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Festival de Veneza não tem um claro favorito ao Leão de Ouro

Por Mike Collett-White e Silvia Aloisi

10/09/2010 13h50

VENEZA (Reuters) - O Festival de Veneza 2010 está chegando ao fim sem o tititi produzido por um filme que se destaque dos demais e sem a presença de astros de primeira grandeza, tão necessária em eventos desse tipo.

A competição principal, composta de 24 filmes e caracterizada pelo grupo de diretores mais jovens na história do festival, é vista pela crítica especializada como sólida e diversificada, incluindo desde uma comédia francesa até minimalismo existencial polonês, passando por um drama de costumes chinês com muitos figurinos típicos.

Mas, diferentemente de 2009, quando o aflitivo filme de guerra "Líbano" foi um vencedor aclamado, ou de 2008, quando "O Lutador" marcou a inesperada volta por cima do outsider de Hollywood Mickey Rourke, faltou à competição deste ano um momento definidor que conseguisse a adesão consensual da plateia.

Sem nenhum favorito evidente para receber o prêmio principal, o Leão de Ouro, agora que todos os filmes já foram exibidos, o presidente do júri, Quentin Tarantino, tem a tarefa difícil de decidir quem ficará com o cobiçado prêmio Leão de Ouro de melhor filme, a ser entregue na cerimônia de encerramento, no sábado.

"A média dos filmes tem sido muito boa, mas não houve nada pelo qual o público pudesse se apaixonar", escreveu o Il Foglio em editorial recente, embora o jornal italiano tivesse mais tarde identificado "Venus Noire" como candidato digno a prêmios.

Acrescente-se a isso o fato de o complexo onde os filmes estão sendo exibidos estar parecendo uma obra em construção, o tempo chuvoso, o fechamento do histórico Hotel Des Bains e a concorrência acirrada do Festival de Toronto, que coincide parcialmente com o de Veneza, e tudo indica que a edição 2010 de Veneza pode não permanecer na memória por muito tempo.

Filmes chineses e russos atraem preferência

Entre os favoritos estão a produção chinesa "The Ditch", sobre a situação de presos políticos deportados para campos de trabalhos forçados na China dos anos 1950, e o filme russo "Silent Souls", um olhar contemplativo para uma cultura minoritária em processo de desaparecimento e um amor obsessivo.

"O filme é silenciosamente eloquente sobre os dois temas, mostrando como o cinema às vezes alcança uma espécie de poesia, além de prosa", escreveu o crítico de cinema britânico Derek Malcolm em resenha em que atribuiu quatro estrelas a "Silent Souls".

"Venus Noire," a história verídica de uma mulher levada da África do Sul à Europa em 1810 e exibida como aberração da natureza, pode encontrar eco, devido ao argumento do diretor Abdellatif Kechiche de que seus temas -- a intolerância e o racismo -- continuam relevantes hoje.

"Post Mortem" se debruça sobre o golpe militar de 1973 no Chile, visto pelos olhos de um homem que trabalha em um necrotério, e "Meek's Cutoff" reapresenta o western de Hollywood sob a ótica de um grupo de mulheres isoladas no deserto americano.

A comédia francesa "Potiche", estrelada pelos veteranos Catherine Deneuve e Gérard Depardieu, foi aplaudida, e a produção espanhola "Balada Triste de la Trompeta", sobre um triângulo amoroso em um circo, dividiu as plateias e encontrou alguns admiradores fervorosos.

Levando em conta a dívida de Tarantino com o cinema asiático e, especificamente, o gênero dos filmes de artes marciais, "13 Assassins", de Takashi Miike, é visto como outsider, como é também o caso do thriller psicológico "Black Swan", em que Natalie Portman brilha no papel de uma bailarina perturbada.

Portman é forte candidata ao prêmio de melhor atriz, assim como Yahima Torres, de "Venus Noire", em sua estreia na tela grande.

Entre os atores principais, Vincent Gallo no papel de um suspeito combatente do Taliban em fuga em "Essential Killing" e Paul Giamatti em "Barney's Version" (adaptação do romance "A Versão de Barney", de Mordecai Richler) são candidatos bem cotados.

Fora da competição principal, o documentário "I'm Still Here", sobre Joaquin Phoenix, foi o mais comentado. Os espectadores ficaram na dúvida sobre se o retrato perturbador e pouco elogioso de um artista em crise é genuíno ou se é uma brincadeira.

O diretor Casey Affleck, cunhado de Phoenix, insistiu que não houve brincadeira envolvida, mas restaram dúvidas persistentes.

"Machete", de Robert Rodriguez, sobre um ex-tira mexicano envelhecido que parte para vingar-se dos assassinos de sua família, levou as plateias às gargalhadas, e "The Town," estrelado e dirigido por Ben Affleck, dividiu opiniões.