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"Mommy" transpira jovialidade e excessos do diretor canadense Xavier Dolan

Rodrigo Zavala

Do Cineweb, em São Paulo

10/12/2014 16h03

Com 25 anos, o diretor canadense Xavier Dolan é um fenômeno. Com um currículo invejável de cinco filmes (quatro lançados no Festival de Cannes e um em Veneza), ele conseguiu em seis anos dividir a crítica pelo mundo.

Enquanto alguns o chamam praticamente de embusteiro, outros o reverenciam. Os mais exaltados o colocam no panteão de Pedro Almodóvar e Jean-Luc Godard, veterano com quem, aliás, dividiu neste ano na Croisette o Prêmio do Júri por seu mais recente trabalho, o drama "Mommy", que estreia nesta quinta (11).

As reações efusivas ao cineasta (em ambos os casos) têm a ver com seu método e estilo que chega à sua melhor definição em "Mommy".

É um exercício técnico, que joga com as cores, músicas (um festival pop que irrompe pela projeção), imagens, sons, perspectivas para quebrar barreiras, fugir de convencionalismos, em uma espécie de insolência formal diante do que veio antes dele. Uma petulância até aceitável quando se vê o resultado na tela.

O fato de ser filmado quase todo em formato quadrado vertical (1:1), uma metáfora ao contexto dos personagens, é um exemplo disso. Aliás, um formato que combina com nossos tempos (base de mídias sociais), como bem mostraram os diretores brasileiros Marcelo Gomes e Cao Guimarães em "O Homem das Multidões" (2013).

Apesar da superpotência visual, falta, no entanto, a mesma energia narrativa, que está longe de transcender. Aqui, Dolan volta à temática de seu primeiro longa (algo autobiográfico) "Eu Matei Minha Mãe" (2009), nas relações de uma mãe viúva com o filho adolescente rebelde. Mas se no anterior o foco era a crise juvenil, em "Mommy" há uma crise existencial evocada pela mãe Die (Anne Dorval, atriz-fetiche de Dolan).

Já no início, o diretor insere um toque de distopia, ao retratar um Canadá fictício, em que o governo acaba de aprovar a lei S-14. Por ela, qualquer familiar pode abandonar o filho problemático aos cuidados do governo, sem ter que passar por burocracias legais.

Nesse contexto, Die vai buscar seu filho adolescente Steve (Antoine-Olivier Pilon), de 15 anos, em um reformatório. O garoto, violento e impulsivo, acaba de incendiar a cafeteria do local, quase matando um colega interno, por isso é expulso. Sem dinheiro e com pouco tempo para cuidar dele, Die deve encarar toda sua impotência em conviver com o filho, que pode passar de amável a demoníaco em poucos segundos.

Um ponto de alívio é a providencial ajuda da vizinha Kyla (Suzanne Clément), que está deprimida pela morte de um dos filhos, mas consegue (muito graças aos excessos de Steve) triangular os conflitos do filme. Curiosamente, nos bons momentos de trio, Dolan volta ao formato panorâmico de tela, em uma belíssima cena que evoca os sonhos do grupo, em especial da mãe.

O argumento leva a acreditar que haverá uma torrente emocional, que pulverizaria as paredes psicológicas dos personagens. Mas, no limite, como ocorreu em "Tom na Fazenda" (2013) ou mesmo em "Amores Imaginários" (2010), essa reação nunca chega, impedindo uma reflexão mais profunda dos protagonistas.

Como experiência cinematográfica, Dolan impressiona pelas extravagâncias visuais e malabarismos de formato, transpirando juventude. Mas, para além da estética, ele tem um caminho a seguir para amadurecer seus textos e subtextos e chegar a uma real obra-prima.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb