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Sobre perda familiar, "Corações Perdidos" traz James Gandolfini e Kristen Stewart em atuações elogiadas

07/07/2011 16h08

Se há um prazer indiscutível no melodrama "Corações Perdidos", de Jake Scott, é assistir aos atores James Gandolfini e Kristen Stewart saindo do molde de seus papeis de sucesso - respectivamente, o Tony Soprano da série "Família Soprano" e a Bella Swan da saga "Crepúsculo". E, de quebra, terem como companhia em cena a talentosa Melissa Leo, vencedora de um merecido Oscar de coadjuvante este ano como a mãe dominadora do drama "O Vencedor".

O roteiro de Ken Hixon tem premissas interessantes, como os dois focos dramáticos envolvendo o vendedor Doug Riley (Gandolfini). Homem maduro, ele tem sucesso em seu negócio com equipamentos hidráulicos em Indianapolis. Casado há 30 anos com Lois (Melissa Leo), ele poderia ser um modelo de estabilidade. Não é. A morte de uma filha criou um trauma entre o casal. E Lois não sai de casa por nada no mundo.

Doug experimenta uma visível sensação de sufocamento, uma insatisfação que tem nome, mas não encontra voz. Ele e a mulher nunca falam da filha morta, nem de nada que os incomoda.

TRAILER DO FILME "CORAÇÕES PERDIDOS"

Uma viagem a New Orleans, onde Doug participa de uma convenção de vendedores, tira o homem desta rotina. O novo ambiente parece renová-lo e o coloca diante de outros desafios. A entrada num dos inúmeros barzinhos suspeitos da colorida cidade da Louisiana leva-o de encontro a uma jovem prostituta, Mallory (Kristen Stewart).

A primeira aproximação de Doug com a jovem parece levar a um encontro sexual. Mas logo fica bem claro que o homem procura outra coisa com a jovem - resgatá-la desse tipo de vida. Coisa que a moça, desbocada e raivosa, não parece nada disposta a aceitar.

Se há algo que caracteriza Doug é a persistência. Não demora muito e ele se instala na casa de Mallory - que, na verdade, se chama Allison. Ele vira seu inquilino e, nas horas vagas, conserta coisas. A raiva da menina aos poucos se transforma numa tolerância às vezes amistosa com o intruso paternal, que controla sua alimentação e a arrumação da casa.

O terceiro elemento deste relacionamento inusitado é Lois. Quando entende que o marido está ligado a outra pessoa, ela faz uma tentativa extrema para superar o pânico que a impede de sair dos limites de seu lar protegido. Pode-se compartilhar o tamanho deste esforço na emblemática cena em que a mulher tenta tirar o carro da garagem e dar a partida para colocar-se na estrada.

Lois torna-se um outro dado na tentativa de redenção de Mallory - um processo no qual o mais evidente é a ansiedade do próprio casal para reencontrar-se emocionalmente. Por isso, nada mais falso do que a propaganda do filme, que insinua um romance entre Doug e Mallory, que nunca acontece. A história caminha num rumo bem mais família, o que não é nenhum defeito.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb