

“É um filme despretensioso e agradável. Reuni atores famosos, midiáticos, gente simpática para conversar por uma tarde sobre arte, essa coisa tão perseguida atualmente”, concluiu o cineasta.