Excessos estéticos prejudicam conteúdo em "O Grande Gatsby"
O cineasta australiano Baz Luhrmann nunca sai a campo se não for para tornar algo pop. Foi assim em "Romeu + Julieta" (1996), colocando uma batida rock na história dos amantes infelizes mais famosos da história. O diretor repete a dose com uma versão de "O Grande Gatsby", trabalhando novamente ao lado do galã Leonardo DiCaprio, o ator número um da lista quando se trata de encarnar heróis românticos trágicos -- basta lembrar "Titanic".
Contando ainda com dois outros ótimos atores, Tobey Maguire e Carey Mulligan, e os efeitos de espetáculo do 3D, o que poderia dar errado nesta retomada do romance escrito em 1925 por F. Scott Fitzgerald, já filmado quase 30 anos atrás pelo inglês Jack Clayton?
A verdade é que, apesar do inegável empenho do trio central de atores, alguma coisa pesa sobre eles, como a maldição que, finalmente, engole Jay Gabsby (DiCaprio), Daisy Buchanan (Carey) e Nick Carraway (Maguire). Nada disso vem da história original, mas dessa postura espalhafatosa do próprio Luhrmann: ideal para as cenas de festas e danças, mas que termina por tomar conta do drama em si. Na versão 3D, esse vazio luxuoso fica ainda mais evidente.
TRAILER LEGENDADO DE "O GRANDE GATSBY"
Luhrmann empenhou-se muito em trazer a história para a atualidade por todas as formas que lhe pareceram compatíveis, especialmente a música. Assim, como acontecia com "Maria Antonieta", de Sofia Coppola, misturam-se na trilha os contemporâneos Beyoncé, Bryan Ferry e André 3000 com o jazz dos anos 1920 e os irmãos George e Ira Gershwin. Não é isso que contamina o filme, mas a vasta coleção de excessos termina por vampirizar o romance impossível de Gatsby e Daisy, tornando o filme em um produto enfeitado demais, como se estivesse numa vitrine de shopping center.
Para quem assistiu ao sóbrio e requintado filme de 1974 (estrelado por Robert Redford e Mia Farrow), alguns cenários são mostrados com mais detalhes. É o caso do "Vale das Cinzas", bairro operário dos arredores de Nova York, transformado num verdadeiro paradigma de uma Revolução Industrial já fora de época e que retrata a brutalização do ambiente pelas condições desumanas do trabalho das classes menos favorecidas.
O contraste entre este mundo deprimente e as esfuziantes festas da mansão Gatsby -- um milionário novo-rico com obscuras ligações no submundo, mas internamente consumido por uma obsessão romântica por uma mulher casada e frágil -- pretende formular um comentário sobre a crise econômica e a irresponsabilidade dos muito ricos. Mas a moldura da crítica desaba no fim. O filme não passa de uma casca colorida e brilhante, mas que não traz nenhuma substância autêntica.
*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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