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"Virando a Página" se apoia no talento de Hugh Grant e Marisa Tomei

Rodrigo Zavala

Do Cineweb, em São Paulo

24/06/2015 15h36

Não deixa de ser corajosa a aposta do diretor e roteirista Marc Lawrence (de "Miss Simpatia" e "Amor à Segunda Vista") na nova comédia "Virando a Página", estrelada por Hugh Grant (seu colaborador habitual) e Marisa Tomei. Afinal, o filme, que estreia nesta quinta (25), fala de seu próprio ofício, o de escrever roteiros para cinema, e deixa em aberto possíveis comparações entre o produto e seu produtor.

Grant faz o papel de um roteirista, Keith Michaels, conhecido mundialmente por um sucesso na década de 1990, um drama teológico chamado "Paraíso Fora de Lugar". Consagrado na época, desde então não teve a mesma sorte em Hollywood e se vê obrigado a dar aulas em uma universidade pública no interior dos EUA para pagar as contas.

Sua agente Susan (Caroline Aaron) vê aí uma possibilidade de inspiração, mas Michaels não tem qualquer preparo ou vontade de dar aulas, a ponto de escolher suas estudantes pela beleza.

Apenas a aluna mais velha Holly (Tomei), com anos de experiência, percebe as inseguranças do novo professor, tornando-se o catalisador de sua transformação e fortalecimento. O que em linguagem popular significa "dar a volta por cima".

Ao mesmo tempo que uma breve análise da filmografia de Lawrence —e suas comédias românticas— dê pistas para o desfecho desta história, também faz um paralelo do que se vê na tela. Na voz de Michaels, ele questiona a indústria, vitimiza o papel do roteirista, à mercê da obsessão jovem dos produtores, critica a falta de espaço para o criativo e defende que os melhores trabalhos vêm de experiências do próprio autor.

Colocadas sob essa perspectiva, suas realizações medianas "Forças do Destino" (1999), "Cadê os Morgans?" (2009) ou mesmo "Letra e Música" (2007), levantam dúvidas sobre a coerência de seu discurso com sua prática.

Em outro plano, está o próprio Hugh Grant, celebrado internacionalmente por "Quatro Casamentos e Um Funeral" (1994), quando recebeu o Globo de Ouro e o Bafta como melhor ator. Embora seja um astro inglês inconteste, jamais repetiu o êxito, tal como o de seu personagem, o que pode ser considerada aqui uma ironia fina.

Em um filme que defende (em tom professoral) tanto a construção de personagens, surpreende a falta de cuidado.

Caricaturais, é possível encontrar o nerd apaixonado por "Star Wars", a estudante coração de pedra que se emociona por "Dirty Dancing - Ritmo Quente", a acadêmica pró-empoderamento feminino pela visão de Jane Austen, a ninfeta sexy, entre outros lugares comuns. O que aproveita mal a participação especial dos excelentes J.K. Simmons e Allison Janney.

Sobra ao espectador a combinação do talento de Grant e Tomei para levar o filme. Em especial o da atriz, que dá suavidade ao papel de mãe trabalhadora, independente, que, por sua lição de vida (outro clichê), levará o protagonista a uma nova perspectiva. Assim, "Virando a Página" pode ser uma aula sobre cinema, desde que colado sobre o prisma da ironia e do anti-exemplo.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb