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Comédia "Dois Dias em Nova York" faz humor a partir de estereótipos

Alysson Oliveira

Do Cineweb*

25/04/2013 16h34Atualizada em 25/04/2013 22h56

Mais conhecida por seu papel nos romances "Antes do Amanhecer" (1995) e "Antes do Pôr-do-Sol" (2004), que acabam de ganhar a continuação "Antes da Meia-Noite", a atriz e diretora francesa Julie Delpy mostra seu lado mais cômico e menos romântico em "Dois Dias em Nova York".

Em seu quinto trabalho na direção, ela retoma a personagem de seu filme "2 Dias em Paris", Marion, em uma situação nova. Agora, morando em Nova York, esperando a visita do pai e da irmã.

A situação está bem diferente e não apenas porque Marion mora em outro continente. Fotógrafa, sua grande exposição acontecerá dentro de dois dias. Vivendo com um radialista, Mingus (Chris Rock), ela cuida de seu filho do relacionamento anterior e também da filha do namorado. Mas a personagem continua a mesma neurótica, atrapalhada e insegura.

Woody Allen ainda é inspiração, mas Julie tem munição suficiente para sair da sombra de qualquer mestre, especialmente com seu timing para comédia verbal. Choques culturais, novamente, dão a tônica ao filme.

TRAILER LEGENDADO DE "DOIS DIAS EM NOVA YORK"

A chegada do pai, Jeannot (Albert Delpy, pai da diretora na vida real), da irmã, Rose (Alexia Landeau), e do cunhado e ex-namorado de Marion, Manu (Alexandre Nahon), serve como pretexto para escancarar ideias estereotipadas que os norte-americanos fazem dos franceses e vice-versa.

Desconfiando da comida dos Estados Unidos, Jeannot tenta trazer, debaixo da roupa, linguiças e queijos franceses e é flagrado no aeroporto. Além disso, não demonstra muita simpatia pelo banho.

Já Rose anda nua pela casa e forma com seu namorado um casal indiscreto em todos os sentidos. O próprio Manu parece ter ido aos Estados Unidos apenas para comprar maconha e fazer comentários racistas, sem perceber.

O humor de Julie surge exatamente da falta de pudor em mexer com estereótipos das duas nações. A personagem dela, por exemplo, é uma artista plástica conceitual, e uma de suas últimas obras é "vender a sua alma", literalmente, com contrato e recibo, dando espaço a um comentário cínico sobre a arte contemporânea.

O resultado é uma das melhores cenas e participações especiais do filme, do ator Vincent Gallo, como o comprador da alma. Já Mingus tem em Barack Obama o seu mentor, mantendo em seu escritório uma figura de papelão em tamanho natural do presidente dos Estados Unidos, com quem ele costuma desabafar.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb