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Premiado em Veneza, "Cães Errantes" confirma talento de Tsai Ming Liang

Neusa Barbosa

Do Cineweb

23/04/2014 16h11

Conhecido por um estilo rigoroso e ousado, o diretor malaio Tsai Ming Liang não decepcionou em "Cães Errantes", que estreia nesta quinta (24), um drama poético desdobrado numa série de magníficas sequências, alinhando diversos fotogramas dignos de permanecer nas retinas e na memória. O filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza 2013 e estreia exclusivamente em São Paulo, no Cinesesc.

Lee Kang Sheng, o ator-fetiche de outros signos da filmografia deste diretor, como "O Rio" (97), "O Buraco" (98) e "E Lá, Que Horas São?" (2002) é, mais uma vez, o protagonista, interpretando mais com o próprio corpo e o rosto, com poucas palavras, um homem que sobrevive precariamente segurando placas de propaganda num farol, por horas, em Taipei. Ele nada tem de seu, apenas esse corpo maltratado por uma vida indigna, umas poucas roupas e seus dois filhos.

Trata-se de uma família partida a mulher os abandonou. E é um dado intrigante que haja três mulheres ao longo da história (Yang Kuei Mei, Lu Yi Ching e Chen Shiang Chyi) se alternando, às vezes transgredindo o realismo, como uma ou várias figuras femininas que interagem com o homem e as crianças.

Os cenários, em locais arruinados outra marca registrada do diretor, são outro dado intrigante de uma narrativa que se estende, pela manutenção da câmera parada num plano por vários minutos. Todo o tempo, "Cães Errantes" dialoga com o próprio tempo, com o silêncio, a existência destas pessoas, afrontando o despojamento e a feiura de seu cotidiano com atitudes intrigantes, patéticas, ternas, desesperadas.

Compondo com imagens indeléveis a crônica de uma família despossuída em Taipei, Tsai, vencedor de um Leão de Ouro em 1994 por "Vive L'Amour", merecia o prêmio máximo em Veneza, que acabou sendo atribuído ao documentário italiano "Sacro GRA".


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