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01/03/2006 - 11h39
Tempo de Oscar: George Clooney apresenta cerimônia e concorre a três prêmios
AMIR LABAKI
Especial para o UOL

George Clooney nunca foi ao Oscar. Debuta neste domingo. Apresentará um prêmio e concorrerá em três categorias. Não levará o Oscar que preferiria: o de melhor diretor, por "Boa Noite e Boa Sorte", sua rigorosa e oportuníssima reconstituição do embate televisivo que catalisou a aceleração do fim do macartismo.

"Boa Noite e Boa Sorte" concorre em cinco outras categorias. Deve perder em todas. Pena. Fala mais de hoje do que de ontem. A traição do potencial democrático e iluminista da televisão como meio de comunicação está todo lá.

Olhe em torno. Edward R. Murrow, estupendamente interpretado por David Strathairn, cantou a bola antes. Meio século atrás.

Clooney já visitara o mesmo universo em seu filme de estréia como diretor, "Confissões de uma Mente Perigosa" (2002), sobre um animador de programas populares de TV, Chuck Barris, que nas horas vagas trabalharia para a CIA. É uma tragicomédia com mais atmosfera que ritmo.

O clima de paranóia e mistificação se adensa em "Boa Noite e Boa Sorte". Desde Robert Redford um galã de Hollywood não se tornava tão bom diretor.

O sólido roteiro, redigido a quatro mãos com o produtor Grant Heslov, lhe valeu a segunda indicação. Corre por fora. Concorre, entre outros, com o de "Crash - No Limite", um mosaico das tensões raciais na Los Angeles de hoje, assinado por Paul Haggis (e Bobby Moresco), o mesmo que perdeu no ano passado por "Menina de Ouro" (2004) de Clint Eastwood. Haggis é, desta vez, favoritíssimo.

A terceira indicação é a que deve valer o Oscar a Clooney. Como um decadente e perseguido agente da CIA no Oriente Médio, é a figura central de "Syriana - A Indústria do Petróleo".

Clooney também co-produziu a estréia como diretor de Stephen Gaghan, que havia escrito "Traffic" (2001) para o amigo comum, Steven Soderbergh.

"Syriana" é a um só tempo um filme imperfeito e obrigatório. Trata com rara complexidade da teia de interesses da indústria internacional do petróleo. Parece desses raros dramas que ganharia, sobretudo em clareza, se fosse algo mais longo.

Apenas a breve cena em que um executivo faz uma enfática e persuasiva defesa da corrupção já vale o ingresso, lembrando o auge de "Wall Street" (1987) em que Michael Douglas proclama as qualidades da cobiça.

Uma chicana viabilizou o provável triunfo de Clooney no próximo domingo. Seu nome abre os créditos de intérpretes de "Syriana". É sem dúvida o protagonista, apesar da pulverização de enredos à moda Altman. Foi calculadamente indicado para concorrer como ator coadjuvante.
Engordou, deixou barba desgrenhada, abraçou um personagem de dúbia moralidade e contundiu-se feio numa poderosa cena de tortura. A Academia raramente resiste a tudo isso junto.

Controlado e sutil, é um belo desempenho. Não me parece o maior feito do ano de Clooney. Dois de seus concorrentes, Paul Giamatti em "A Luta pela Esperança" e Matt Dillon em "Crash", apresentam performances tão ou mais memoráveis. A história do Oscar sempre se escreveu por linhas tortas.
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