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"Rainha & País" retrata amadurecimento do protagonista de "Esperança e Glória"

Neusa Barbosa

Do Cineweb, em São Paulo

24/06/2015 15h47

Voltando ao baú de suas memórias pessoais, que rendeu o delicioso "Esperança e Glória" (1987), em que visitou sua infância durante a Segunda Guerra Mundial, o diretor e roteirista britânico John Boorman recria agora memórias de sua juventude em uma nova comédia dramática, "Rainha & País". O filme estreia nesta quinta (25).

Seu alter ego e protagonista, Bill Rohan, tem 18 anos (interpretado por Callum Turner, da série "Os Bórgias"). Nos anos 1950, ele é obrigado a deixar de lado os estudos e seus longos dias de natação ao ser convocado para o Exército, num tempo em que acontecia a guerra da Coreia.

Mas Bill, assim como seu melhor amigo, o inquieto Percy (Caleb Landry Jones), não são mandados ao front. Ficam num quartel, encarregados de conduzir aulas de datilografia para recrutas da mesma idade que, tanto quanto eles, querem mais é se divertir.

Um obstáculo constante é o sargento Bradley (David Thewlis), oficial apegado às entrelinhas dos regulamentos, sempre disposto a reportar a menor falha dos meninos junto ao superior, o major Cross (Richard E. Grant). Nem mesmo Cross tem paciência para tanto rigor mas, mesmo assim, Bradley não dá trégua.

Por conta dessa marcação cerrada e também do tédio da vida militar é que o travesso Percy acaba planejando o roubo de um relógio muito caro aos oficiais, colocando numa séria confusão tanto a si mesmo quanto Bill e ainda mais Redmond (Pat Shortt), outro soldado gordinho e muito malandro, que evita serviço pesado alegando um vago problema nas costas.

A ida para a guerra é uma ameaça iminente, nunca cumprida, o que contribui para o desânimo dos rapazes, ainda mais devido a uma outra ansiedade permanente, em torno do início de sua vida amorosa.

Nas folgas, Bill e Percy saem com enfermeiras, como Sophie (Aimee-Ffion Edwards), que flerta com um e outro. Mas Bill se enamora de uma estudante, que ele chama de Ophelia (Tamsin Egerton) e que é mais fonte de angústia do que de realização. A moça tem outro namorado, mas a concorrência parece estimular ainda mais o romântico Bill.

Como em "Esperança e Glória", Boorman alterna constantemente o clima, entre alegria e melancolia, drama e comédia, paixão e perda, alternando estes momentos no retrato de seus personagens e de seu entorno como o ambiente familiar de Bill, que é revelado numa saborosa sequência, em que Percy será apresentado à irmã casada do amigo, Dawn (Vanessa Kirby).

Detalhes do casamento dos pais de Bill (Sinéad Cusack e David Hayman) entram na trama, que flui em torno do amadurecimento atribulado do rapaz encarnado com sutileza pelo ator Callum Turner. Já Caleb Landry Jones injeta um tanto de "overacting" no seu elétrico Percy há momentos em que um tom abaixo na interpretação lhe serviria melhor.

Não é necessário ter visto "Esperança e Glória" para aproveitar esta história, que se desenvolve independentemente daquela primeira, mantendo com esta um parentesco inegável, em termos de delicada nostalgia, irreverência, desacato à ideia de autoridade e drama à espreita onde às vezes não se espera.

O veterano Boorman, de 82 anos, continua com boa mão como diretor.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb