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Técnica excepcional ilumina animação sobre conto japonês

Rodrigo Zavala

Do Cineweb, em São Paulo

15/07/2015 16h31

Depois de um trabalho de oito anos, e mais de 120 milhões de reais de orçamento, chega ao público "O Conto da Princesa Kaguya", obra máxima do diretor veterano japonês Isao Takahata. Num belíssimo trabalho manual, com pinceladas quase etéreas, o animador e roteirista de 78 anos traz aqui uma refinada parábola sobre a condição humana.

Indicado ao Oscar de melhor animação deste ano (vencido pelo poderoso "Operação Big Hero", da Disney), o longa é baseado na que é considerada a mais antiga narrativa do Japão, datada do século 10. Uma história popularíssima por lá, que já chegou a ser adaptada aos cinemas na década de 1980 por Kon Ichikawa, em seu "Princess from the Moon" (a princesa da lua).

Embora se mantenha fiel à narrativa mais clássica, Takahata introduz alguns personagens e altera determinadas situações para dar mais transparência à alegoria, ao materialismo e à construção das relações humanas. Mudanças pensadas com a mesma qualidade de sua pintura, que se abre na tela como um pergaminho oriental milenar.

Nesta versão, o cortador de bambu Okina encontra uma criança (na verdade, uma espécie de ninfa do tamanho de um polegar) dentro de um bambu brilhante. Mas não demora muito para a pequena maravilha se transformar em um bebê, que é milagrosamente alimentado pela esposa do cortador.

Como cresce exponencialmente, a criança logo vira uma menina e, em seguida, uma linda jovem, que desperta a atenção do caçador Sutemaru (uma novidade na narrativa, que se torna um interesse amoroso da garota). Pela beleza, o pai adotivo logo a chama de princesa. Quando encontra ouro também misteriosamente em um bambu mágico, consegue levar Kaguya à cidade.

É neste ponto que a história muda. Da ingenuidade idílica, a princesa passa a conviver na corte e, com isso, por um processo de reeducação. O que a transforma em uma dama e o que define felicidade nessa sociedade que não conhece são questões com que terá de lidar, enquanto seu pai a empurra para um casamento arranjado.

Como não ama seus pretendentes, cinco nobres, ela exige façanhas hercúleas para conceder sua mão, tal como tenta se desvencilhar das investidas do próprio imperador, obcecado por sua beleza. Mas a delicada e emotiva princesa sabe que não pertence a este mundo e logo sua origem irá cobrar o que lhe pertence.

Isao Takahata faz aqui uma obra primorosa, em aquarela, explorando cada traço de emoção que evoca em sua narrativa. Um trabalho que não pode ser considerado apenas infantil, pelo requinte de suas pinceladas e metáforas universais.

O filme estreia nesta quinta (16) em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza apenas em cópias legendadas, mantendo-se o áudio original japonês.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb