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ESTREIA-Documentário resgata vida e morte de guerrilheiro do Araguaia

09/12/2015 17h41

SÃO PAULO (Reuters) - O documentário “Osvaldão” é a crônica de um desaparecimento, a reconstrução das memórias que cercam o nome de Osvaldo Orlando da Costa (1938-1974), o guerrilheiro do Araguaia que em vida foi uma espécie de lenda. Na tela, algumas de suas cartas ganham narrações do rapper Criolo e do ator Antônio Pitanga.

O filme estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador.

Mineiro de Passa Quatro, alto (1,98m), forte, bicampeão de boxe, capaz de atirar com as duas mãos e tido como “homem invisível” ou “de corpo fechado”, por escapar às balas do Exército que o perseguiu nas matas do sul do Pará, Osvaldo foi um homem de estudo e de ação. Na escola, era forte no latim e no francês e cursou Engenharia na então Tchecoslováquia.

São desse período tcheco as imagens de arquivo mais curiosas do documentário, mostrando Osvaldo, único negro entre estudantes de várias partes do mundo, em 1961, nas aulas do idioma local e dançando ritmos brasileiros com colegas.

Muitas fotos dão conta do semblante aberto e franco do menino que, segundo parentes, tinha medo do escuro e de ratos, e do jovem, que se tornou líder de uma revolta estudantil no Rio – onde foi estudar na Escola Técnica Nacional -, em resposta à morte de um colega, atropelado por um ônibus, e que foi uma das primeiras manifestações de sua militância. Acompanhou-o nesta rebelião Eduardo Pomar, que também foi à Tchecoslováquia.

Na crise política que começava a abalar o governo João Goulart, em 1962, Osvaldo ainda estava no exterior. Depois também iria à China, para um treinamento de guerrilha. Ao voltar, clandestino, em 1966, vem preparar a guerrilha que ocupou o resto dos dias de uma vida breve.

O documentário reconstitui o perfil de seu protagonista a partir dos relatos de amigos, parentes e também de camponeses, garimpeiros e índios suruí que dividiram seu cotidiano no Araguaia, a princípio sem saber qual era sua verdadeira missão.

Até porque Osvaldo se empenhava em trabalhos como a agricultura e o próprio garimpo – em 1966, ele e as companheiras de guerrilha “Sônia” (Lúcia Maria de Souza) e “Dina” (Dinalva Oliveira Teixeira) descobriram uma rica reserva de minérios, registrando a área em nome da empresa mineradora Xingu Ltda, um registro que desapareceu, tanto quanto os corpos da maioria dos guerrilheiros da região, ainda hoje reclamados por suas famílias.

Nunca capturado, Osvaldão foi morto e seu corpo, exibido sobre a região, pendurado num helicóptero. Depois, foi enterrado por um companheiro, que dá seu depoimento no filme. Nem seu corpo, nem seu filho Giovani, de quatro anos na época, que foi levado por militares, jamais apareceram.

Dirigido por quatro diretores – Vandré Fernandes, Ana Petta, André Michiles e Fábio Bardella -, o filme deve sua finalização a uma campanha de arrecadação de fundos via Internet, que levou cerca de dois anos.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb