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"O Cidadão do Ano" alterna comédia e humanidade em história de vingança

Rodrigo Zavala

Do Cineweb, em São Paulo

17/06/2015 17h06

Pelo argumento central, "O Cidadão do Ano", do diretor norueguês Hans Petter Moland (de "Um Homem Gentil"), poderia passar como mais um violento thriller criminal à la Charles Bronson, sobre um pai que resolve se vingar pelo assassinato do filho. Mas o resultado da produção, que atenta para humanidade e até comédia, mostra um caminho, senão original, pelo menos mais arejado para o gênero. O longa estreia neste quinta (18).

Na linha de frente está o sueco Stellan Skarsgard, um dos atores mais admirados e versáteis do cinema escandinavo (visto em "Ninfomaníaca" e "Os Vingadores"), e assíduo colaborador de Moland. Ele faz o papel de Nils Dickman, um pacato limpador de neve no gélido interior da Noruega, cujo respeito à ordem lhe confere a honra de ser premiado como "O Cidadão do Ano" em sua cidade.

Porém, já nas primeiras cenas, seu filho Ingvar (Aron Eskeland) é assassinado, mas a polícia (aqui, há uma crítica à passividade da lei) acredita que ele foi vítima de uma overdose acidental. Sem apoio da instituição que deveria lhe trazer justiça, Nils arma um plano para se vingar dos culpados.

Primeiro, identifica o inimigo, a máfia de Oslo, liderada por Ole Forsby, o Conde (Pal Sverre Hagen). Um a um, Nils elimina os peões da quadrilha para chegar ao chefão. O que ele não percebe é que o Conde credita o desaparecimento de seus capangas na conta da máfia sérvia, com quem divide a contragosto o poder na capital.

A desinformação leva os personagens a participar de uma guerra, na qual Nils se vê envolvido, mas parece impotente frente às circunstâncias. Caberá a ele tentar dar um ponto final da discórdia, sem perder o foco de sua vendeta pessoal.

Embora a violência seja um elemento básico do conflito, Moland e o roteiro de Kim Fupz Aakeson (outro colaborador frequente do diretor) suavizam o tom sangrento com humor, a começar na composição dos vilões.

O tal Conde, aqui, é retratado como um dândi vegano, cujo poder foi herdado do pai. Seus ataques infantis o tornam uma figura caricata, mas dentro de referências de comédia.

O mesmo pode ser dito da trupe sérvia, liderada pelo Papa (o veterano Bruno Ganz), que também combina agressividade com situações amenas, como passar um dia se divertindo na neve. Ou mesmo da polícia, que se recusa a sair da viatura para aplicar uma multa, pois faz muito frio do lado de fora.

Moland também trabalha com sutilezas narrativas que distraem o espectador da vilania. Não deixa de ser engenhoso que, a cada morte, o diretor use como recurso a tela negra com uma cruz e o nome do azarado. O que ocorre também quando há tiroteios e as notas de falecimento criam um mosaico na tela.

Mas é na humanidade de Nils que o filme mostra seu maior diferencial. Seja Charles Bronson, ou mais recentemente, Liam Neeson, no evoluir de suas histórias, os anti-heróis do gênero ficam cada vez mais parecidos com aqueles que caçam e matam.

Nils, com seu imenso limpador de neve de estrada profissão com insuspeita beleza cinematográficaquer apenas um ponto final, mesmo sabendo que o caminho não tem volta.

Assista ao trailer do filme

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb