06/03/2006 - 17h35 Oscar para "Capote" coroa onda de redescoberta do escritor Alberto Masegosa Nova York, 6 mar (EFE).- O Oscar dado a Philip Seymour Hoffman por sua interpretação do escritor Truman Capote, no filme "Capote", é a ponta do iceberg do interesse surgido nos Estados Unidos por um autor que nunca esteve tão na moda desde que morreu, há 22 anos.
Além do filme que rendeu a estatueta a Seymour Hoffman, a "capotemania" inclui a estréia de outro filme, a publicação de vários livros e até a recriação das famosas festas que eram organizadas pelo precursor do "novo jornalismo".
"A maior parte das pessoas que escrevem qualquer coisa hoje em dia deve algo a Capote", escreveu recentemente Davir Carr no jornal "The New York Times" em alusão à técnica jornalística do escritor, que nos anos 60 foi considerada "revolucionária".
Com a máxima de que "os detalhes revelam melhor que tudo as coisas importantes", Capote podia começar uma reportagem sobre um julgamento chamando a atenção do leitor para o brilho do anel do juiz em vez de informar diretamente sobre a sentença.
Esse tipo de recurso foi empregado depois por autores famosos, como Norman Mailer e Tom Wolfe, que, como Truman Capote, elevaram o jornalismo à categoria de literatura.
Mas sua influência e o sucesso de romances como "A sangue frio" e "Bonequinha de luxo" - ambos levados ao cinema - não impediram que Truman Capote morresse em 1984 criticado por seus colegas, esquecido por seus amigos e quase afundado no anonimato.
Sua homossexualidade e o abuso do álcool e das drogas não o ajudaram, sobretudo durante seus últimos anos, a conquistar boa fama em alguns setores. Capote acaba de recuperar, no entanto, o lugar de destaque que, segundo confessava, sempre perseguiu em sua vida, e alcançou em alguns momentos de sua existência. Pelo menos dois filmes e três publicações fazem dele um nome atual.
Depois de "Capote", protagonizado por Seymour Hoffman, estréia em breve outro filme baseado no escritor, "Infamous", que conta, entre outras, com as interpretações de Gwyneth Paltrow, Sigourney Weaver e Sandra Bullock.
No mundo editorial, a publicação em outubro de 2005 de sua primeira novela, "Summer Crossing" - que escreveu aos 19 anos e permanecia inédita, já que nunca a publicou por considerá-la de baixa qualidade -, foi seguida algumas semanas depois pela reedição de suas crônicas.
E a onda de interesse por Capote permitiu que em fevereiro a jornalista Deborah Davis pudesse publicar finalmente sua obra "A festa do século", inspirada numa das festas suntuosas nas quais o escritor reunia a alta sociedade nova-iorquina.
"Há três anos levo o livro aos editores e a maioria perguntava quem queria saber de Capote" confessa Davis. Ela afirma que para o autor, nascido em Nova Orleans mas apaixonado por Nova York, a vida social era tão importante quanto a arte de escrever.
A festa, celebrada em 1966 no hotel Plaza - então o mais caro e luxoso da cidade -, recebeu 500 convidados, entre eles Frank Sinatra, Andy Warhol e Lee Radziwill, irmã de Jacqueline Kennedy, amiga de Capote.
Aproveitando a "capotemania", a casa de leilões Christie's anunciou para a próxima semana uma festa na qual tentará de reproduzir o ambiente daquela época.
Uma porta-voz da firma, Tate Swan, disse à EFE que foram convidadas 700 pessoas, "entre as quais há de tudo, políticos, artistas, empresários e escritores. No fim das contas, o que consideramos ser a flor e nata da atual sociedade nova-iorquina".
Como na festa original organizada por Capote, na da Christie's as mulheres deverão vestir-se de branco e preto e ocultar o rosto com uma máscara, enquanto os homens terão que usar fraque.
Segundo Swan, personagens da alta roda e das finanças, como David Bowie, sua mulher, Iman, e Donald Trump, já confirmaram sua presença na reunião, cujo pretexto é, segundo a porta-voz de Christie's, recriar "o glamour do Plaza" - hoje fechado -, algo que Truman Capote fez como poucos. | |