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Novo "Exterminador do Futuro" reinventa passado e futuro da franquia

Alysson Oliveira

Do Cineweb, em São Paulo

01/07/2015 18h11

O ano é 1984, e Sarah Connor é uma garçonete tentando pagar seus estudos. Assim a define John Connor (Jason Clarke) no futuro, prestes a mandar um aliado --na verdade, como sabe qualquer um que conheça a série "O Exterminador do Futuro", o seu pai, Kyle Reese-- para aquela época, a fim de evitar que a moça seja exterminada por um ciborgue interpretado por Arnold Schwarzenegger.

Até aí, "O Exterminador do Futuro: Gênesis", o quinto filme da série, que estreia nesta quinta (2), segue mais ou menos alinhado com o que se sabe até então sobre o enredo da franquia.

Mas teremos algumas reviravoltas. Sarah não é mais interpretada por Linda Hamilton, mas pela inglesa Emilia Clarke (da série "Game of Thrones"), e Kyle, pelo australiano Jai Courtney ("Divergente"). Essas, na verdade, são as menores transformações. Ao chegar nos anos 1980, o rapaz descobre que a moça não é mais uma indefesa garçonete e que tem o androide vivido por Schwarzenegger como seu principal protetor --e ela ainda o chama de "Papi".

A dupla de roteiristas do filme, Laeta Kalogridis e Patrick Lussier, e seu diretor, Alan Taylor ("Thor: O Mundo Sombrio"), subvertem o tempo e a mitologia da série, recriando (quase do zero) a narrativa. O fato de a chegada do Exterminador a 1984 ser idêntica à que acontece no primeiro filme (não por acaso, lançado naquele mesmo ano) é apenas um truque para mostrar que a história pode ser reescrita pelos vencedores.

"Gênesis" combina alguns elementos do primeiro filme com outros do segundo, ambos dirigidos por James Cameron, ignorando os fatos mostrados no terceiro e potencializaando a transformação do homem em máquina, tema do quarto longa (do qual Schwarzenegger não participou) --algo muito beneficiado aqui pelos efeitos digitais.

Cerca de 3 milhões de pessoas morreram em 29 de agosto de 1997, dia do Juízo Final, quando a empresa Skynet providenciou o seu apocalipse, tomou o poder e oprimiu os humanos. Três décadas depois, as máquinas estão perdendo a guerra, graças à liderança do revolucionário John, cujo rosto está marcado pelas cicatrizes dessa batalha. Ciente dessa derrota, a Skynet envia um exterminador para matar Sarah. E os rebeldes mandam Kyle para evitar que isso aconteça. No minuto em que o rapaz está sendo enviado para o passado, algo acontece com o líder, e tudo será alterado.

Camadas de tempo

É preciso entrar na lógica das camadas de tempo propostas pelo filme para que sua trama funcione. Ao seu modo, tudo faz sentido, por mais que as viagens no tempo pareçam aleatórias e despropositadas. Talvez nada seja muito coerente para quem não é familiarizado com a série e com suas mitologias --embora, na verdade, este filme parta de uma reescritura de tudo isso.

Agora, o apocalipse da Skynet foi adiado para 2017, e é para lá que Sarah e Kyle (que ainda não sabe que será o pai de John) precisam ir. O Exterminador, ou melhor, Papi, os ajuda na viagem e passará as três décadas esperando pela chegada deles. No futuro ao qual chegam, a Skynet domina o mundo. Tudo está sincronizado, de modo que ela possa ter acesso a todos os dados de todas as pessoas. Em poucos dias, a rede lançará uma novidade, que é apresentada como uma criança crescendo. Relógios espalhados pelo mundo fazem a contagem regressiva para o dia do apocalipse.

A partir daí, "Gênesis" subverte a narrativa da série, dando novo perfil aos personagens, reescrevendo a história. A questão é: quem domina essa reescritura? Em outras palavras: Quem é o vencedor? Se o papel de John muda radicalmente, de quem depende, então, o futuro da humanidade? E se Kyle e Sarah não se "acasalarem" (usando as palavras de Papi)? O filme, às vezes, desperdiça algumas dessas possibilidades e perde um pouco da energia e do potencial em sua segunda metade. Ainda assim, porém, reflete o seu tempo.

Schwarzenegger, curiosamente, serve como uma espécie de alívio cômico aqui. Seu lema é "Velho, mas não obsoleto", e, encarnando muito bem o espírito da sociedade tecnológica de nossa época, pautada pela obsolescência programada --quando eletroeletrônicos se tornam rapidamente defasados (embora, a rigor, funcionem perfeitamente), a ponto de alavancar um consumo desenfreado.

A dominação da máquina em nosso tempo é a demanda incessante de trocar equipamentos que se tornam "descartáveis" cada vez mais cedo. Nesse sentido, o verdadeiro revolucionário e "líder" da resistência é o próprio Exterminador.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb