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Novo "Percy Jackson" aposta na ação, mas se afasta de livro

Rodrigo Zavala

Do Cineweb*

15/08/2013 14h43

Percy Jackson é um personagem literário apreciado no mundo, mas que não faz tanto sucesso no Brasil. Suas aventuras com os "olimpianos", em referência ao monte Olimpo, imaginário local mítico grego do qual bebe o autor Rick Riordan, já renderam cinco livros, obtendo boas críticas nos Estados Unidos.

Em geral, essas avaliações consideram a saga uma excelente história juvenil, que consegue sincronizar a mitologia grega com o mundo real, além de ser uma grande aventura. Nada mais natural do que os estúdios cinematográficos filmarem a série.

Em 2010, Chris Columbus (de "Esqueceram de Mim" e um dos "Harry Potter") levou às telas o primeiro dos cinco livros, "Percy Jackson e o Ladrão de Raios", apresentando o filho de Poseidon, o tal Percy. Foi um sucesso, pois conseguia acompanhar a narrativa do livro, ao mesmo tempo em que criava uma história envolvente.

Esta segunda produção, no entanto, não mantém as mesmas qualidades. Dirigida pelo juvenil Thor Freudenthal (de "Diário de um Banana") e roteirizado pelo pouco coerente Marc Guggenheim (de "Lanterna Verde"), "Percy Jackson e o Mar de Monstros" não convence, nem com o recurso 3D.

Diferentemente do filme inicial, que retratava a descoberta de poderes, nesta continuação Percy (Logan Lerman) não tem qualquer autoestima. Isso pode explicar porque ele não usa seus dons de forma eficiente ao lutar novamente contra o vilão Luke (Jake Abel, de "A Hospedeira"), o filho de Hermes, mensageiro dos deuses gregos.

Como no livro, Percy está descobrindo o que é ser um semideus no mundo atual. É acompanhado por um sátiro e a filha de Atena, Annabeth (Alexandra Daddario), nas suas empreitadas. O primeiro capítulo se ocupava em provar que ele não havia roubado o raio do todo-poderoso Zeus (Sean Bean, o grande Stark da série "Game of Thrones"). Agora, precisa evitar que Luke reviva Cronos, o pai dos deuses, que pode destruir a humanidade e os deuses.

A adaptação falha da mesma forma em que errou o roteiro de "Harry Potter", ou mesmo "Crepúsculo", filmes afins da área da fantasia. Com tempo e formato distintos, algumas invenções foram criadas exclusivamente para as versões cinematográficas. Isoladamente, a lógica dos filmes, pensados como franquias, levantaram dúvidas.

Não fazia sentido em "Harry Potter", por exemplo, que o poderoso Dumbledore não conseguisse vencer Voldemort (não matá-lo), já que tinha a mais poderosa varinha mágica. Não era crível o envolvimento dos Voltoris, em "Eclipse", da franquia "Crepúsculo". Tudo que era explicadinho nos livros era simplesmente jogado nos filmes. Também aqui, em "Percy Jackson...", muita coisa não tem coerência.

Por mais que seja fantasia, prevendo-se poderes sobrenaturais, é preciso criar-se uma certa lógica interna. Percy pode formar maremotos, seu novo meio irmão, um ciclope, consegue falar com animais marinhos. Por que, então, eles ficam presos num barco no meio do mar? Não faz sentido. Não está no livro. Thor Freudenthal e Marc Guggenheim criam tensão onde não existe para levar ação ao filme.

Com um humor de tiradas pouco engraçadas, a missão do herói de evitar que o vilão reviva Cronos torna-se uma série de invenções pouco compatíveis com a história do livro, com omissões suficientes para desapontar os fãs da série literária. Percy e seus amigos semideuses podem mais, pena que a projeção não mostre isso.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb