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"Neruda" relembra fuga e clandestinidade do poeta chileno em 1948

Neusa Barbosa

Do Cineweb, em São Paulo

08/07/2015 15h43

Um episódio não muito conhecido da vida do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) inspira a ficção "Neruda - Fugitivo". Dirigida com reverência por Manuel Basoalto, o filme tem o mérito de resgatar um período de clandestinidade e grande perigo na vida de Neruda, em 1948, quando ele era senador e teve que fugir da perseguição do presidente chileno González Videla, que colocara na ilegalidade o Partido Comunista, ao qual pertencia o poeta-senador.

O filme estreia nesta quinta (9) em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Belo Horizonte e João Pessoa. Há muito respeito no tratamento do tema, mas o longa esquiva-se de maiores polêmicas.

Neruda (na maturidade, interpretado por José Secall) é tratado como figura incontestada, dono de uma verve apurada, que responde aos desmandos e traições de González Videla (Max Corvalán) eleito com o apoio dos comunistas com um discurso à altura de seu talento literário, "Eu Acuso", lembrando o título da famosa carta do escritor francês Émile Zola em defesa do perseguido capitão Alfred Dreyfuss, publicada em 1898.

O roteiro, também de autoria de Basoalto um parente distante do poeta, prefere ater-se mais aos aspectos pessoais do que a controvérsias políticas, exceto a pública e notória perseguição aos comunistas, compondo um personagem bondoso e bonachão, capaz de se integrar sem dificuldades a qualquer ambiente popular ou camponês.

Assim, a narrativa acompanha a fuga de Neruda, escapando de uma possível morte, ajudado por diversos militantes pelo Chile alguns deles, caindo prisioneiros ao longo do caminho.

Enquanto se esconde, Neruda escreve poemas, que depois serão lidos em uma de suas grandes obras, Canto Geral. O filme se vale de vários flashbacks para situar a formação do poeta, filho de camponeses que encontrou a poesia como vocação e o pseudônimo que se tornaria seu nome oficial (ele nasceu Ricardo Eliécer Neftali Reyes Basoalto) a partir da admiração ao poeta tcheco Jan Neruda.

Por seu registro contido, sem ousadias formais, com interpretações um tanto solenes, o filme se assemelha, às vezes, a uma produção para televisão, em que o caráter informativo termina predominando.

Não deixa de ser útil àqueles que se interessam pela história do poeta, que relembrou a fuga deste filme, concluída por uma perigosa travessia dos Andes a cavalo, rumo à Argentina, no seu discurso de aceitação do prêmio Nobel, em 1971.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb