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Há 25 anos, Tarantino mostrava em "Cães de Aluguel" como faria cinema

Steve Buscemi (Mr. Pink) e Harvey Keitel (Mr. White) em cena de "Cães de Aluguel" - Reprodução
Steve Buscemi (Mr. Pink) e Harvey Keitel (Mr. White) em cena de "Cães de Aluguel" Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

23/10/2017 04h00

"Cães de Aluguel", o primeiro filme dirigido por Quentin Tarantino, chegou aos cinemas exatamente há 25 anos e arrecadou pouco mais de US$ 2 milhões. O longa, que conta a história de seis ladrões que precisam escapar de um roubo, virou um clássico do cinema por trazer tudo o que marcaria o trabalho do cineasta nos anos seguintes.

Harvey Keitel é Mr. White; Tim Roth é Mr. Orange; Michael Madsen é Mr. Blonde; Steve Buscemi é Mr. Pink; Tarantino é Mr. Brown e Eddie Bunker é Mr. Blue. Por trás da turma está Lawrence Tierney (como o chefão mafioso Joe Cabot) e Chris Penn (o herdeiro "Cara Legal" Eddie). Pai e filho contratam alguns criminosos para realizar um grandioso roubo de diamantes, mas nada sai como o planejado, especialmente porque um deles é um policial infiltrado. 

O diálogo inicial, que em uma primeira vista parece um tanto bobo sobre a música "Like a Virgin", da Madonna, e a necessidade de dar gorjeta ou não, é a cara de Tarantino. Assim como seria visto em "Pulp Fiction", "Kill Bill 1 e 2", "Bastardos Inglórios" e qualquer outra produção roteirizada pelo cineasta. os diálogos exuberantes constroem a trama que será desenrolada na sequência, sempre de forma precisa.

A turma toda reunida em "Cães de Aluguel" - Reprodução - Reprodução
A turma toda reunida em "Cães de Aluguel"
Imagem: Reprodução

As falas cômicas e absurdas mostram exatamente qual será o final do filme. Mr. Pink não apoia a gorjeta para a garçonete, mostrando seu lado egoísta. Por outro lado, Mr. White tem grande coração e Mr. Orange é o "rato" da turma, que dedura o colega que não quer dar a caixinha. Já Mr. Blondie é o com sede de matança enquanto Mr. Brown não fala nada com nada porque não tem tanta importância.

Na sequência, a icônica cena dos oito caminhando em direção ao carro, cada ator sendo apresentado ao som de "Little Green Bag", de George Baker, era só o início do cuidado do diretor com as trilhas sonoras, passando pelo rock, pop, soul e hip hop. E não tem como esquecer da dança mórbida de Mr. Orange ao som de "Stuck In The Middle With You", de Stealers Wheel.

Outro tópico que seria abordado com louvor nas produções futuras de Tarantino é a violência. Mr. Blondie torturando um policial sequestrado e arrancando sua orelha com uma gilete não é nada em comparação ao que já saiu da mente do cineasta. Apesar do excesso de sangue e tiros, fica a impressão -- e isso em todos os filmes dele -- que a violência nunca é "exagerada". Ora combina com o enredo do filme -- seja histórico como "Django Livre" e "Bastardos Inglórios" ou de vingança em "Kill Bill" -- ora serve como um traço do diretor.

Curiosidades

Tim Roth (Mr. Orange) e Harvey Keitel (Mr. Pink) em cena de "Cães de Aluguel" - Reprodução - Reprodução
Mr. Orange não saiu muito bem na fita
Imagem: Reprodução

- "Cães de Aluguel" foi feito com um orçamento tão baixo que os atores foram obrigados a usar as próprias roupas durante as filmagens -- lembra da jaqueta esportiva toda colorida de "Cara Legal" Eddie? A sorte que é o responsável pelos ternos pretos gostava tanto de filmes de ação que deu as peças de graça para a produção.

- Também relacionado à falta de grana, não havia assistência policial durante a cena em que Mr. Pink tira a mulher de um carro e arranca com o veículo, por isso só pôde ser feita quanto o farol estivesse aberto.

- Por incrível que pareça, Madonna gostou do filme e entregou uma cópia do álbum "Erotica" autografada para Tarantino: "Para Quentin. Não é sobre pênis, mas sobre amor", definiu a cantora sobre o hit debatido no filme.

- E os irmãos Vega? O nome verdadeiro de Mr. Blondie era Vic Vega, irmão de Vince (John Travolta) em "Pulp Fiction - Tempos de Violência". Tarantino até pensou em fazer um filme falando sobre a história criminosa dos irmãos, mas a produção ficou no quase.

- Para manter o realismo, Tarantino pediu para que um paramédico acompanhasse as gravações para garantir que o sangue perdido por Mr. Orange após levar um tiro fosse consistente, semelhante ao que aconteceria em uma situação real.

- Se Mr. Blondie adorava violência, o ator Michael Madsen sentiu muita dificuldade nas cenas de tortura. Quando o policial (Kirk Balzt) diz que seu filho ficaria sem pai, Madsen ficou perturbado com a ideia -- seu filho Christian tinha apenas dois anos -- e quase não conseguiu continuar. 

- O filme chamou a atenção de Harvey Weinstein, que enfrenta diversas acusações de assédio sexual e estupro nas últimas semanas. O produtor aceitou distribuir o longa e ainda trabalhou com o cineasta em "Pulp Fiction", "Kill Bill", "Bastardos Inglórios" e "Os Oito Odiados". Tarantino veio para a Mostra de SP divulgar o filme no mesmo ano.