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25/01/2005 - 13h59
Walter Salles descobre suas origens em "Diários de Motocicleta"

Por Fernanda Ezabella

SÃO PAULO (Reuters) - O cineasta Walter Salles passou a vida entre Washington, Paris e Rio de Janeiro. E foi só depois de cinco anos trabalhando em cima do filme "Diários de Motocicleta" que o diretor percebeu qual era a sua verdadeira casa: a América Latina.

"Antes eu me sentia distante daquilo que é ser latino-americano. Entendia isso intelectualmente, mas não emocionalmente", disse Salles à Reuters na época do lançamento do filme, em maio, em um hotel de São Paulo.

"Diários" recebeu duas indicações ao Oscar nesta terça-feira, uma de melhor roteiro adaptado e outra de melhor canção por "Al Otro Lado Del Río".

O filme traz Ernesto "Che" Guevara de la Serna aos 23 anos, em 1952, partindo para uma viagem com seu amigo Alberto Granado, um jovem bioquímico de 29 anos, por vários países latino-americanos.

O projeto levou cinco anos para ficar pronto, entre pesquisas, viagens e entrevistas com a família Guevara e com o próprio Granado, hoje com mais de 80 anos. O filme é baseado nos livros "De Moto pela América do Sul", de Guevara, e "Con El Che por Sudamérica", de Granado.

"Só visitando e atravessando esses países um a um que você entende verdadeiramente da onde é que você vem. Foi uma viagem iniciática para todo mundo (que participou no filme)", continuou Salles. "A minha casa alargou, ficou maior."

O diretor veio a São Paulo junto com Alberto Granado, além dos atores Gael García Bernal (que interpreta Ernesto) e Rodrigo de la Serna (que faz o papel de Alberto). Rodrigo, aliás, é primo de segundo grau do próprio Che.

"Salles e os dois atores entraram com profundidade no espírito dos diários tanto como eu e Ernesto. Era o espírito da aventura, do descobrimento", disse Alberto Granado a jornalistas.

ERNESTO ANTES DE VIRAR CHE

A viagem começa como uma aventura, mas se transforma completamente conforme os dois jovens vão se deparando com a realidade social e econômica dos países visitados. Foram mais de 30 locações de filmagens, entre Argentina, Chile e Peru.

Nesse momento, o filme chega a deixar a ficção de lado para investir em um tom mais documental. Os atores usam da improvisação para conversar com alguns trabalhadores que eles cruzam pelo caminho.

A viagem dura oito meses e tem como ápice a chegada ao Leprosário de San Pablo, na Amazônia peruana, onde os dois trabalham por três semanas.

É aqui, no discurso de despedida no qual Ernesto fala da importância da união da América Latina, um dos pontos mais fortes a dar ao espectador um vislumbre do que seria o futuro deste jovem.

Três anos depois, ele conheceria Fidel Castro e, mais quatro anos, junto a Fidel, lideraria a Revolução Cubana.

Salles disse que não queria nem mistificar, nem desmistificar a imagem de Che. "A idéia é que esse filme fizesse com que as pessoas se interessassem não pela camiseta (do Che), pelo objeto de consumo, e sim pelo o que esse cara dizia, pensava", disse o diretor.

"Com isso, acho que a gente vai ter concluído uma pequena missão que é a de aproximar esse personagem das pessoas."

"Diários de Motocicleta", financiado na Grã-Bretanha e França, participou do Festival de Sundance de 2004 e concorreu à Palma de Ouro em Cannes no mesmo ano.

No Oscar, o filme irá concorrer na categoria roteiro adaptado com "Antes do Pôr-do-Sol", "Em Busca da Terra Perdida", "Menina de Ouro" e "Sideways -- Entre Umas e Outras".

Na categoria melhor canção, "Al Otro Lado Del Río", do uruguaio Jorge Drexler, disputa com "Accidentally In Love" ("Shrek 2"), "Believe" ("O Expresso Polar"), "Learn To Be Lonely" ("O Fantasma da Ópera") e "Look To Your Path (Vois Sur Ton Chemin)" ("The Chorus").

O trabalho foi indicado também a vários outros prêmios importantes. Na segunda-feira, o longa recebeu a indicação ao Oscar francês, o César, de melhor trabalho estrangeiro.


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