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Com Brad Pitt, drama "Corações de Ferro" evoca 2ª Guerra com crueza

Neusa Barbosa

Do Cineweb

04/02/2015 16h00

No drama "Corações de Ferro", a guerra é feia, suja e malvada. E não há heróis edificantes do lado que venceu os nazistas, nem mesmo entre eles estando o astro Brad Pitt.

Pitt é o sargento Don Collier, o protagonista dúbio deste drama de guerra em que o diretor David Ayer (de "Sabotage" e "Marcados para Morrer") injeta um pouco da própria experiência militar e de uma intensa pesquisa na 2ª Guerra Mundial, para compor uma narrativa a que não faltam crueza e cenas fortes -- o que explica a classificação etária para 16 anos.

O roteiro original, do próprio Ayer, localiza-se nos últimos meses da 2ª Guerra Mundial. A derrota nazista está plenamente desenhada, mas custará caro aos Aliados, devido à bravura e ao desespero de suas derradeiras manobras -- o que incluiu o recrutamento de crianças.

No centro da luta está um quinteto de soldados, que operam um tanque Sherman - equipamento reconhecidamente inferior aos tanques alemães. Ainda assim, faz muito estrago do lado inimigo o pelotão comandado pelo sargento Collier, que inclui Boyd (Shia LaBeouf), Trini (Michael Peña), Grady (Jon Bernthal) e agora um novato, Norman (Logan Lerman).

O recruta, que era datilógrafo e destinado a serviços de retaguarda, é colocado no centro de uma série de encarniçadas batalhas, dentro de território alemão e sem contar com a experiência em combate dos colegas -- que já sobreviveram a dramáticas campanhas no norte da África e na Normandia.

Este contraste de vivências incendeia o relacionamento entre os personagens, que vivem espremidos dentro do tanque, sujos, mal-alimentados, tensos diante do perigo constante. Um clima ideal para aquilo que a história quer dizer, que a guerra não tem qualquer glamour, é uma sucessão de enfrentamentos brutais, sangrentos, em que o limite de cada um é testado o tempo todo.

A solidariedade entre o quinteto, no entanto, é cimentada nesse mesmo circo de horrores, já que depende da atenção total de cada um a sobrevivência dos demais. Mesmo essa solidariedade é bruta e um tanto tensa, como demonstra a sequência com duas mulheres alemãs (Anamaria Trinca e Alicia Von Rittberg) -- em que parece que algo horrível vai acontecer a qualquer momento, ao mesmo tempo em que se expressam camadas de humor e compaixão.

Nesta sequência, como em outras, evidencia-se o estrago emocional que a guerra exerce cotidianamente sobre estes soldados, sem tempo para recuperar-se dos traumas ou de enterrar seus mortos.

Filmado na Inglaterra -- onde era mais fácil o uso de tanques reais --, com um orçamento de US$ 80 milhões, "Corações de Ferro" imprime realismo o bastante para ser contundente, mas também distanciamento para avaliar suas escolhas, não raro cruas e radicais.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb