"Uma Família em Tóquio" atualiza crônica da vida cotidiana no Japão
Aos 82 anos, o diretor japonês Yôji Yamada mantém seu habitual estilo intimista em "Uma Família em Tóquio", em que refilma o mais conhecido trabalho de Yasujiro Ozu (1903-1963), "Era uma vez em Tóquio" (1953), votado como melhor filme de todos os tempos numa recente pesquisa do British Film Institute com 358 diretores de todo o mundo.
O filme de Yamada estreia exclusivamente no CineSesc de São Paulo.
Conhecido mais como artesão do que como esteta e, por isso, não raro colocado em segundo plano numa avaliação crítica do grande cinema japonês, abaixo de mestres como Akira Kurosawa e Kenji Mizoguchi, Yamada atualiza a obra de Ozu sem traí-la. E o que é melhor, sem tentar imitá-la, por mais que se assemelhem as linhas gerais do enredo.
Ainda que compartilhe com Ozu o apego pelas pessoas comuns, Yamada não procurou, em sua extensa obra, em que se inclui "O Samurai do Entardecer" (que concorreu ao Oscar de estrangeiro em 2004), seguir seu estilo. Yamada corre em faixa própria.
Assim, o diretor é capaz de atualizar, em termos bem contemporâneos, esta que é uma crônica da vida familiar, cujas pequenas hipocrisias são demolidas a partir da visita de um casal de velhos pais interioranos, Tomiko (Kasuko Yoshiuki) e Shukichi (Isao Hashizume), a seus três filhos adultos, moradores de Tóquio.
O mais velho, Koichi (Masahiko Nishimura), é médico, casado e pai de dois filhos. A filha do meio, Shigeko (Tomoko Nakajima), também casada, mantém um salão de cabeleireiros. O caçula, Shoji (Satoshi Tsumabuki), ainda solteiro, sobrevive de trabalhos como freelancer em design de cenários.
Se é verdade que o perfil psicológico dos três filhos corresponde ao filme original, nesta moderna versão a interferência do momento econômico japonês é mais decisiva e pessimista. O diretor inclusive fez questão de introduzir na história menções a três tragédias recentes do país, um terremoto, um tsunami e o vazamento da usina nuclear de Fukushima, que aconteceram no início da produção do filme, em 2011.
Descolando-se do clima contido do filme de 1953, é visível como os atores são mais expansivos em seu comportamento, na medida em que os conflitos vêm à tona, a partir do incômodo que demonstram, especialmente os dois irmãos mais velhos, em alterar sua rotina para acolher os pais em sua casa.
A direção desses atores de várias gerações é um primor. O elenco inteiro vibra no mesmo diapasão, transmitindo emoções com autenticidade e delicadeza, abrindo caminho para que o filme manifeste seu apelo universal. Famílias são todas iguais, só mudam de sotaque e endereço.
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