Topo

Keanu Reeves estrela revisão fantasiosa de épico samurai "47 Ronins"

Neusa Barbosa

Do Cineweb*

30/01/2014 15h16

Um dos épicos mais abordados no cinema e teatro japonês --baseado em fatos reais ocorridos no século 18-- é o ponto de partida de "47 Ronins", aventura de época em que o ator Keanu Reeves desempenha o papel principal, sob a direção do estreante Carl Rinsch, que tem um passado na criação publicitária. O filme estreia nesta sexta-feira (31) nos cinemas brasileiros.

Muitos problemas cercaram a produção, filmada em 2011 e engavetada por cerca de um ano. Seu roteiro, assinado por Chris Morgan e Hossein Amini, faz picadinho da heroica saga original para introduzir monstros, uma bruxa (Rinko Kikushi) e uma série de liberdades um tanto quanto ridículas. Nem o 3D ajuda.

A sobriedade do relato original, que retratava a vingança de 47 ronins --samurais sem mestre-- contra a morte injusta de seu senhor, é impiedosamente sacrificada por uma tentativa de criar heroísmo e fantasia à força e fora de contexto.

Reeves interpreta Kai, um jovem mestiço que fugiu, ainda garoto, de uma misteriosa floresta ocupada por seres mágicos. Foi criado, então, por um rico viúvo, lorde Asano (Min Tanaka), tornando-se o melhor amigo de sua filha Mika (Ko Shibasaki). Os dois jovens se amam, mas é um amor impossível, pela diferença social entre os dois.

Um rival poderoso do velho Asano é o jovem lorde Kira (Tadanobu Asano), que usa os poderes da bruxa para criar uma armadilha que levará o rival a ser condenado a cometer harakiri. Kira também ganha a mão de Mika, incorporando os dois reinos sob seu controle.

Desterrado depois de uma fracassada participação num torneio, que foi parte da conspiração contra lorde Asano, Kai será procurado por Oishi (Hiroyuki Sanada), homem de confiança do falecido, para integrar o time de ronins que, secretamente, trama vingança contra Kira pela tragédia de seu senhor.

Mestiço e não-samurai, Kai supera o preconceito dos demais espadachins. Sua origem, na verdade, se mostrará valiosa para a obtenção das espadas da vingança, na antiga floresta de onde ele veio e cujos perigos sobrenaturais só ele tem condições de superar.

Essa necessidade de criar um protagonismo artificial para Keanu Reeves e o uso constante de efeitos visuais para materializar as muitas invencionices do enredo, que o afastam da história original, não demonstrou nenhuma vantagem. Não se cria empatia, nem se tem à mão o altruísmo coletivo dos ronins, capazes de sacrifícios impensáveis numa tarefa, em última análise, suicida. O resultado é um filme sem personalidade, que mais se assemelha à plataforma de lançamento de um futuro videogame.

Realizado com um alto orçamento (US$ 175 milhões), "47 Ronins" vem sendo um dos maiores fracassos da bilheteria norte-americana. Parece uma merecida maldição dos fantasmas dos 47 ronins verdadeiros e de diretores como Kenji Mizoguchi, Kunio Watanabe, Hiroshi Inagaki e Kon Ichikawa, que produziram versões magníficas desta saga na tela.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb