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07/02/2006 - 16h58
Tempo de Oscar: Sobre pingüins e ursos na categoria documentário
AMIR LABAKI
Especial para o UOL

Os pingüins marcham também para o Oscar? Não é tão certo assim, apesar de o documentário "A Marcha dos Pingüins" ter arrecadado nas bilheterias americanas mais do que todos os concorrentes a melhor filme, incluindo "O Segredo de Brokeback Mountain".

Nenhuma categoria gerou mais controvérsia interna na Academia na última década do que a dos documentários. Várias reformas no processo de seleção tentaram há quase meia década varrer os maus ventos. Chegou-se a discutir a possibilidade de excluir a categoria da festa principal, transferindo-a para a entrega prévia de prêmios técnicos e científicos, e de acabar com o Oscar para documentários curtos.

Longas não-ficcionais ganharam uma lista de pré-selecionados, 15 neste ano, escolhidos pelo comitê de documentários da Academia. Tradicionalmente co-produzidos por TVs européias, como a BBC, e americanas, como a HBO e a PBS, exige-se rigorosamente que o documentário tenha sua estréia em salas de cinema em Los Angeles ou Nova York, por ao menos uma semana, antes de qualquer exibição televisiva, mesmo do outro lado do Atlântico.

As mudanças reduziram, mas não eliminaram as críticas. Documentários
marcantes para a recente revalorização do gênero, como " "Roger & Eu" (1989), de Michael Moore, e "Basquete Blues" (1994), de Steve James, nem sequer foram indicados.

O esquecido do ano é "O Homem-Urso", de Werner Herzog, o mais aclamado filme do cineasta alemão desde os anos 70, sobre o trágico destino de um apaixonado por ursos. Herzog nem ao menos ficou entre os 15 finalistas. "Não teve votos suficientes", explicou sucintamente ao "The New York Times" o diretor Arthur Dong, membro do comitê de documentários e da direção da Academia.

"Não é que eu não ligue", comentou Herzog sobre a exclusão. "Vi isso
acontecer com muita freqüência em minha carreira. Por exemplo, 'Aguirre, A Cólera dos Deuses' (1972) foi recusado pelo Festival de Cannes e recebeu críticas na imprensa alemã como o pior filme da década -e resistiu ao teste do tempo. Estou muito, muito feliz com 'O Homem-Urso', pois conquistou as melhores resenhas do ano e teve um ótimo público. O que mais posso pedir?", afirmou o diretor.

"O Homem-Urso" deve desembarcar nas telas brasileiras em cerca de dois meses. Mas a maioria dos cinco longas indicados ao Oscar de mellhor documentário este ano não deve chegar ao país.

"A Marcha dos Pingüins" continua em cartaz. Ultrapassou por aqui a marca de 170 mil espectadores, o que é muito para um documentário e pouco frente ao sucesso mundial. É de longe o mais popular dos indicados, mas isso não garante o Oscar ao francês Luc Jacquet. "Super Size Me" também foi um fenômeno no ano passado mas, como lembrou na última semana Steve Pond do "Los Angeles Times", o prêmio acabou mesmo com o miúra "Born into Brothels", sobre a prostituição infantil em Calcutá.

Três outros concorrentes foram exibidos no Brasil apenas em ciclos
especiais. Discutindo a importância do esporte para a vida dos paraplégicos, "Murderball", de Henry Alex Rubin e Dana Adam Shapiro, passou na Mostra Internacional de São Paulo.

Já "O Pesadelo de Darwin", do austríaco Hubert Sauper, que trata de poluição industrial na Tanzânia, foi exibido numa mostra de inéditos europeus na Cinemateca Brasileira. "Enron", de Alex Gibney, sobre um dos maiores escândalos corporativos de todos os tempos nos EUA, foi exibido no Festival Internacional de Brasília no ano passado. Totalmente inédito por aqui apenas "Street Fight", em que Marshall Curry acompanha uma batalha eleitoral pela prefeitura de Newark, Nova Jersey.

O fato de a saga dos pingüins ter sido vista por um número muito maior de
acadêmicos não a torna automaticamente favorita. É preciso ter assistido a todos os cinco indicados para votar nesta categoria.

Essa regra ultra-restritiva, e justíssima, vale apenas para os prêmios para documentários longos, curtas documentais, ficcionais e de animação e filmes de língua não-inglesa. É bom Luc Jacquet não comemorar antes. Até Wim Wenders já teve de levar o discurso de volta para casa , ao perder em 2000 com "Buena Vista Social Club".
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