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"Conexão Perigosa" explora tensões em thriller sobre espionagem industrial

Nayara Reynaud

Do Cineweb*

17/10/2013 11h13

"Bridge and tunnel people" é um termo pejorativo usado por nova-iorquinos para descrever pessoas que, todos os dias, têm de atravessar pontes ou túneis para trabalhar na ilha de Manhattan, vindas dos outros bairros menos famoso de Nova York ou das cidades vizinhas.

Adam Cassidy (Liam Hemsworth), o protagonista de "Conexão Perigosa" (2013), é uma dessas pessoas. Ele faz o trajeto diariamente e é ridicularizado por isso, como acontece logo que uma garota, Emma Jennings (Amber Heard), o conhece. Já na cena inicial, o personagem deixa claro que seu desejo era atravessar a ponte e não mais voltar.

O mundo de sucesso de Manhattan fascina o jovem que, a exemplo dos personagens de "Wall Street - Poder e Cobiça" e "A Firma", faz de tudo para ter seu espaço entre os poderosos que idolatra, copia e tem vontade de subjugar. Neste caso, o protagonista tem dois mentores para orientá-lo em sua trajetória. Porém, eles estão de lados opostos.

Após ter um projeto recusado dentro da Wyatt Corporation e gastar indevidamente o dinheiro da megaempresa da área de telecomunicações, Adam tem como opções virar um desempregado devedor ou aceitar a oferta tentadora do ex-chefe, Nicholas Wyatt (Gary Oldman).

O CEO da corporação propõe que o novato entre na empresa concorrente, do seu antigo mestre, Jock Hoddard (Harrison Ford), para ajudá-lo em um esquema de espionagem industrial e assim pagar sua dívida.

Escolhendo o caminho mais rentável, o personagem tem seu desejo realizado não só fisicamente, pois ganha um apartamento luxuoso na ilha, como metaforicamente: ele atravessa a ponte e deixa para trás os princípios que aprendeu com seu pai, Frank (Richard Dreyfuss), para mergulhar em um ambiente cuja moral é bem diferente daquela que conhecia, em um trajeto praticamente sem possibilidade de volta.

A necessidade de estar conectado a todo o momento e a questão da privacidade em um mundo em rede, temas que, como de costume, surgem em filmes que abordam as novas tecnologias, também são debatidos nesta produção. No entanto, se o medo de viver em um "Big Brother" deveria assustar os espectadores de "Conexão Perigosa", como sugere o título original "Paranoia" e a trilha sonora que pontua tensão a cada momento, o trabalho do diretor Robert Luketic foi mal-sucedido.

O cineasta, conhecido por comédias românticas como "Legalmente Loira" (2001) e "A Sogra" (2005), se arriscou em um thriller, pela primeira vez, com "Quebrando a Banca" (2008) e repete a tentativa em seu novo longa, reproduzindo todos os chavões do gênero em uma obra previsível. A maneira como o protagonista usa seu interesse romântico, representado pela personagem de Amber Heard, e a consciência desses atos são alguns desses clichês.

Toda a previsibilidade do roteiro poderia ser compensada se Adam fosse um personagem mais atraente para o público. O problema não está na beleza de seu intérprete, que é algo que Liam Hemsworth tem de sobra; e sim no fato que o galã que faz as adolescentes suspirarem não conseguiu segurar a responsabilidade de um papel principal em um trabalho que exige uma maior carga emocional.

Nos momentos em que essa intensidade é pedida, os primeiros planos mostram que o ator ainda precisa de mais experiência para estar à frente de uma história e poder carregar um filme.

Essa bagagem necessária é o que faz com que os veteranos Harrison Ford e Gary Oldman tentem aprofundar os seus respectivos personagens, sendo do último o mérito por tirar o máximo de seu antagonista nos poucos minutos em que aparece na tela.

Enfim, é possível assistir "Conexão Perigosa" sem grandes problemas. A questão é que talvez não fique muito tempo na memória do espectador.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb