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Festival de Berlim une "Cinquenta Tons de Cinza" a filmes "de arte"

Michael Roddy

03/02/2015 12h08

Dois filmes de grande apelo comercial irão estrear mundialmente na abertura do 65º Festival Internacional de Cinema de Berlim, na quinta-feira (5), mas nem "Cinquenta Tons de Cinza" nem "Cinderela", o novo longa-metragem da Disney, irão competir pelo prêmio principal.

O Leão de Ouro do festival é mais voltado aos filmes de arte, que também estarão em destaque graças a diretores como Terrence Malick, Peter Greenaway, Wim Wenders e Pablo Larrain.

Ao todo, 23 filmes serão exibidos na mostra competitiva, dos quais 19 brigam pela maior honraria, que será concedida em 14 de fevereiro, informou o festival.

A escalação deste ano será "a mistura costumeira de anorexia, fanatismo religioso, abuso infantil e tortura", disse o diretor da Berlinale, Dieter Kosslick --em tom de brincadeira, mas só em parte.

"É isso que mostramos --e quando você olha o noticiário, vê que nossa programação está situada bem no centro do debate social e político de hoje".

Nessa mesma veia, "El Club", do chileno Larrain, trata de quatro padres caídos em desgraça que vivem em um refúgio e que custam a se adaptar à chegada de um quinto morador.

"Body", do diretor polonês Malgorzata Szumowska, é a história de um investigador da polícia e pai solteiro que tem que equilibrar as exigências do trabalho e a criação de sua filha anoréxica.

Produções como estas provam a lealdade do festival às suas raízes, mas a adaptação cinematográfica do romance best-seller sobre sadomasoquismo "light" e a presença de Cate Blanchett como madrasta de Cinderela no filme dirigido por Kenneth Branagh irão atrair atenção mundial.

Kosslick não se abala com a insinuação de que o evento está cacifando a exibição de "Cinquenta Tons de Cinza", baseado na série de livros de E.L. James que vendeu 100 milhões de cópias em todo o globo.

"Seríamos loucos de esnobar a estreia no Zoo Palace (cinema recém-reformado de Berlim). Milhões de pessoas querem ver este filme. Vai ser um estouro, no sentido mais verdadeiro da palavra", disse.

Da mesma maneira, "Cinderela" não só tem o atrativo de suas estrelas como é bem-vindo com base em um precedente histórico --o desenho "Cinderela" conquistou o Leão de Ouro de melhor musical na primeira edição do festival, em 1951.

"Você não pode ter só uma seleção de filmes sobre prostituição infantil e estupro e pobreza, precisa de algo que sacuda isso", afirmou Jay Weissberg, crítico de cinema da revista Variety sediado em Roma.

"'Cinderela' vai ser isso? Não faço ideia, mas pelo menos traz algumas estrelas para o tapete vermelho, e essa é uma parte vital de qualquer festival".

(Reportagem adicional de Stephen Brown, em Berlim)