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Denzel Washington apresenta um herói de ação inusitado em "O Protetor"

Nayara Reynaud

Do Cineweb, em São Paulo

24/09/2014 17h59

Nos últimos anos, o gênero de ação tem investido e lucrado muitonos heróis de meia-idade, desde que Liam Neeson mostrou seu lado de "bravo protetor" em "Busca Implacável" (2008).

Vide a turma, cada vez maior, do "tiro, pancada e bomba" que se reúne bienalmente na franquia "Os Mercenários". No entanto, isso não é novo: Charles Bronson se firmou como o grande astro de ação nos anos 1970, quando estava na casa dos 50 anos.

Outro exemplo deste diferente arquétipo, só que na TV, foi a série "The Equalizer" (1985-1989), produzida pela CBS e estrelada por Edward Woodward, que interpretava um ex-agente secreto que, ao resolver se aposentar, se transformou em um justiceiro que vende seus serviços pelos classificados.

A atração oitentista, por sua vez, ganhou um remake cinematográfico, "O Protetor" (2014), que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (25), um dia antes da estreia norte-americana.

A adaptação dirigida por Antoine Fuqua, traz à frente Denzel Washington, cuja parceria anterior com o diretor, em "Dia de Treinamento" (2001) rendeu ao ator seu segundo Oscar. Ele que, há uma década, já era o experiente guardião que quebrava tudo em "Chamas da Vingança" (2004), repete a dose, porém, mais "badass" do que nunca na pele de Robert McCall.

No entanto, por mais que o espectador desconfie, mesmo com a gravidade que Denzel coloca no personagem, só conhecemos suas habilidades no segundo ato do filme, assim como um pouco do seu passado. Pode-se dizer que o início é até lento demais para os mais habituados ao gênero.

O longa passa mais de meia hora apresentando a cronometrada rotina acentuada visualmente com os inúmeros planos em detalhe de relógiosdo seu protagonista, que de tão meticulosa beira o TOC (transtorno obsessivo compulsivo).

Funcionário de uma loja de materiais de construção, jardinagem e afins, McCall opta pela discrição e o trabalho duro. Viúvo e insone, ele passa as madrugadas em uma lanchonete de esquina, que parece copiada dos quadros de Edward Hooper especialmente "Nighthawks" e "Automat", tomando seu chá e lendo alguns clássicos.

Os livros, por sinal, marcam claramente os atos da trama. A solidão do personagem, mostrada no primeiro ato, é consonante à do pescador de "O Velho e o Mar", de Ernest Hemingway; enquanto "O Homem Invisível", de H. G. Wells, aparece no final, em uma das poucas cenas do filme que faz homenagem à série que o originou.

Mas é na citação indireta a Dom Quixote que se introduz a segunda parte do longa, na qual o protagonista torna-se também um cavaleiro andante, que persegue seus próprios moinhos de vento, ao buscar uma justiça utópica embora aqui ela esteja mais próxima de se concretizar, com um herói tão eficiente.

Tudo começa quando a sua companheira de bancada da lanchonete, a jovem com certeza, menor de idade prostituta Teri/Alina (Chloë Grace Moretz, tão mal aproveitada que some por mais de uma hora durante o filme), é brutalmente espancada pelo seu cafetão russo (David Meunier).

McCall vai atrás dele e, não conseguindo se acertar financeiramente com ele, investe contra o bandido e seus comparsas, dando inicio às cenas de ação na produção, que são graficamente fortes, em sua sangrenta e incomum violência.

Como o roteiro de Richard Wenk "16 Quadras" (2006) e "Os Mercenários" (2012) não traz grandes novidades, não é complicado supor que logo ele iniciará sua saga como justiceiro.

Ainda mais quando o chefe da máfia manda da Rússia um perverso assassino, chamado Teddy (Marton Csokas, que constrói um vilão à altura), para "consertar" o seu esquema em Boston, que foi abalado depois da chacina.

Antoine Fuqua faz questão de caracterizar seu protagonista sempre num tom acima, seja com sua capacidade de "parar o tempo", usando efeitos já vistos nos dois "Sherlock Holmes" (2009 e 2011) do Guy Richie, ou nas suas habilidades à la MacGyver o espectador, provavelmente, vai pensar em 1001 maneiras de se defender toda vez que entrar em uma loja de material para construção a partir de agora.

No entanto, o ápice é a clássica cena da caminhada inabalável do herói com tudo explodindo atrás dele, que aqui ganha uma duração ainda maior do que o habitual e mais impacto na exibição em IMAX.

"O Protetor" só não cai no ridículo com isso, porque Denzel faz um McCall bem convincente, dividido entre a justiça e seu ímpeto violento.

A câmera do fotógrafo Mauro Fiore vencedor do Oscar por "Avatar" (2009), viajando entre gruas e steadicams, brinca com o foco e o desfoque, evidenciando a dualidade dos pensamentos e conceitos do personagem, em pleno dilema moral. Este elemento, somado ao bom entretenimento criado pela direção de Fuqua, torna o filme cuja sequência é quase certa, ao menos, um dos mais interessantes desta safra.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb