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"Sex Tape" com Cameron Diaz parece longo e superproduzido anúncio da Apple

Nayara Reynaud, do Cineweb

Em São Paulo

20/08/2014 16h53

Em tempos de "selfies" e outras modalidades de alta exposição nas redes sociais, Annie (Cameron Diaz) e Jay (Jason Segel) correm atrás, desesperadamente, da gravação da maratona de sexo que fizeram e acabaram compartilhando, sem querer, para uma rede de amigos conectados via um aplicativo em seus iPads, em "Sex Tape - Perdido na Nuvem" (2014). O filme estreia nesta quinta (21).

A nova parceria do diretor Jake Kasdan com Cameron Diaz e Jason Segel, de "Professora Sem Classe" (2011), começa com a agora mãe de dois filhos, Clive (Sebastian Hedges Thomas) e Nell (Giselle Eisenberg), contando, em seu blog para mães, sobre quando conheceu o seu marido.

Ainda jovens e solteiros, os dois faziam sexo em tudo quanto é lugar, sem nenhum pudor em praticá-lo em público, tanto no dormitório da faculdade com a porta aberta quanto entre as prateleiras da biblioteca. Mas, com a gravidez dela, os dois se casaram e a chegada das crianças fez com que o fogo deles fosse arrefecido.

Uma década depois, eles estão presos à rotina; seja Annie à de mãe, dona-de-casa e blogueira, ou Jay à da rádio onde trabalha. Em uma noite em que acham uma brecha na agenda e os filhos estão com a avó (Nancy Lenehan), os dois sentem a necessidade de voltar àquele tempo e, regados a tequila, decidem experimentar todas as posições sexuais do livro "A Alegria do Sexo", escrito pelo Dr. Alex Comfort em 1972, porém, em frente à câmera do iPad dele.

O problema é que, em vez de apagar as três horas de vídeo, Jay presenteia parentes, amigos e até o carteiro com tablets que contêm o vídeo --sim, ele dá de presente para as pessoas seus "velhos iPads" recheados de uma extensa biblioteca de música. Eles, então, partem em uma busca dos dispositivos, a fim de apagar seu conteúdo ou destruí-los, contando com a ajuda de outro casal entediado de amigos, Tess (Ellie Kemper) e Robby (Rod Corddry).

Jake Kasdan e o trio de roteiristas formado por Kate Angelo, Nicholas Stoller e o próprio Jason Segel --de "Plano B" (2010), "O Pior Trabalho do Mundo" (2010) e "Os Muppets" (2011), respectivamente-- não conseguem fazer o filme fluir totalmente. "Sex Tape" sofre de uma indecisão dos seus realizadores se o longa deveria ser uma comédia adulta ou uma farsa familiar, ou se aprofundar na discussão da privacidade, da crescente exposição pessoal e voyeurismo atuais ou ainda explorar humoristicamente a conotação sexual do tema. Poderia ainda ser tudo isso, mas não se conseguiu equilibrar essas abordagens.

Para uma produção com este título, poderia se esperar que se fosse mais longe dentro da temática e no humor ácido. Não que fosse necessário o uso de imagens e linguagens totalmente obscenas. Mas, após momentos mais pesados, sempre vem algo para amenizar, como uma estranha lição de moral do dono do site YouPorn, interpretado por um conhecido comediante em aparição-surpresa.

Do mesmo modo, o lado cômico de uma sucessão de desventuras na busca pelos tablets só alcança outro nível na sequência na casa de Hank Rosenbaum, dono de uma fábrica de brinquedos que deseja fazer uma parceria com o blog de Annie, que poderia ser prejudicada com o vazamento do vídeo.

Por sinal, o magnata interpretado por Rob Lowe dá margem ao ator para fazer piadas sobre todos seus fantasmas do passado, seja a própria divulgação de uma "sex tape" sua com duas garotas em 1988, que afetou significativamente sua carreira, assim como o vício em cocaína e a desastrada apresentação com a Branca de Neve na abertura do Oscar de 1989.

A realidade é que, fora isso, não há a sensação de que o perigo e a humilhação pública estão realmente tão próximos do casal de protagonistas, até porque o roteiro é muito benevolente com seus protagonistas. Resta ao final a impressão de que o filme é um longo e superproduzido anúncio da Apple, com a profusão de iPads na tela, a repetição da capacidade de sincronização dos dispositivos e a constante reafirmação da durabilidade dos aparelhos. Com a vantagem de que, ainda assim, consegue entreter e levar o público a algumas risadas durante sua exibição.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb