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17/02/2005 - 10h45
Direito de morrer em "Menina de Ouro" provoca polêmica nos EUA

Por Rocío Ayuso
Los Angeles (EUA), 17 fev (EFE).- O sucesso de "Menina de Ouro", filme indicado a sete Oscars, gerou uma polêmica entre os conservadores, que têm problemas morais com o final do filme, e os amantes do cinema, que não querem saber antecipadamente qual é o fim da história.

A mais recente produção de Clint Eastwood é aparentemente inocente e se passa no mundo do boxe, mas seu sucesso em termos de crítica e de prêmios chegou de surpresa.

Além disso, Eastwood tem uma característica clássica e sempre foi mais próximo da ideologia republicana, sendo até amigo íntimo do falecido presidente Ronald Reagan.

No entanto, a próxima edição do Oscar, no dia 27 de fevereiro, provocou uma polêmica com a qual os pugilistas têm muito pouco a ver.

De um lado, estão os críticos conservadores, como Rush Limbaugh e Michael Medved, que, com o apoio de grupos como a Associação Nacional de Afetados na Espinha Dorsal, detestam o final de "Menina de Ouro".

Na outra ponta, estão os amantes do cinema, que estão indignados com o comportamento deste citado grupo. Como resumiu o comentarista Roger Ebert em sua coluna, "os críticos não têm direito de revelar o final de um filme".

E no centro de toda essa polêmica, está a questão da eutanásia.

Em "Menina de Ouro", o velho treinador interpretado por Eastwood tem de decidir se dá um fim à vida da boxeadora que levou à fama e sempre considerou como uma filha, papel de Hilary Swank, também indicada ao Oscar.

No início, o filme se parece mais com "Rocky", mas uma transformação no meio da história faz com que se aproxime mais da produção espanhola "Mar Adentro".

A imprensa mais conservadora descreve o filme de Eastwood como uma espécie de "Million Dollar Euthanasia Movie", um trocadilho com o nome original da fita ("Million Dollar Baby").

Além disso, algumas associações de defesa de portadores de paralisias se juntaram às críticas, como o grupo "Not Dead Yet" (ainda não estamos mortos), que acusa o filme de "confirmar os piores estereótipos".

"O filme diz que a morte é melhor que uma invalidez", disse à imprensa Marcie Roth, em nome da Associação Nacional de Afetados na Espinha Dorsal.

Para este grupo, "Menina de Ouro" é uma "vingança pessoal" de seu diretor, produtor e protagonista contra os paralíticos.

Em seu site (www.spinalcord.org), a associação lembra a denúncia apresentada em 1997 contra Eastwood por não dar acesso a portadores de necessidades especiais em seu hotel em Carmel (Califórnia). No entanto, o tribunal tomou sua decisão a favor do ator.

Tanta polêmica já começou a afetar outros filmes indicados ao Oscar, como o espanhol "Mar Adentro", do diretor Alejandro Amenábar, que concorre na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

Na opinião de Stephen Drake, do grupo "Not Dead Yet", "ambas as produções se afundam num estereótipo de que um portador de necessidades especiais não pode viver uma vida que valha a pena".

Em sua passagem por Los Angeles, o ator espanhol Javier Bardem, que interpreta em "Mar Adentro" o papel de Ramón Sampedro, um paraplégico que lutou pelo direito de uma morte digna, não teve nenhuma dúvida sobre o conteúdo de seu filme.

"Eu já sabia que este tipo de produção estimula debates, e gosto disso", afirmou o ator.

Por enquanto, Eastwood se mantém à margem da disputa. Ele esclarecer apenas que não está a favor da eutanásia, mas que se manteve fiel à história escrita por F.X. Toole.

"Não faço proselitismo. Só conto uma história. Também já interpretei o papel de um personagem que saía por aí disparando com uma pistola Magnum, o que não quer dizer que as pessoas devam fazer isso", declarou o diretor à imprensa.

Em meio a toda esta polêmica, os amantes do cinema só querem ver o filme em paz, e Eastwood dá a razão a eles.

"Qualquer filme é melhor quando não se sabe seu final. No entanto, não há problemas de saber como acaba 'A Paixão de Cristo'", disse Eastwood em referência ao filme de Mel Gibson sobre a crucificação e a morte de Jesus Cristo.


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